A aurora
A aurora
A aurora vem clareando está agora despertando
de uma noite serena, o céu ainda como o cresol
começa a colorir, nuvens deslizam rosadas, ténues
na transparência frágil dos primeiros raios de sol.
O bosque ainda escurecido começa a criar vida,
o cheiro da terra húmida, as pequenas aromeiras
onde as gotas de orvalho são pérolas translúcidas
que caem e se espreguiçam nas sumas rasteiras.
As rãs cedo começam a coaxar nos pequenos charcos,
ouve-se o espanejar dos pássaros ao sair dos ninhos
das tocas rastejam os répteis espreitando nos buracos.
O sol abre raiando tudo, é vida no bosque, em louvor
à natureza que se vai abrir à azáfama de um novo dia.
A aurora dá a vez ao dia e promete vir no próximo alvor.
Casas comigo?
Casas comigo?
Fecho os olhos o silencio acomoda-se
deslizando suavemente como uma lava
pesando nas pálpebras flácidas, esqueço
o domínio e vontade que o tempo traça.
Vejo o mar quieto verde e belo, espumoso
uma moça sereia dele emerge, assustadora
o corpo brilhante, olhar penetrante, agreste
os olhos vítreos sem pestanas e provocadora.
Agarra-me, fico inerte, sem força, paralisado.
Seus cabelos longos são límos, dentes de peixe
corpo escamoso, que arrepia, frio e molhado.
Sabia que estava a correr um enorme perigo
queria sumir-me e só ouvia aquele louco pedido
acordo e com horror oiço ainda, casas comigoooo?
Vólena
Coração de algodão doce!
Imagem Google
Fiz uma infinidade de algodão doce
E atirei-o para o céu para ficares doce,
Voei até lá e fiz um coração gigante,
Nem entendeste que fui eu,
mas ficaste radiante.
Este poema quero rimar a olhar para ti,
Sem tirar os olhos de ti;
Apreciado, o teu incómodo pestanejar
E dizer-te tanto com um olhar.
Vamos ter uma linda conversa,
jogar um jogo para ver quem diz menos
até a alma ficar imersa.
Quero ficar assim cega de amores,
Para nunca curar todas as minhas dores.
Secreta olhando-te, eternamente
Moldando o coração com a mente.
O coração que moldei era uma imensidão,
Que as mariposas ficaram alienadas de emoção;
Ficou próximo do exemplar,
o que revelei por momentos,
Mas voltaram os pesadelos obscurecidos,
Para despedaça–lo num só acordar.
Ana Carina Osório Relvas/acor
Perdida
Perdida
Saio do teu corpo
completamente diluída, meio cega meio muda
sem poder abrir a boca
nesta sensação aguda
de estar plenamente despida, absolutamente sem roupa
não sei se ainda é madrugada
se
o meu ônibus já passou, se eu te atiro uma pedra
se eu lhe lanço uma flor
se
eu te entrego o meu perfume
se
eu lhe dou mais amor.
Sei que este crescente querer
é plenamente sadio, afogada em orgasmos
em um espasmo sútil
se
tu me marca e pendura, comete um erro fatal
vou lhe deixar, meu bem, amarrado
e fechar minha abertura
serei apenas o cio
de um feroz animal
SorrisodeRosas
Portal da imortalidade
Há uma imunidade nos sonhos
Uma liberdade amorfa e casta
Uma esperança no inatingível
Toda uma veleidade intrínseca
Um indelével mundo surrealista
Na trôpega profusão das imagens
O mar pode ser um rio
O rio pode ser um lago
O lago o sal duma lágrima
E eu navego ao luar na fantasia
Na barca que me embala e alumia
Na vaga âncora da minha alma
Ao longe o céu serve de manta
À paz que engasgo na garganta
À emoção que me acomete
Sempre que o sono me remete
Para o portal da imortalidade
Maria Fernanda Reis Esteves
50 anos natural: Setúbal
Aquela miúda
Aquela miúda!
Eu conhecia de pequenina, era bonita e ladina
gordinha, graciosa, risonha, mas já tão atrevida,
saltava-nos para o colo, mesmo sem um convite
as mãos gorduchas faziam-me festas, divertida!
A bochecha corada, os olhos gaiatos e pestanudos.
Tinha brilho, a graça da inocência e da candura,
os cabelos acastanhados, caiam soltos em canudos
e aquele aroma fresco de criança, era uma ternura.
Via crescer, passar todas as fases do crescimento
das mais embirrantes, até a falta dos primeiros dentes,
mas sempre uma graça e marota no comportamento.
Agora, uma mulher a minha menina e nos encantamos,
alguns anos de diferença, sim, mas um grande amor
nos uniu e sem nos apercebemos hoje casámos!
DISPO-ME DE MIM
Acariciado pelo sol
Deixo a pele no estendal do vento
Para que as mãos aragem
A bafejem de sentimento…
Solto o coração às vagas
Deixo-o ser canoa de vela içada
Para que os lábios sódio
O insuflem de esperança…
Esparjo a carne no alecrim
Deixo-a marinar de odores
Para que a língua arbusto
A sacuda de amores…
Trago nas mãos a praia deserta
Onde me dispo de mim
Lanço-me na espuma que mareia
Junto à pueril areia
Do meu mar sem fim!
No cimo de um grão de argila
Iço o estandarte
De um beijo molhado
De espuma cálida.
Que poeta seria
Se despisse a fantasia
Como dispo o corpo
Desprovido de alma…!
António Casado
3 Fevereiro 2010
Beijos de cristal
Teus beijos...
ângulos rectos
em pleno fulgor,
sabor a alma,
preseverança e
afecto.
Teus beijos...
diversos aspectos,
rejúbilo de amor,
sensação calma,
bonança singela
após vendaval.
Teus beijos...
circunspectos,
dócil louvor
que leva a palma,
herança de ouro
de novo projecto.
Teus beijos...
supremos, directos,
de grande valor...
safira, salma,
topázio e granada
colossal.
Teus beijos
correctos,
frenéticos, suaves,
alvor, soneto,
romances arquitectos,
portas sem chaves,
talismã, amuleto,
epogeu em altos tectos.
Teus beijos
guardados,
mesmo dissimulados,
de paixão eventual,
sempre resguardados,
são peças de cristal!
Filho d’alma
Oh, como gosto
de brincar com as palavras.
Criar, imaginar situações...
Coisas da alma aguçada
que não vê limites para fantasiar,
às vezes sorri o meu eu criador.
Das inspirações d'alma;
Das vísceras tal qual parir um filho.
Nasce não tem jeito,
o mais interessante é, que nem sempre
vivi e [ou] vivo o que escrevo.
Basta uma imagem para eu gerar,
da vida a um personagem.
Tornando-se tão real que levo o leitor
imaginar ser eu o personagem,
sim, em sua maioria, mas tantos
não o são dou vazão ao coração!
15/10/17
Guarulhos,
Às 01:49hrs
Mary Jun
Parabéns, poetas e poetisas pelo dia do escritor!
Poema estrelado
Fiz de um poema um colar de estrelas
Passeis-lhe uma linha, agrupei-as
Dei-lhes a forma de constelação
Tirei-as do céu, pu-las ao pescoço
Iludi-me, pensei que eram jóias
Roubei-lhes o brilho, cobri-me de ouro
A noite sombria vestiu-se de luto
Sem luz, lá no alto... um escuro de breu
Sorte que o poema era um sonho meu
Maria Fernanda Reis Esteves
54 anos
natural; Setúbal