"De Troubadour" para a Vony
EU...
Já foi muito o tijolo que assentei na vida.
Alguns formaram escadas….e subi…
Outros transformaram-se em paredes…e parei…
Hoje estou aqui dando os meus primeiros passos, como um bebé…Não sei se vou subir, se vou cair ou, pura e simplesmente, se vou parar…
Avancemos (fui “ranger”...e a sorte protege os audazes…)
Eis no meu perfil:
Sou tempo que o tempo não sente…
Sou brisa que o mar abraçou…
Sou sonho… não sei se sou gente…
Mas vivo contente…eu sou o que sou.
CPereira
O RIO HOMEM E VILARINHO
Oriundo dos Carris, afagando os rochedos por onde em grandes cascatas desce a serra, serpenteando no meio de verdes luxuriantes, o Rio Homem atravessa a sua Portela, passa por Albergaria, Bouça da Mó, ladeia a serra Amarela até que, ingloriamente, é emparedado já na zona do Campo do Gerês. A sua essência selvagem e livre foi brutalmente interrompida e aniquilada, esbarrando nas megas toneladas de betão ciclópico que ergueram no seu percurso.
Dói , Rio Homem, ver-te, anafado, prisioneiro naquela muralha de betão. Amputaram-te a alma e deram-te um coração parado, morto – a aldeia de Vilarinho da Furna. As paredes da aldeia já em ruínas mas, ainda e estranhamente, alinhadas, arfando ao peso dum lençol tão desproporcional, vão alimentando, com a sua dor, a perplexidade dos passantes.
Nos crepúsculos de Agosto, muitas vezes me aproximo daquelas águas que com o seu marulhar parecem levantar uma lânguida prece ao Criador: Kyrie eleison; Christe eleison; Kyrie eleison.
Nessas alturas, apetece-me lançar um brado que rasgue aquela serrania e cujo eco se perca no seu ventre: Chora Vilarinho…! Chora para que tua dor alimente o insaciável apetite dos que te visitam e nem um minuto de silêncio respeitam em tua memória.
No entanto, volvidos alguns minutos e siderado pelo quadro com que, de forma contemplativa, me confronto, mudo de ideias e de grito, de revolta, passo para um simples segredar aos ouvidos: Dorme Vilarinho! Descansa eternamente…se possível em paz!...
CPereira, 10.02.2010
AMOR DEMAIS...
A inda hoje te sonho
M enina, rosa em mudança…
O nde parou nosso amor,
R éstia de luz e d’esperança?...
D aria tudo de mim
E m troca desse passado!...
M anter-me-ei acordado.
A noite nem sempre é escura.
I rei à tua procura.
S ei que ainda gostas de mim…
CPereira 23.01.2010
orlando zapata tamayo
Desfiz-me lentamente.
Formatei-me finalmente…
Digitem dados na (em) minha memória!
É urgente reiniciar-me!..
CPereira, 24Fev2010
ORLANDO ZAPATA TAMAYO – Dissidente cubano. Após greve de fome de 85 (oitenta e cinco) dias, faleceu no dia 23 de Fevereiro passado, numa qualquer prisão em luta pelas (medite-se) melhores e mais humanas condições nessas mesmas prisões.
La Muralla - Nicolás Guillén (poeta cubano 10.07.1902 – 16.07.1989) Video do YouTub
Trovão
Hoje está um dia triste…
Ribombam os trovões
qual nuclear mal amada
que se despedaça e despedaça a montanha…
Como sou pequeno, meu Deus!...
Algures, no universo, uma estrela me olha de soslaio…
Confirma a minha insignificância
e sublinha a minha universalidade...
DE TANTO GOSTAR DE TI...
Eu quis-te favo de mel
adocicando a manhã,
trago doce, que não fel,
sumo de orvalho e romã…
Quis-te divindade grega
em pedestal de marfim,
enigma de rosa negra
apenas gravado em mim.
Quis-te musa inspiradora
de mim , pobre trovador.
Quis-te fonte geradora
de tanta luz e calor.
Quis-te um oásis perdido
no turbilhão de montanhas
que me trazem escondido
de epopeias e façanhas
Porto de abrigo seguro
em tempestades de areia,
antes que deserto escuro
quis-te canto de sereia
Por mares jamais navegados,
quis-te farol ,luz de esperança
de rumos desencontrados
em busca duma bonança.
Quis-te lírio ou violeta
desabrochando em flor
versos tristes dum poeta
em cantos de luz e amor…
Cantos de amor tão intenso
por quem eu tanto sofri.
Eu quis-te, assim, tanto, tanto
que por tanto te querer
acabei por te perder
sem nunca chegar a ti…
De tanto gostar de ti…
CPereira 2009-12-26
LIBERDADE...UM ENCANTO DE MULHER!...
Já passaram um “ror” de anos, eu e dois amigos queríamos acampar lá para os lados de Espanha (Lobios). Como só eu e o Zé Amaro éramos detentores de passaporte (ainda era preciso passaporte) tivemos de aguardar que o Fernando, utilizando o trilho dos contrabandistas, passasse para o outro lado. Volvidos uns bons minutos, e porque tudo parecia correr bem, lá nos dirigimos ao posto fronteiriço da Portela do Homem para consumar a nossa “passagem”. Só que o inesperado aconteceu. O Fernando apareceu-nos “engavetado” pela Guardia Civil. Após intensas “negociações” com as forças presentes de ambas as raias, lá conseguimos um armistício e viemos acampar para o velhinho Parque de Albergaria. Na altura expressei assim a minha desilusão:
LIBERDADE…UM ENCANTO DE MULHER!...
Ela passou
com calma e luz nos seus olhos
e mesmo aos molhos
outros a viram como eu a vi.
Ela parou.
Ninguém lá foi, nem eu tão pouco
E como louco
Atrás dos outros, também, fugi.
Ela voou…
Era a Liberdade que passara, parara e voara
sem ninguém a ela ir ter…
UM ENCANTO DE MULHER….
CPereira
Foto: Cascata na Portela do Homem obtida na Internet de Massas 2007