A aurora
A aurora
A aurora vem clareando está agora despertando
de uma noite serena, o céu ainda como o cresol
começa a colorir, nuvens deslizam rosadas, ténues
na transparência frágil dos primeiros raios de sol.
O bosque ainda escurecido começa a criar vida,
o cheiro da terra húmida, as pequenas aromeiras
onde as gotas de orvalho são pérolas translúcidas
que caem e se espreguiçam nas sumas rasteiras.
As rãs cedo começam a coaxar nos pequenos charcos,
ouve-se o espanejar dos pássaros ao sair dos ninhos
das tocas rastejam os répteis espreitando nos buracos.
O sol abre raiando tudo, é vida no bosque, em louvor
à natureza que se vai abrir à azáfama de um novo dia.
A aurora dá a vez ao dia e promete vir no próximo alvor.
COLCHA DIFERENTE!
Colcha Diferente!
Costurei uma colcha diferente
Com retalhos coloridos de ilusão
Em cada pedacinho existente
Pespontei com fiozinhos de emoção.
Um babado largo de carinho
Com bordados dourados de alegria
Das histórias colhidas no caminho
Cheias de esperança e fantasia.
Peguei uma nuvem bem fofinha
E joguei minha colcha e vou deitar
Pedi a uma cintilante estrelinha
Vir os meus sonhos embalar.
Antes do rei sol me despertar
Com sua luz quente e brilhante
Sei que o sereno irá me ofertar
Uma rosa perfumada e exuberante!
♫Carol Carolina
Fantástico
Fantástico
Tranquilamente recompondo a minha figura
no sofá afofo as almofadas, encosto-me nelas
olho o tecto, vejo rectângulos em crescendo
sombras distorcidas pelos vidros das janelas.
A imaginação instala-se, aqueles riscos longos
transformam-se com o floreado das cortinas
numas borboletas esvoaçantes e picassianas
disformes que se esvaem trémulas, repentinas.
Resisto mais um pouco mas aquela dormência
amolece-se me o corpo, transcende a vontade
e a sonolência empobrece toda a clarividência.
As pálpebras cerram, esvazia-se o momento
depois é o abandono total e o matiz fantástico
entra como um raio caprichoso no pensamento.
Perdida
Perdida
Saio do teu corpo
completamente diluída, meio cega meio muda
sem poder abrir a boca
nesta sensação aguda
de estar plenamente despida, absolutamente sem roupa
não sei se ainda é madrugada
se
o meu ônibus já passou, se eu te atiro uma pedra
se eu lhe lanço uma flor
se
eu te entrego o meu perfume
se
eu lhe dou mais amor.
Sei que este crescente querer
é plenamente sadio, afogada em orgasmos
em um espasmo sútil
se
tu me marca e pendura, comete um erro fatal
vou lhe deixar, meu bem, amarrado
e fechar minha abertura
serei apenas o cio
de um feroz animal
SorrisodeRosas
QUIMERAS
QUIMERAS
Guardei os sapatos de cetim
E o vestido de levar ao baile
Juntei-lhe perfume de jasmim
Ficou na memória o xaile
Pobre do xaile e de mim!
Desvanecem-se os pormenores
A saudade é tudo o que resta
Dos bordados e bastidores
Dos meus primeiros amores
Quando a Vida era uma festa.
O futuro é corredor escuro
E o amor fogo que ardeu
E não há nada mais duro
Que na Vida o que se perdeu
Vejo-me ao espelho não sou eu
Já nem sei o que procuro.
Olhos às nuvens erguidos
Lembram mãos que se apertavam
Lembram os beijos furtivos
Os abraços que se davam
Cartas escritas se rasgavam
Mas já esqueci os motivos.
Tenho que dar ordem à Vida
O tempo é quem tem a culpa
De me trazer esquecida
Sem sequer me pedir desculpa.
Dor sem peso nem medida.
Tardava em adormecer
Amar era um trinta e um
Mas pior era não ter
Na vida amor nenhum.
