Retalhos de saudades
Dancei na poeira do dia acinzentado e deitei-me nas vestes claras do infinito.
Brinquei com os flocos de sal e escorreu entre meus dedos, doce saudade.
Na tela, entre letras, cores frias, texto oficial, refletiu sua imagem...
Saudade revestida por retalhos coloridos, entrelaçados ao tempo
rápido em trilhos lentos.
Tempo morno abraçado em fios longos, enroscando dias, noites.
Salgada poeira amargando o mel que vai pingando lentamente as gotas de saudade.
Na tela...frases sem sentido.
Ramgad
Lágrimas dos aflitos
Entre laços e nós,
verdades e mentiras.
Entre o preto e o branco
paixão e dor.
Entre o tempo e o vento,
uma lágrima salta.
Entre o riso e a flor,
o espinho.
Entre dúvidas,
uma lágrima salta.
Entre o humano e desumano,
o calor e o frio,
loucura e razão.
Entre alegrias e tristezas,
uma lágrima salta.
Entre caminhar e retroceder,
o movimento,a inércia.
Entre o falar e calar,
o grito se entrelaça
à mudez dos aflitos.
Refúgio
Refúgio
Refugio-me nas curvas sinuosas da palavra amor.
Nos olhos famintos, corpos tombados, na dor.
No tiro perdido, justiça não vista.
Refugio-me nos perigos incrédulos de uma pista.
Na solidão da multidão
perdida, sofrida.
Refugio-me nos versos que não fiz,
na canção que não cantei,
nos irmãos que não amei.
Refugio-me, em cada canto.
Espanto de uma dançarina,
nas madeixas que não se ajeitam,
na beleza perfeita.
Na sensualidade da cabocla “sendeira”.
Refugio-me no semblante de uma mulher,
enfim, refugio-me em um canto.
Ramgad
Conversa ao I-phone
Na cama
lençóis de malha.
Ansiedade...
Filme transcorre
véus da libido.
Revista, jornais,
palavras, cruzadas.
Ouvidos atentos...
-Plin plon, coruja, a cor da da?
Ansiedade na cama.
Transcorre filme
da libido de véus.
jornais, cruzadas
revista.
Novamente palavras.
Atentos ouvidos...
-Plon plin, acordada co ru ja?
-Bateria esgotada
Carregando i-phone...
Noite
Escuro
fecham-se janelas.
E os corpos nus
na noite procuram-se,
aranhas tecendo teias
emaranham-se
entre as pernas.
Nas veias
o sangue
Gemidos
Grunhidos
sons da noite.
Cheiros,
suores,
brincando e correndo sêmen.
Sonho fugaz
Quando o véu negro da noite se descortina sobre mim.
O silêncio desce gritando em notas musicais afugentadas.
As luzes se apagam suavemente, recolho-me exausta em lençóis de cetim.
Meus olhos dançam no escuro beco das lembranças e meu
coração aflito te rastreia em meio a orquídeas sedentas
de iluminada esperança.
Busco-te meu tesouro inacessível e encontro-te no sonho fugaz.
Neste não adorna
no horizonte os braços longos do mar da distância.
Posso sentir a tua presença e contemplar:
Teu cheiro
Teu beijo
Teu sabor...
Meu único e inefável amor!
Ramgad
Pó de pirlimpimpim
E a lágrima
não exteriorizou
ocultou-se na alma
um punhal.
Passeou nas entranhas
tornou-me miúdo
grande e fatal, dor...
Rasgou-me
o estômago azia
penetrou em desalinho
a cervical
Nuvens sangrentas
abafaram o cérebro
esmiuçado e confuso
onde cada parte do corpo
sozinha gemia.
Num gesto involuntário
um "suspiro" profundo
contei 1,
2,
3 e...
4
gritei: help quero pó de pirlimpimpimmmmmmmmmmmm
Beijos molhados
Balança no redemoinho
um amor.
Doce melado,
sonho.
No fel,
mel
lambuzo
e abuso entre risos
lágrimas.
Durmo,acordo,
danço e espero
seu beijos
molhados.
Ramgad
Carnaval
Carnaval
Tempo de folia?
E o que é a folia senão alegria?
Descanso, sol, mar, se revigorar
para quem gosta de pular...
Retiro espiritual para reflexão, oração...
E o mundo precisa de quê?
Folia?
Precisamos da verdadeira alegria
de justiça,
paz,
amor e fraternidade que
emana a mais pura felicidade!
Carnaval no Brasil,
fantasias lindas.
Escolas de samba com mulheres nuas,
carro alegórico quebrado na rua.
Um lado retrata gastos em futilidades
do outro a fome ataca sem piedade.
Brasil, dos sonhos de alguns
Da realidade dura de outros.
Brasil de muitos carnavais mais de
tão míseros reais...
Ramgad
Banho de arco-íris
Acordei mais cedo, o dia apagado anunciava que o sol estaria em repouso por tempo indeterminado.
Liguei o chuveiro no quente, enquanto despia-me. Aproveitei o vapor, brinquei de escrever no vidro do boxe seu nome, o meu, desenhei um coração gigante.
Os seios arrepiados gritavam numa voz delicada.
Meus pés brancos tocaram o chão gelado e as gotas foram traçando seu caminho rapidamente em zig zag.
De olhos fechados, novamente você se apossando de meus pensamentos...vindo como pólem à terra fértil, trazido pelo carinho de uma brisa zombeteira.
Um olhar tristonho, sorriso largo, branco neve, kimono impecável bordado no braço, seu doce nome...a calça arrastando beijando o chão.
Lábios de groselha, balbuciavam borboletas azuis, que ladeavam-me colorindo todo o meu corpo num arco-íris sem fim.
A bucha vegetal deslizava corpo afora, num vai e vem...e sua imagem aproximando rindo de mim, pra mim. O perfume tocava o ar, a espuma delicada traçava imagens divertidas, os azulejos pareciam mover-se, participando daquele momento gostoso, único e indescritível.
De repente...uma imensa gota sobre meu rosto me assusta, abri os olhos.
Pasma, sem acreditar, constatei...era a última, falando numa voz úmida bay...bay...