PARA UMA MULHER QUE SE PREZE
(Jádison Coelho)
Uma mulher que se preze
veste roupas longas
é delicada e não diz palavrão,
muito menos solta arroto ou peida
na frente do maridão.
Sonha com o seu casamento
e a hora de ser aceita por um homem
diante dos olhos de Deus.
Uma mulher que se preze
senta de pernas cruzadas, é comportada,
vive para a família e os afazeres da casa.
Uma mulher que se preze
está sempre pronta para atender
às vontades de um macho
(macho, o denominador comum)
Uma mulher que se preze
não dá motivos nem apoquenta ainda mais a sociedade
e se contenta com a sua reles existência nela.
Uma mulher que se preze
não quer ser Mulher-Poesia,
fala pouco e age quase nada.
- Caluda, ouça o que ordena FALO!!!
Mas, porém, contudo, entretanto,
sinto em te informar que
se mulher fosse, me prezaria,
e seria eu
prezada puta!
Para as minhas mulheres, que se prezam, e muito
INSÔNIA E PRECOCE EJACULAÇÃO
(Jádison Coelho)
Numa madrugada um poeta que sofre insônia perguntou a outro que sofre de ejaculação precoce:
Qual o sinônimo de poeta?
Destampou do teto da boca a resposta mais cartesiana:
poeta é tb irreverência
é linguagem deslocada
a pedra no meio do caminho
que vive entre a ponte
que não é igual ao mundo do rio
está sempre na fronteira, espaço de e em transição.
o poeta é poeta e não só isso, é frase iniciada por letra minúscula
e sei lá mais não.
tem gente que sabe da sua existência
tem outros que nem fazem questão
é, pois, o poeta é feito ladrão
que descortina o palco
destampa algumas palavras
levando consigo sempre um palavrão.
o não que é sim o sim que é não
afirmado de negação daqueles que não tem a sua mesma
função:
ser uma mosca na sopa ser uma mosca ser uma mosca em cima do arroz com feijão.
Desgraçados são os poetas,
uns sofrem de insônia
outros de precoce ejaculação!
EU TENHO MAIS DE VINTE ANOS
(Jádison Coelho, em 25 de Julho de 2013)
Hoje de noite quando acordei
sonhei a vida e me espantei:
eu tenho mais de vinte anos.
E até medo eu senti,
parece que foi ontem e logo ali,
quando de dia planejava o meu hoje
que nunca chega e sempre passa.
Na madrugada me vesti,
me rasurei, me detive
nas celas da vaidosa vaidade.
E quantos projetos nem lembro mais,
meu destino parece não ser capaz
de ser vida planejada.
Carrego 10 mil anos no calcanhar.
As rugas me chagam pelas unhas dos pés,
vivo morto na beirada do medo
de ter o tempo estampado em minha cara
lânguida como uma unha apodrecida de madura:
pronta por cair.
Corro para a rua vendo a lua.
Enlouqueço,
quero um stop no tempo to stop doing dar no tempo certo,
de tanto fôlego , e tanto fôlego, sufocado de tanto fôlego
a me fazer sobrado ao vento.
Já as varizes,
as varizes me doem as pernas.
E eu só tenho apenas mais de vinte anos.
O futuro em minha porta
está ele de malas prontas
e entra lambendo os dedos dos pés
para a morte, que é logo ali.
Não morrerei velho,
assim foi cantado e assim é sabido.
Pois, jovem velho vivo do grito,
vivo do espirro.
Amanhã tirarei um cochilo.
Sonâmbulo ainda me admirarei:
EU TENHO MAIS DE VINTE ANOS!
Conversando com o Vento
Quando a tristeza chegar, não a dê muito importância. Leia um livro, leia três livros, vários livros, leia o mundo, leia a vida. E se insuficiente ainda for, e a tristeza não te deixar, escreva um livro, escreva três livros, vários livros, escreva o mundo, escreva a vida. E se não restar mais opções (re)escreva tudo. E se mesmo assim nada mais fizer sentido, seja você, seu próprio escrito do couro ao textual da carne!
Jádison Coelho
Salvador-BA
MAIS CATARRO, DE SEU QUERIDO BEM QUERER
(Jádison Coelho)
Tenho aqui,
bem aqui,
catarro que enrosca na minha goela,
catarro que rumino no vai e vem,
catarrárrárrárrárro
que em meio tanta saliva,
por pouco irrita!
Catarro, seu eremita, pronto para fazer reunido
catarrárrá-rárrá-rárro numa cusparada só
projetada no teu nariz, nos teus olhos bentos,
na tua boca que confunde eu
com qualquer outro orifício
de dejetos mal cheirosos.
E antes fosse isso,
seria isso aquilo que pelo menos serve de adubo
e nem se compararia ao meu catarro,
um instrumento de excreção de tanta pureza
que pra mim de ti foi ofertada
com o labor da sua mais nobre inTENSÃO
de me revirar ao quadrado
para tornar-me à sua maneira tola de dizer:
Oh! Veja-me nas roupas nobres por serem simples,
veja-me no belo porte que exclui um escarcéu
o quão gosto eu de rolas,
eis aqui o que não cabe à nenhuma moça:
a minha mor sorte!
