Incidental
Incidental
Escoras-te
Encontras pretextos
Para sua condição
Em um conceito torto
Podes não aceitar
Mas sei que deves saber
Não é só quem tu foste
Que justifica quem és
Naturalmente
Lá está ela, sentada em uma das mesas centrais do restaurante, à minha espera. Aquele seu olhar petrificado vai mudar assim que eu chegar lá, ah vai...
Será?
Só cinco minutos de atraso não podem tê-la deixado aborrecida... Ou podem?
Considerando que ela esteja um pouco irritada pelo meu (insignificante) atraso, então seria bom eu dizer algo que a impressione logo que eu chegar. Chega de “ois” e “olás”!
Vou ousar dessa vez. Só resta saber como. O que devo dizer?
Bom, um “desculpe o atraso” além de não ser ousado, vai lembrar o motivo daqueles olhos que vou enfrentar daqui a alguns segundos.
Quem sabe se eu disser “bela escolha a minha, não foi?”? Não, muito prepotente.
“Você está linda hoje” logo de cara vai ser muito invasivo...
Quem sabe só um belo sorriso não resolva essa situação? Eu sorrio para ela, ela sorri de volta para mim e aí tudo flui naturalmente. A não ser que ela diga:
- Não vai dizer nada?
Aí sim eu dou uma primeira impressão digna de um pesadelo.
E agora? Estou chegando, não há mais tempo para pensar no que dizer. Seja o que Deus quiser...
(Ela)- Oi! Tudo bem?
(Eu)- Tudo ótimo, e você?
(Ela)- Tudo bem.
(Eu)- Desculpe o atraso.
(Ela)- Sem problema, também cheguei há pouco. Bela escolha a sua, George. Muito bom mesmo esse restaurante.
(Eu)- Pensei em você quando escolhi... Devo te dizer que você está linda hoje.
Ela sorri para mim, eu sorrio de volta para ela.
E tudo flui naturalmente.
Lentamente
Lentamente
Lentamente
O espaço se torna privado
Os passos mais raros
Nos cubos que eram expressão
Passamos o dia
Adiando assumir
Que sabemos
Quem nos tornamos
Lenta
Mente
Statu Quo-tidiano
Statu Quo-tidiano
O frenesi das seis
Pelos túneis da insensatez
Obra de arte
A metamorfose costumeira
Das noites de sexta-feira
Meu baluarte
As antíteses poéticas
Os exercícios de dialética
Os sacrifícios pela estética
As quebras do código de ética
Hábitos, entretanto,
Estandartes
Estrada
Estrada
O cenário é uma estrada
Não que eu queira
Mas porque ela assim se fez diante dos olhos meus
Então me ponho a andar por ela
Na verdade, não posso controlar se ando ou não
Apenas por onde passo
É como se mesmo em repouso eu me movesse
A estrada não está vazia
Há grupos de pessoas indo na mesma direção
E um ou outro seguindo trilha única
E há gente refestelada no chão
É preciso perícia para não atingir-lhes com o pé
Sinto como se estivessem me observando
Por detrás de meus ombros
Então olho aos lados e percebo algo
Há um ser concentrado
Parece ler algum escrito
É você, caminhando ao meu lado, lendo-me.
Consolo
Assim como um erro
Cometido várias vezes
É ato de tolos
Perder
E não aprender nada
É não ter sequer o prêmio de consolo
George Melody
Sobre os inimigos internos
Sobre os inimigos internos
Ontem
Não me deixei dormir
Por alguém que mal conheço
Mas que havia me dito
Algumas palavras ternas
Ontem
Temi, tremi
Penso que em mim há uma parte
Que às vezes discorda da outra
E amargura o todo
Até ontem
Sabia exatamente quem eu era
Agora não sei mais...
Rosas
Rosas
Rosas podem ser rosas
Mas não necessariamente
Dez minutos
Dez minutos
O momento sem ti já não há
Tornou-se era
Os fragmentos se acareiam
Acometem-se
Acometem-me
Eu vejo azul
O palácio começa a ruir
Então, eis o antídoto
Que não me deixaste
Nem por dez minutos
Oswald
Oswald
Rodas em fila
As luas mecânicas de volta ao céu
Ao seu ego
Sexualizando as inocentes
Sentes?