Salamandra
Mora em mim tudo que há em uma mulher
Todos os seus secretos caprichos
Faço de mim o que bem quero
Explodo, encubro
Me mordo.
Abro o portal para o dragão, enxoto da jaula, o leão
Atravesso o além e transponho galáxias, sóis e planos
Sou próxima aos elementais e sei onde habitam as feras
Vôo alto e rastejo com serpentes
Sou assim mesmo, mulher.
Aprendi a força das paixões,
com a sabedoria do fogo, dancei com salamandras.
Narcisa solitária, Helena esquecida.
Julieta amada, Bela Adormecida.
Todas essas habitam em mim.
E mais o ponto de conversão
Que detona e abranda o coração.
Amor - Rara flor
Estas lágrimas de chuva que caem agora
Não me convencem que devo ser triste
Por essa distância que nos separa, meu amor
Pelo contrário, elas lembram-me água que escorre
Cada vez que sinto tua presença em meu corpo
Lembrança de momentos belos vividos
Intensamente sentidos e absorvidos por nós
Essa chuva teimosa, que produz frio exterior
Não alcança o que vem de dentro, que é esse amor
Elas teimam em cair, mas meu cerne não alcançam
Pois ainda queima em mim nosso amor abrasador
E mesmo o mar, esse imenso e salgado senhor
Lembra-me são teus olhos, eternidade constante
Canta-me fados, rios que desaguam em mar
Esperarei sempre o que há de vir, amor meu
Com uma calma e graça de coisas que vêm da alma
Então durmo serena, certa de que estudante ainda sou
Desse amor que emerge e vem da mais rara flor
Virá
Abro a janela dos meus sonhos
Por entre as frestas, arriscam-se luzes
Desejos cintilam em azuis violáceos
Arrisco uma nota sol em meu vilolino imaginário
Estrelas cadentes pousam neste instrumento
Então, nada mais causa-me tormento
A voz do vento a susurrar
Eternizado em nosso bailar
Pedaços de uma vida solidária
E, hoje vejo, nada solitária
Ver vir o sentimento inerte
Agora, sim, sempre
É querer queimar-se em fogo brando
É saber-se nascida para doar
É saber que virá
E virá, e virá...
De ti, quero o corpo e o alento
De resto, quero-te em mim.
Poema-Luz
Preparo um poema-luz
Que retira das entranhas
O mistério contido
No mais obscuro recanto da alma
Um poema que salte aos olhos
Brilhando intermitentemente
Como nos momentos em que somos
O lápis, ávido, desnudando a folha
E deixando marcas profundas
Abrindo espaços, dantes ausência
Explorando vácuos hoje preenchidos
Inundando de sal e mel o papel
E em mim, ondas revoltas
Oceanos de graça e beleza
E o verbo faz-se natural
Pleno de mim
Cheio de ti
Permita-me
Essa demora para anoitecer
E dias passam como nuvens
Eu sei que não vou passar
Dias brancos, fios cortantes
Anseio por nossos instantes
Minha palavra é quase nada
Mas esse sentimento é tudo
Circulos vazios de fumaça
No abajour do meu quarto
Neste teclado empoeirado
Cansado de tanto esperar
Você chega com teu olhar
Tocando o cerne da alma
Tua imagem então aparece
E tudo em volta me apetece
Me deixa enfeitar teu corpo
E cobrir de estrelas teu cabelo
Saciarmos a fome do desejo
Aplacar a sede em um beijo
Permita-me te amar
O Ser Amor
O amor faz perder-se
Para então encontrar-se
Amor é dádiva sagrada
Sem definição correta
Mas nunca palavra incerta
Por estar além da compreensão
O amor anda nos ares
De quem o sabe conquistar
Palavras doces, carinho pleno
Quando dói, sinal que é real
Por mais que se tente enganar
A vida, sua morada
O coração, seu lar
Amar é estar vivo
É respirar suspiros vários
É canção de tons sublimes
É desapego e sossego
Ser amor é repartir a paz
Viagem infinita
Não vou perder aquela viagem
Ainda em minha carne, veículo
Passeando sobre abismos rasos
Auroras dourando a alma-casa
Pássaros de asas reluzentes
A viagem é infinita, benvinda
Refazendo cacos de construção
Vêm tremores a rondar sensações
Teus olhos a rondar os meus
Promessas de completude
Entrega mútua sem pudores
O cansaço é nada perto de ti
Pois tua presença é descanso
É vida explodindo em partes
Partes de nossa teia-história
E a saudade, apenas tenta ser
Poetar
O destino é traço de nossos passos pelo chão
E por mais que tentemos a alegria alcançar
Aqui não estará pois não é deste mundo
Os vazios procuramos preencher com ilusões
Uma luz, um aconchego, uma razão de ser
Em manhãs ensolaradas, visto-me de poeta
E brinco, a "poetar" sentimentos
E profetizando meus sonhos, volto a caminhar
Em noites enluaradas sonho promessas de vida
No ofício de juntar cacos, a trama do desatino
No rosto, sorriso amarelo camaleoando girassóis
Amolo a infinita paciência com a faca afiada do sentir
Pois só o sentir tranforma essências em luz
Convém ao mundo que os ciclos se fechem
Outonamente
As folhas caem das árvores e voltam verdejantes
Simplesmente transmutadas em brilhos radiantes
Outonamente
As lágrimas de meus olhos como os do poeta, fadigados
Adubam a nova terra por onde hei de pisar
Tarefa de trazer de volta quem sempre fui
Ornada antecipadamente pela primavera que virá
A inspiração voltando branda mas plena
Cá, dentro de mim, em batalhas
Debatem-se a poeta e a louca
Ambas vencem
Ontem hoje e amanhã, velhas amigas.
Como um vulcão em chamas meu coração estanca
Revestido de ternura, beleza e graça.
Fronteiras
Fronteiras
É preciso
Quebrar as algemas
Voar além do oceano
Transpor fronteiras
Sem medo ou receio
É preciso
Vestir-se de luz matinal
Ir de encontro ao tesouro
Sair do suposto normal
Sem medo ou receio
É preciso
Perder as estribeiras
Congelar as ribanceiras
Tecer um azul horizontal
Sem medo ou receio
É preciso ser especial
Transformação
Nessas tardes frias e cinzentas
Onde o céu parece desbotado
Sinto em meu peito grande frio
A vida parece nado sincronizado
Onde as horas arrastam-se
L E N T A M E N T E
No varal da minha alma
Dependuro sonhos
São multicoloridos
Faíscas fascinantes
Nunca vistos antes
Por olhos comuns
Estão lá
Flores diversas
Rosas vermelhas
Lírios violetas
Miosótis azuis
Girassóis amarelos
E uma derradeira
Flor-de-lis branca
Minha saudade estanca
Em minha alma latente
Sangue quente corre em minhas veias
Aquecendo o dia monótono
A poesia brota de pequenos musgos
Transformando-se em flores coloridas
Um beija-flor atraído, beija e pousa