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Viver a vida

 
Viver a vida
 
Viver a vida


O verdadeiro génio da vida
É aquele que domina a arte de viver.
E dominar a arte de viver,
É saber viver a vida
Sem grandes pressas.
Sem dependências
Paixões árduas ou ligeiras
Ou sequer amores por coisa alguma,
Que agitem o coração ou a mente.

A vida são dois dias
Já o disseram.
E quando o disseram,
Já o primeiro dia passava…

Jamais precisarei de alguém
Que não eu mesmo!
Jamais precisarei de sítio algum
Para chamar de lar,
Que senão única e exclusivamente
O meu cérebro e a minha mente.
Jamais precisarei de amigo algum,
Senão eu mesmo
Feito de papel e racionalismos.
Jamais precisarei de amor
Ou sentimentos alguns
Que me façam fingir vivo.
Jamais precisarei de coisa alguma
Senão eu ou mundos ou personagens
Amores, objectos e vidas,
Criadas por mim…
Jamais precisarei de uma missão
Um propósito qualquer para viver
Senão a razão incontável
Dos dias que passam por mim!
Jamais precisarei de raivas,
Ódios ou pudores socialmente transcrevíeis
Ou julgados por alguém.

A amizade é uma coisa tão falsa
Quanto irreal e louca.
Amar algo ou alguém
É algo tão descabido,
Que só um leigo na arte de viver
Poderia cair na estupidez de o fazer.
Saber viver a vida
Com o despropósito
De não reparar em coisa alguma,
É saber viver na pura
E simples forma de o fazer.

Ser mestre na arte de viver,
É saber deixar o rio passar
Sem ter qualquer urgência
Ou desejo inerte de nele querer nadar.
Quem nada são os peixes,
Não os homens!
Que não foram concebidos
Para tal obra ou propósito…

A maior arte de viver a vida
É desnudar-se de si mesmo
E não viver,
Desprezar a vida
Sem vontade de a desprezar.

Viver a vida
É saber a cada momento:
Des-vive-la!
 
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Blackbird
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