Hum, mas não, eu escarro
e sujo todo o teu tecido alvo
com o meu catarro no alvo das tuas vergonhas
e até escarrárrárrárrárro
na face de um tal clássico isolado,
e beijo o rosto do teu Cristo,
e apesar dum pouco de você eu gostar,
assim como sei que dum pouco de mim
a ti é um agrado,
tu por mim três vezes é negado,
mesmo que agora confesso-te admitindo
ser eu feito barata:
que te catarra,
que te beija,
que te escarra,
que te morde,
te catarrárrárrárrárra
e depois,
assopro-te.
Então, bem feito pra ti, eremitão,
que saíste do teu esconderijo
do teu deserto para se relacionar
logo com quem (?):
comigo,
Seu Querido Bem Querer!
Pra não mandar todo o mundo pra...
MULTIsSEXUAL
(Jádison Coelho)
O que você come? Banana ou maçã? Vou te responder de uma forma diferente: Gosto muito de comer testículos de boi, de preferência, que numa moqueca com bastante leite de coco. Também gosto de todos os tipos de peixes, mas alguns, somente para tira-gosto e mais nada, além de uns arrotos. O prato pode ser típico, "exótico", mas tenho que sentir entrando no meu intestino e antes, pode passar pelas minhas goelas, sem nenhum problema, e com muito prazer, e com muito prazer mesmo! Mas eu até me atrevo e ataco o menu principal com a mão, posteriormente lambo os dedos feito um típico comilão. Sou apaixonado por pratos diversos, ainda mais se o prato me der aquela piscadinha e alcance o meu inexistente coração, que recupero eu e o prendo no cordão da minha bermuda. Gosto de variar o cardápio, comer, beber e tragar o que me der na teia. Meu gosto não é curto, mas é curto e bem grosso de tamanha vastidão: Conhaque, cachaça, bebida água, bebida leite, suco de limão. Curto o que vier na minha cabeça, atravessar o meu paladar de cima e de baixo, para depois dizer: EU TRAÇO! Nem que ao menos seja eu, o traçado!
DOSES HOMEOPÁTICAS
Isso tudo é pouco pra mim, queria menos que isso tudo, e assim seria o meu muito o pouco que não tenho mais, nem fora me permitido ter um pouco. Assim quis o tempo, mesmo antes d'eu nascer, que tivesse eu tudo de muito. Mas eu queria ter tudo de pouco, um miudinho de grão assim ó, no mar, doutores. Os "burros", por exemplo, são felizes ou mais felizes que os jantantes. A comida, vejam só vocês senhores, sasseia a fome, que é um prato cheio nesta reles vida aonde brincam, os sem muita paciência, de ter lattes. O burro escapa pelas suas tangentes e alcança as minhas mais profundas metáforas de ter muito querendo do pouco fazer parte. Eu quero um pingo, de vez , assim ó, p'reu dançar na chuva. Isso sim, é ter muito, é ser o que sempre quis! Quero ser pouco, um pouco de mar, um pouco de nuvem, um grão que o vento leva pra longe. O meu lattes inexiste no meu pouco querer, que muito me revê em doses homeopáticas
BRASA
(Jádison Coelho)
Confesso não ser pior que a boca satânica
infernalmente endiabrada do século XVII,
Boca de Brasa à Cidade da Bahia.
Mas,
Cuidado!
Posso ser pior do que deveras me é permitido
e te tirar a vida com a lápide da minha verve
bem direto na tua cabeça
que é pra cair de um só arremesso e ir pro raio que o parta,
no inferno fazer morada.
No inferno não.
As portas de lá não estão abertas para você
E os meus dentes andam sempre mal escovados!
O inferno é pra pessoas más,
Assim:
como eu!
que já entro sem pedir licença!
carregando na boca as bactérias que sempre almejei ter um dia.
Para os bem cheirosos!
Ave, Papa!
Hoje estou Católico Apostólico Romano com a chegada do Papa! Estou no meu anormal de ser!!! Mas nem precisam dizer Amém! Que é só a Santidade ir embora para o diabo tomar conta do que dele é de posse: o meu corpo! Ave, Papa, Faz um milagre em mim!!!
AS TÊMPORAS E O BÚFALO
(Jádison Coelho)
Do rio,
a têmpora dos tempos encobertos.
Dá pra de longe ver as olheiras ainda aqui
causadas por ganchos e relógios que contam
os minutos de um maldizer
no vagão da noite lambida pelos Titãs,
que mais enlarguecem as olheiras
barulhentas e inflamadas por
nelas dependurados relógios bombas,
podendo a qualquer momento explodir
e explodir e explodir numa explosão
do gotejar das lágrimas inflamáveis
de um Búfalo Brasa Acesa,
que com força fixa as patas no chão,
acabando com todo o verde local.
Onde tem pegada de Búfalo
não se faz a esperança da rosa nascer pro sol,
se difícil já é: rosa nascer pra sombra nua.
Búfalo vos engana com o anzol que finge não ferir
para não despencar Búfalo do seu pedante patamar.
Sob os tempos do rio navega
a vida que perdi quando
rejeitei falar de amor pra você, meu bem,
e não por que não quisesse eu,
mas porque se fez aqui oculta a coragem
de ser abraçado por punhais.
Búfalo só soube golpear,
ser golpeado é caso pra depois da morte
de Búfalo.
Olhei para as têmporas dos rios encobertos
e não me transformei
em estátua de sal, muito menos me refiz
em três dias de jejum à toa, entretanto,
Búfalo virou pedra e se movimentou na capoeira.