Prosas Poéticas : 

"As Asas Soltas"

 
Penosa, aflitiva a espera…
Águas revolvem um sabor a medo, ondas desatinadas do tempo deste poema.
Não são as mãos, ecos e loucura deixam entornar no meu leito, fundamentos de criança, perdida, embriagada, neste mundo que espreito.
Não mais perfeito, como nunca o fui, tenho nevoeiro, estrelas, o sonho aperta-me sufocando, o sabor de uma palavra quase extinguida.
Tão velho quanto as mãos que se desiludem, fracassado, a lua é feiticeira, palavras doentias golpeiam sem dó, o renascer de mais uma ideia.
Pó nas mãos castigadas, pesadelo, fome de ternura embalando o que resta de vento, cansado, de espelhos sem imagem, deito-me no delírio das viagens, sou terreno!
O tempo tão pouco, um minúsculo momento, guarda a sabedoria das palavras, meu único alimento…
Tomo sabores, estupefaciente navega o corpo que delira, gritando uma palavra de medo!
Não sou mais do que já fui, criado nas beiras dos rios, alucinados, arremessando pedras ao vento acobardado, maior guerra a granada que são as minhas mãos, despejam, sementes de dor no solo desdenhado.
Criança, volvendo a terra e o céu, demagogia, loucura despida, corpo de homem persegue, restam plágios, dor, sofrimento maior olhar os anjos, suplicar a acalmia, não ter nada, ser quase tudo, um dia…
Afoga-me o silêncio, palavra entornada na garganta rouca, grito alucinado, fantasma, minha nova morada, farto, pesadelo cerca-me de caminhos, não me levam a nenhum lado…
Antes de mais, ou, antes de tudo…
Tentei! Lutei para ser um homem, não sei, criança perdida em mim silencia todas as palavras de derrota, aurora de paz chega com brisa oxigenada, o choro, as janelas assombradas das minhas madrugadas, nas suas cortinas amparam, fragmentos das palavras estudadas, onde me deitei, fiquei, insistentemente.

Sabor a medo, sabor a palavras, sabor a mundo, a céus, a nada!

O espírito eleva-se agora, nu, carregando consigo falsas esperanças, homem afoga nas lágrimas suas, paisagens enamoradas, momentos sagrados, dói a criação a soltar-se, das mãos suas.

Não sou quem era sem ser quem sou… Meio… Enlouquecido, talvez!
Agora… Agora sou luz! Água gelada acariciando um corpo de sol!...

Sou tudo! Tudo e nada…

Vontade liberta-se de passagem, do ser terreno, espiritual é a alma que se movimenta no cinzento das nuvens, que vestem pesadelos e embriagam os céus.

Ilusões! Vivo ilusões devaneias, perdido nas vozes alheias, aflito, perdido, respiro!

Se eu fosse um pincel, o próprio sabor das mãos…
Se eu fosse a cor, a mistura das sombras, construindo uma palavra feita de criança, a que eu fui… A que eu sou.
Se asas me levassem daqui, saboreando o medo, sei, que me perdi…
Se fosse palavra, eterna, silêncio desabava o corpo solene, as mãos carícias enfeitadas, não mais… Não mais seria frio… Inferno! Inverno…
Se eu fosse mais…
Ou, se eu não fosse mais… Nada.

Teria asas e voava.

Paulo Themudo

 
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Paulo Themudo
 
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Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 11/09/2008 20:14  Atualizado: 11/09/2008 20:14
 Re: "As Asas Soltas"
"Sabor a medo, sabor a palavras, sabor a mundo, a céus, a nada!"

Sabores a tudo e a nada, num Nada.

Navega-se num imenso oceano...os seus textos

Bjs
Dolores


Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 11/09/2008 20:26  Atualizado: 11/09/2008 20:26
 Re: "As Asas Soltas"
Paulo, é a primeira vez que leio um texto seu ... Deixe-me dizer-lhe que adorei, do princípio ao fim, seguir a linha do seu raciocínio (ou da falta dele)! Perdi-me nos seus devaneios e também eu voei, como se tivesse asas
Muitos parabéns!
Um beijinho.