Pablo Neruda : O Pai
em 12/08/2012 23:40:20 (5287 leituras)
Pablo Neruda

Terra de semente inculta e bravia,
terra onde não há esteiros ou caminhos,
sob o sol minha vida se alonga e estremece.

Pai, nada podem teus olhos doces,
como nada puderam as estrelas
que me abrasam os olhos e as faces.

Escureceu-me a vista o mal de amor
e na doce fonte do meu sonho
outra fonte tremida se reflecte.

Depois... Pergunta a Deus porque me deram
o que me deram e porque depois
conheci a solidão do céu e da terra.

Olha, minha juventude foi um puro
botão que ficou por rebentar e perde
a sua doçura de seiva e de sangue.

O sol que cai e cai eternamente
cansou-se de a beijar... E o outono.
Pai, nada podem teus olhos doces.

Escutarei de noite as tuas palavras:
... menino, meu menino...

E na noite imensa
com as feridas de ambos seguirei.



Pablo Neruda, in "Crepusculário"
Tradução de Rui Lage


Imprimir este poema Enviar este poema a um amigo Salvar este poema como PDF
Os comentários são de propriedade de seus respectivos autores. Não somos responsáveis pelo seu conteúdo.

Enviado por Tópico
Lucineide
Publicado: 08/02/2016 02:30  Atualizado: 08/02/2016 02:30
Membro de honra
Usuário desde: 06/12/2015
Localidade:
Mensagens: 1178
 Re: O Pai
Belíssimo poema. Muitas vezes eu também só queria o colo do meu pai. Grande, Pablo Neruda!

Links patrocinados

Visite também...