Poemas : 

Brachycera ou A(s) Mosca(s)

 
.


A mosca
e sua paixão
pela fresta
da janela que abro.
Nunca tenho sopa,
ela nunca pousa.
A mosca passeia
em zumbido árido
pelo cubículo-lar.
A mosca enxerga
linhas divisórias etéreas
e outros prismas.
Baila colorida
no meu ar.
Ai dos insetos!
(que invejo menos)
mas invejo pouco,
por poderem voar.
Ai de sua pequenez
diante da minha
maioridade aerosol.
Quando aponta
na fresta,
mentalizo a mensagem
e envio
ao astronauta-mosca.
Não há sopa,
não há pouso,
não há paciência
para seu ganir
em zum.
Zumba!
Zabumba!
Zumbaio você,
mosca,
e peço que vás,
pela fresta, de ré
ou em festa,
antes que eu
determine sua sina,
sentença de morte.
Maldita sejas,
por não ouvires.
Eu, D-limoleno,
Rayd, protector
em meu zum
artificial e letal,
embriago-a,
mosca.
Zabaneira barata
por odores,
danças no olor
de laranjais,
a fragrância
do fabricante.
Sua morte flagrante
nesse mesmo ar
meu.
Enveneno-a
e homeopaticamente,
a mim.
Mosca de matar-me
de raivas ancestrais
de seus pousos conspiratórios
nos pires do meu oratório.
Acompanho
sua última dança
mais zumbida que nunca,
viras kamikaze
e joga-se brutalmente
no meu quadrado chão
e giras
enlouquecida
como se risse
em zum contínuo,
quase cigarra.
Morres.
Fito o quadro funerário
e a carcaça já não jaz;
nunca acho os corpos
delituosos.
Em ossos,
Raul lembra que se mato
mosca
outra vem,
de algum lugar.
Eu digo,
vem do além.
É a mesma mosca
a voltar.
A mesma ancestral
da sopa genética
milenar,
do mar de onde saí.
A mosca evolutiva,
mentecapta,
reencarnada
e aflita para vir,
ir,
voltar
e dizer em zum:
- não adianta -
zurzindo ziquiziras.
Mosca necrófila
fiando a fila do meu azar.
Animalia
Insecta
Desinfeto-a,
enquanto
posso.
Volte
enquanto puder,
Cumpra-se a sina,
tua, mosca,
e minha.

.

 
Autor
thiagodebarros
 
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Enviado por Tópico
Felipe Mendonça
Publicado: 05/01/2013 21:21  Atualizado: 05/01/2013 21:21
Usuário desde: 01/12/2011
Localidade: Rio de Janeiro
Mensagens: 533
 Re: Brachycera ou A(s) Mosca(s)
Excelente este poema, especialmente em suas camadas fônica e semântica. Gostei deveras. Grande abraço.


Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 05/01/2013 21:55  Atualizado: 05/01/2013 21:55
 Re: Brachycera ou A(s) Mosca(s)
Não gosto de moscas, mas existem por alguma razão, incomodativas, sem qualquer dúvida poeta, mais ainda:

"ir,
voltar
e dizer em zum:
- não adianta -
zurzindo ziquiziras."

Um cantar animado Thiago, também necessário.
abraços
maria


Enviado por Tópico
Alessa
Publicado: 07/01/2013 00:55  Atualizado: 07/01/2013 00:55
Da casa!
Usuário desde: 20/09/2012
Localidade: Parnaíba/PI
Mensagens: 478
 Re: Brachycera ou A(s) Mosca(s)
Olá, caro Thiago!
Gostei do teu poema. Muito interessante. Favoritei. Realmente as moscas são desagradáveis, principalmente quando se quer dormir. Afff! Rsrsrs. Claro que elas tem seu papel, os malefícios que causam nem se comparam aos benefícios. São transmissoras de doenças, carregam outros agentes nocivos, prejudicam grande parte dos vegetais (para o meu azar, rsrs), dentre tantos outros. Mas também podem se alimentar de outros insetos, em alguns casos, bem maiores do que elas, fungos ou bactérias. Esta daqui eu nunca esqueço, Drosophila melanogaster. Até parece que aula de genética e evolução só tem a tal Drosophila como exemplo!! Kkkkkk. Devaneios da Zoologia. Ri muito!! Spray nas moscas! Rsrsrs

Um abraço,
Alessandra



Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 07/01/2013 01:36  Atualizado: 07/01/2013 01:39
 Re: Brachycera ou A(s) Mosca(s)
Eita! Incursões ao universo Raulziano.
Eu sou a mosca
Que pousou em sua sopa
Eu sou a mosca
Que pintou prá lhe abusar.

Muito abusado, sempre! Que máximo! O que me encanta é o seu transitar absolutamente à vontade com as palavras, como disse bem o Felipe, explorando os aspectos fonológicos e semânticos, sem nenhum pudor.

Bj.