Contos : 

Os vizinhos.

 
Os vizinhos.

Todos somos vizinhos uns dos outros, cada um de nós temos uma vida e história diferente que por muito que se queira conhecer não se conhece.

Era uma rua calma, pacata, com arvoredo e casas bem tratadas e limpas, rua grande com varias outras ruas cortando a rua que eu vou contar a história.
A família Ferreira era uma família grande, na frente de sua casa tinha os seus jardins muito bem tratados e com um bom gosto, digno de ser visto e apreciado, depois a família Silva e a outra família Sousa.
Esta família vivia no meio das outras famílias, por vezes o mal estar era constante, mas como tudo na vida apenas tinham que suportar e aceitar os vizinhos como eles eram.
A Família Silva era rival da Família Sousa por ainda terem algum parentesco e também pendências de partilhas de tios.
Por vezes a gritaria é demais, ora por desentendimentos dos filhos ora pela mãe Olinda que era bastante amarga e rude, Lurdes é a irmã do Manuel Silva, uma mulher trabalhadora e bastante maltratada pela vida por causa do Joaquim que sempre teimava ir ao bar da esquina afogar as suas magoas.
Lena era a cunhada, era uma mulher calma e muito afável para todos, sempre tinha um sorriso para cada pessoa e uma palavra gentil a dizer, o marido o Manuel era um homem trabalhador e muito pacato sempre que sobrava tempo era com a sua família que ele passava.
Era sábado, dia de descanso de todos naquela rua, apenas se viam os trabalhadores que faziam limpezas aos jardins e os cortes das arvores que já incomodavam pelo cair das folhas. Na casa dos, Ferreira, escutava-se o barulho das crianças a brincar, logo se vê o portão abrir e se vê a Maria, a empregada domestica, de farda azul e toda alegre.
Ao passar o portão ela cumprimenta Lurdes e bem alto.
- Bom dia Lurdes, então hoje vai fazer um churrasco para a família?
Lurdes amargurada responde:
- Maria e como eu vou fazer o Joaquim, ontem a noite ele foi direto para o bar e gastou tudo em cachaça e foi uma festa aqui em casa. Ele bateu no meu filho do meio e ele fugiu de casa.
Maria fica sem graça e meio desconfortável até ao ser sido tão inconveniente, seu rosto ficou vermelho e seus olhos vidrados. Sem saber o que fazer ela apenas diz:
- Olha Maria ele vai aparecer, tem calma. Logo tudo se resolve.
Na casa apenas escutava choros e gritos, pela rua ouvia-se o menino mais novo dizer que estava com fome, Lurdes berrava tanto que pensava que assim calava a boca do moleque.
Dava pena ver toda aquela pobreza ainda pensar que um dia eram pessoas muito bem posicionadas na vida e hoje sem nada.
Maria encolhe os ombros e vai ao supermercado buscar pão, carnes frias e frutas.
Caminhando ela reconhece o rapaz que está sumido e para seu espanto ela o vê com outros rapazes da pesada, nisto ela repara que ele esta injetando algo no seu pé a maldita droga que destruiu uma família inteira.
Não volta para trás, segue e fica a pensar no que deverá fazer se fala ou não onde ele está, que sina aquela mulher tem, um marido bêbado e um filho dependente de drogas pesadas que ainda por cima ele tenha o mau - vicio do roubo, não importa quem, mas sim acalmar seu vicio.
De repente sentiu um calafrio pela espinha, se ele vem atrás dela?
Afasta o medo e logo chega ao seu destino. Entre risos e algumas graças do momento ela sempre era muito querida por todos ali, logo entra a Dona Lena e a Maria vai ao seu encontro e baixinho ela murmura, sua cunhada precisa de ajuda.
Dona Lena acena com a cabeça e gentilmente diz:
_ Vamos ajudar sim, mas o que se passa desta vez?
Maria pensativa apenas diz:
- O costume, ele queimou o ordenado no bar e espancou o seu sobrinho, nada tem para comer em casa.
Triste Dona Lena acena com sua cabeça e manda preparar uma cesta básica com tudo e até compra uma carne para a semana toda para que nada falte aos seus sobrinhos. Como sempre ela manda entregar em casa, mas faz questão que não se saiba que foi ela que enviou.
Dona Lena regressa a casa e ao passar de carro, abranda e repensa se deve ir lá ou não, mas logo ela desiste. Sabe que vai ser mal recebida e segue para a sua garagem.
Maria chega a casa, logo prepara um recheado pequeno almoço, para todos e calma, pois sabia que na casa ao lado também iria comida para a mesa.
Pensativa ela, refletia sobre a vida e como ela era implacável, um dia aquela família recebeu uma herança grande, de uns tios, sem filhos e donos de algumas fazendas e outros títulos e contas bem recheadas, eles gastaram sem medidas, eram amantes, festas e os filhos tudo que queriam tinham e nada era impedimento para eles até que um dia, um vigarista, os leva de cantiga e a troco de mais dinheiro eles dão uma procuração que deu plenos direitos de fazer o que bem entender.