Que importa!?Que me importa!?
O que lá vai é esquecimento
Trago a viagem já morta
Promessas leva-as o vento.
rosafogo
Esta poesia escrita há muito tempo, tinha o nome de Caixa de Pandora, mas já nem recordo a razão,
hoje mudei-lhe o título, e é mais uma poesia simples que sai do arquivo.
Aquela miúda
Aquela miúda!
Eu conhecia de pequenina, era bonita e ladina
gordinha, graciosa, risonha, mas já tão atrevida,
saltava-nos para o colo, mesmo sem um convite
as mãos gorduchas faziam-me festas, divertida!
A bochecha corada, os olhos gaiatos e pestanudos.
Tinha brilho, a graça da inocência e da candura,
os cabelos acastanhados, caiam soltos em canudos
e aquele aroma fresco de criança, era uma ternura.
Via crescer, passar todas as fases do crescimento
das mais embirrantes, até a falta dos primeiros dentes,
mas sempre uma graça e marota no comportamento.
Agora, uma mulher a minha menina e nos encantamos,
alguns anos de diferença, sim, mas um grande amor
nos uniu e sem nos apercebemos hoje casámos!
DISPO-ME DE MIM
Acariciado pelo sol
Deixo a pele no estendal do vento
Para que as mãos aragem
A bafejem de sentimento…
Solto o coração às vagas
Deixo-o ser canoa de vela içada
Para que os lábios sódio
O insuflem de esperança…
Esparjo a carne no alecrim
Deixo-a marinar de odores
Para que a língua arbusto
A sacuda de amores…
Trago nas mãos a praia deserta
Onde me dispo de mim
Lanço-me na espuma que mareia
Junto à pueril areia
Do meu mar sem fim!
No cimo de um grão de argila
Iço o estandarte
De um beijo molhado
De espuma cálida.
Que poeta seria
Se despisse a fantasia
Como dispo o corpo
Desprovido de alma…!
António Casado
3 Fevereiro 2010
Um dia chuvoso
Um dia chuvoso
A música é doce e bela ao piano tocada
por mãos de magistral e virtuoso pianista,
oiço-a sentindo uma harmonia interior. Paz.
Uma lágrima desliza, e não estava prevista!
Levei a mão à face quase instantaneamente
mas não consegui detê-la, ela se precipitara
e no solo a pequenina gota, estranhamente
parecia uma pérola que no céu se iluminara.
E desfez-se em água pura aquele pingo dúctil.
Dirigi-me a uma janela o dia estava chuvoso
choraria também o céu desta maneira subtil
A sonata continua a sua linda e suave melodia
imaginei então, que havia um certo paralelismo
chuva, gotas, lágrimas, musica doce e fantasia!
Beijos de cristal
Teus beijos...
ângulos rectos
em pleno fulgor,
sabor a alma,
preseverança e
afecto.
Teus beijos...
diversos aspectos,
rejúbilo de amor,
sensação calma,
bonança singela
após vendaval.
Teus beijos...
circunspectos,
dócil louvor
que leva a palma,
herança de ouro
de novo projecto.
Teus beijos...
supremos, directos,
de grande valor...
safira, salma,
topázio e granada
colossal.
Teus beijos
correctos,
frenéticos, suaves,
alvor, soneto,
romances arquitectos,
portas sem chaves,
talismã, amuleto,
epogeu em altos tectos.
Teus beijos
guardados,
mesmo dissimulados,
de paixão eventual,
sempre resguardados,
são peças de cristal!
Poema estrelado
Fiz de um poema um colar de estrelas
Passei-lhes uma linha, agrupei-as
Dei-lhes a forma de constelação
Tirei-as do céu, pu-las ao pescoço
Iludi-me, pensei que eram jóias
Roubei-lhes o brilho, cobri-me de ouro
A noite sombria vestiu-se de luto
Sem luz, lá no alto... um escuro de breu
Sorte que o poema era um sonho meu
Maria Fernanda Reis Esteves
54 anos
natural; Setúbal