Sombras
Restam sombras e sombras
Teres sido um dia, gente
Tal como gato amedrontado
Vives num mundo truncado
Na roda da vida desavindo
Não passas de um acanhado
De pão ganho com suor
Vives sem transpiração
Pedem-te alegria
de barriga vazia
Tiraram-te o certo
Vives no incerto
No teu olhar irmão
Impera a desilusão
Foi-se o emprego
Foi-se o teu pão
Qual pobre mendigo
Vives cerce ao chão
Homem de grande visão
Homem de bom coração
por uma qualquer razão
Reduziram-te a um pião
Sendo tudo tão indistinto…
Resta-te apenas o instinto
Filhos Distantes
- Mami, estás tão longe de mim
Porquê este viver assim?
- Meu bem, para teu bem
- Mami, meninos ensinas
Mas não cuidas de mim
- Meu bem, Não é bem assim
- Mami, tenho saudades de ti
- Meu bem, eu sei, que sim
- Mami, sinto solidão
- Para ti ganho o pão
- Mami, separaste-te de mim
- A vida fez-nos assim
- Mami, volta para mim
- Meu bem, eu nunca te esqueci
À distância ganho teu pão
Dou-te mimos do coração
- Não é o bastante, Mami
Quero sentir teus abraços
Teus beijos sedentos de mim
A ternura do teu olhar
Numa história ao deitar
- Mami, responde:
Quem vem tratar minhas feridas
Quem vem curar a minha angústia
Quem vem encher a ausência de ti
Quem vem limpar as lágrimas de ti
As Voltas da Vida
Sete anos,
Sete vidas,
Sete agonias
E de quanto te rias
No espelho reflectias
O ser que já não és
A mocidade que já não tens
O ser que almejavas perfeito
Mas desfeito de qualquer jeito
Sete anos
Me ignoraste
O mais que conseguiste
Foi um enorme desdém
Um ser que ficou aquém
Incapaz de amar alguém
Choras as vidas perdidas
As que te eram queridas
Andorinha andarilha
Nunca foste de arribar
O verbo amar ignoraste
Raízes nunca criaste
Querendo um dia voltar
Me pediste para te amar
Fizeste-me acreditar
Na oportunidade a dar
Santa arrogância!
De sete vidas passadas
que me amavas julgavas
Em tremenda ignorância
Foi-se toda a esperança
Vir a ser um dia o lar
Alguém a quem abraçar
Se eu voltasse a amar.
Tirania do Amor
Dizem-me as palavras
O que o coração não sente
Crendo em teu verbo amar
Facilmente me enganavas
O Quanto me amavas
Tu dizias e bradavas
Tão alto era teu grito
Que logo, me calavas
Inquieta tudo me parecia
Uma horrenda mentira
Tamanha era a vulgaria
Tudo menos o que queria
A verdade e a mentira
Coabitavam o teu verbo
Era tanta a mestria
Que as não separaria
Longa foi a confusão
Entre o ser e o parecer
Eis que um dia teu verbo
Mentira se revelaria
Eram apenas palavras
Que o coração não sentia
Que te amava, eu sabia
O mesmo de ti, não dizia
Com a verdade e a mentira
A ti mesmo, te enganavas
A mim, de ti me separavas
Não podendo viver assim.
Vidas Esquecidas
Falemos de Almas
Mãos trémulas, suplicantes
Por um afago, um aconchego
De uma solidão, sem razão
Maior, que a d’um cão
Rostos maltratados, cansados
Rugas hipotecadas, escondidas
Em maleitas passadas e perdidas
Olhos apagados na linha do horizonte
Não vendo solução, em nenhuma fonte
Falemos de Gente
Um prato sobre a mesa, vazio
Um olhar, triste, cansado e frio
Um desânimo, uma falta de alento
Nunca tão acentuado, como no momento
Falemos de Vidas
Aprisionadas em becos sem saídas
Para quem uma cova era paz e sossego
Glória de uma vida sem jeito
Tais foram as dores de peito
Falemos de Nós
E de quantos de Nós,
Frágeis como uma noz
Nos sentimos tão sós
Desatando tais nós
Porém …
O Arbusto verga mas não quebra
Sempre seremos alguém
Ainda que por ninguém.!
10/11/07
Falo de Ti
Do quanto de ti preciso
Como o ar que respiro
Do teu olhar de avrelã
Bem contrário ao de romã
Tons de verde, esperança
Símbolo de toda a mudança
Sorris, como me sinto feliz
Não me peças que te esqueça
Pois nada fica que me aqueça
Ai, se soubesses!
O quanto de ti necessito
Voarias em jactos de luz
A casa resplandecia
E tudo o mais se enchia.
Falta-me o brilho do teu olhar
A candura da tua alma
Não me ponhas borda fora
Pois és, a minha âncora
Alevante sou ser errante
Caminhando ao desnorte
Abandonado à sua sorte
A ausência da tua voz,
Frágil que nem uma noz
Tudo tão frio, tão vazio
Tudo tão sem sentido …
Não me entrego à compaixão
Pois só sei viver de coração
Seja a mais difícil situação.
(A espera de ti é um tempo sem fim)
Exortação
Perdida de ti
Por montes e vales
te consomes
Deixa de sofrer,
teus olhos brilharão
Não interessa quem te deixou
Pouco importa quem te abandonou
quem o céu como limite te prometeu,
E nem um pouquinho te amou
Deixa de sofrer,
Do mar à serra
Em vão te procuras
Num recanto te velas
Noutro te revelas
Mas una serás ...
Deixa de sofrer,
Nos ocultos de ti
Forças procuras
Aventureira de ti
alegrias sentirás
Em cada alvorada
que renasce em ti
Mil estrelas iluminarão
Teu destino almejado
Teus medos às calendas irão
Tens o mundo na tua mão
Filha minha, do coração
Terás sempre a minha mão
Amores Meus
No tempo e no espaço
Quantos de mim,
Distantes estão
Onde era Amizade
Estima, carinho
Elos do coração
Afectos …
Onde, ora estarão?
Fizeram-me acreditar
No Mais doce sonho
palavras loucas
De tão ocas, tontas
Lixo me consideraram
Pelas ruas mendiguei
E de tanto pensar
Que tal havia por mal
Por becos e becos Caminhei
Sossêgo à alma encontrar
Na inquietude de mim
Aos livros retornei
E aí sim,
Senti-me alguém.
21/11/07
Os Meus Amigos
Os meus amigos
São a minha essência
o sal da minha vida,
O tempero necessário,
justo e certo
A medida exacta
Nos seus olhos sufoco
Mágoas e desilusões
Nos seus olhos sinto
o rubro das emoções
Eles não sabem
o quanto são importantes!
talvez nem saibam:
o quanto é gratificante
tê-los na vizinhança do meu ser
o quanto contribuem para a minha alegria
o quanto é agradável senti-los próximos
o quanto representam no meu universo
o quanto os sinto
o quanto os amo
Eles também são os meus amores
Obrigado por serem o que são
Bem hajam amigos, do coração
ao seu modo sendo iguais
Reais ou virtuais
Não distingo quais
O Longe de Ti
Em noites de nevoeiro carregado
em espera sem fim queda-me a alma,
Não vislumbrando sinais de ti
Teus olhos a cintilar, a sorrir
Com todas as forças do meu ser
Era o cúmulo do meu querer
Em noites de lua cheia
Meus passos a ti vão
Olhos postos no chão
Ouço vozes de mim
Clamando sem fim
Um olhar de ti
As distâncias alongam
As saudades de ti