Assim ficaram sem nada e voltaram para aquela casa a única que sobrou da lambança. O irmão esse gastou modera mente, fez obras na sua casa e a tornou confortável, aplicou os dinheiros e claro alugou as fazendas sem ter mais que se preocupar. Hoje ainda ajuda quem pode uma alma boa e nobre.
Logo chega o carro do supermercado, desliga o motor sai do carrinho e bate palmas.
- O de casa! Tem entrega para aqui.
Pasma a Lurdes vem à porta e diz, mas foi engano eu não encomendei nada?
O entregador não liga pede rudemente:
- Abra o portão, isto pesa senhora.
Desconfortável ela abre e a sua mente ela pensa que vai ela fazer quando derem pela troca na entrega.
Sai e entra e nas seis caixas de mantimentos ele pede que as descarregue, pois a tem que levar de volta.
Ela meio amedrontada o faz e ele vendo o medo da mulher, fala.
- Senhora o meu patrão mandou dizer que já está pago e que não se preocupasse e se faltar alguma coisa a senhora diz.
Ela agradece cabisbaixa, abre o seu portão volta para sua casa. Liga ao supermercado para agradecer ao senhor, mas para sua surpresa ele diz que não foi ele mas sim alguém que mandou entregar e mais se a senhora quiser mais alguma coisa venha cá pois tudo o que precisar estou autorizado a dar.
Ela não cabia de alegria, os meninos estavam felizes, tinha tantas coisas boas e tanta comida que já há muito não viam a sua frente. Pensativa ela tentava adivinhar quem tinha feito isso sem conseguir, mas tinha algo a ver com a Maria, devem ter sido os patrões da Maria
Logo que arrumou tudo ela vai à porta do seu quarto, um misto de revolta e ao mesmo tempo de companheirismo, ela o cobre e o deixa a dormir que é o melhor remédio para ele curtir a bebedeira. Nisto escuta um carro da policia, logo outro, escuta tiros, muitos tiros, sentiu uma dor forte no peito, que rebentava, explodia, as lagrimas rolaram pelo rosto, ela caiu em prantos, seu filho estava ali. Cansada ela deixou-se ficar sentada na mesa da cozinha como quem espera pelas noticias ruins.
Logo escuta um carro da policia a parar a sua porta, escuta as palmas, levanta sem quase segurar nas pernas, abre a porta e sai.
Já na sua porta estava o sargento Pedro, de rosto contraído ele mostra a carteira do filho, perguntado:
- Senhora, José Sousa é seu filho?
Mostrando de mais perto e abrindo o portão para qualquer eventualidade. Ela acena que sim e já sabendo por que ele tinha a sua carteira, sente-se desfalecer..
Cai na entrada em prantos, toda a rua escuta os gritos de dor, os vizinhos saem a rua e claro que adivinham e ninguém se chega para amenizar a dor daquela mãe.
Maria corre, chorando, Dona Lena também apesar de seu marido tentar a impedir dizendo:
- Lena a minha irmã vai te tratar mal, deixa que ela peça que nós a ajudemos.
Dona Lena não quer saber, corre e entra no portão, se baixa e tenta levantar a sua cunhada, entre lagrimas ela diz ao sargento que era preciso fazer, logo ele dá todos os dados e vai embora.
Lurdes numa atitude de desespero grita maldosamente com sua cunhada, dizendo que a culpa era deles e manda embora. Maria manda a Dona Lena ficar. Sem dó ela fala a sua amiga Lurdes:
- Devias ter vergonha, numa hora de dor, onde todos te viraram as costas e mesmo sendo mal recebidos a que nunca te abandonou foi a tua cunhada Lena, era ela que sempre enviava dinheiro e sempre pagava o supermercado.
Em prantos ela se ajoelha nos pés da cunhada e lavada em lagrimas pede desculpa por todos os insultos. Manuel estava de fora do portão, dos seus olhos corriam lágrimas, umas trás das outras, ele entra e abraça a sua irmã, os dois ficam ali parados como se o tempo não andasse para matar a sua saudade.
Logo chega o Joaquim, ainda meio bêbado, e diz com alguma piada:
- Merda! Que a que bebi ontem foi bem boa que ainda hoje tenho visões. Acho que vou beber mais umas, eu volto já.
Ninguém ligou, deixaram o ir afinal a sua presença não iria fazer falta, ele apenas ia atrapalhar e tinham muito que fazer para o funeral do rapaz.

Esta é a história de um vizinho e as outras histórias? Quem sabe se um dia não contas a do teu vizinho?







Podemos entrar em contato com você via e-mail?*

sim

 
Autor
Betimartins
 
Texto
Data
Leituras
751
Favoritos
0
Licença
Esta obra está protegida pela licença Creative Commons
0 pontos
0
0
0
Os comentários são de propriedade de seus respectivos autores. Não somos responsáveis pelo seu conteúdo.