Está na hora
        
        
         
        
        
        
        
        
            O mundo é mais belo pela madrugada
Quando os pássaros já voam e o Homem ainda sonha
Quando o Sol arrependido devolve ao mundo a sua cor
Mas é breve o instante
Ao longe o caos vai trepidando
Seus passos, lentos, se apressando
Sem pressas, louco, atropelando
Com tempo, pouco, reclamando
Às portas da demora:
Está na hora...
Está na hora...
Está na...
E eu vou, já vou, só mais um pouco
O teu cheiro travestido é travesseiro
Onde encosto o meu rosto entorpecido
Onde me entrego à lembrança por inteiro
E pelos campos da lembrança vou perdido
E perdido te acho
Toco-te ao de leve a face
Fito os lábios vincados num sorriso
E me curvo em ti
Não me soltes deste abraço
Não me deixes só
Não me deixes nesta hora
Pois eu sei que está na hora
E tu bem sabes, está na hora
Que é só esta, está na hora
A nossa hora, está na hora
Agora, está na hora
Agora, está na hora
Agora, está na hora
Ago...
        
         
        
                
     
                                                 
    
        
            
adormeço nos tentáculos de m’alma
        
        
         
                
         
        
        
        
        
        
            à beira da praia
sinto o pensamento dos rochedos
e em meus lábios arde a flor de sal
recém-chegada da noite
escorre pela garganta seca de silêncio
a inundar o meu corpo de areia
tentando cobrir esta solidão
da sua incapacidade de expressão
e nas ondas surge um vazio
de uma concha fóssil secular
a rasar a vastidão do mar
onde ferve um tempo reprimido
entrego-me ao fundo do oceano
para encontrar outra luz outra vida
suspensa na densidade das águas
aconchego-me nos limos e nas algas
e preso na rede dos meus sonhos
adormeço nos tentáculos de m’alma
        
         
        
                
     
                                                 
    
        
            
Meus ais
        
        
         
        
        
        
        
        
            Meus ais
Meus ais são grito de alma ferida
fazem lembrar os pios das gaivotas
que solitárias voam em pleno mar
atrás das traineiras seguindo rota.
Como gostava de abalar, fugir, voar,
ir ao teu encontro para te acarinhar.
Dar-me inteira, viver aconchegada
nos teus braços viris, te poder beijar.
Por acinte salto os picos dos rochedos
subo as rochas rasgo os pés de dor
que o mar vem, quer os meus segredos.
As minhas lágrimas caem e nada digo.
Olho o céu, o coração bate com força
e eu queria tão pouco só estar contigo.
        
         
        
                
     
                                                 
    
        
            
só o rio corre...
        
        
         
                
         
        
        
        
        
        
            Há silêncio nas molduras,
o tempo a sobrar.
Calaram-se as vozes,
o sono acabou por chegar.
Venturas e desventuras,
o tempo entristeceu,
a manhã jamais rompeu!
E um gemido se ouve,
nos pomares e hortas
onde vida já houve.
Agora só lembranças mortas.
Só o rio corre!
A  lua chega sempre na hora certa,
o sino toca dá notícias de quem morre,
a aldeia deserta.
Só os cães ladram,
pressentindo a morte.
Ergue-se o silêncio dos que esperam
igual  sorte.
Casas sem vida, portas cerradas,
com o tempo a sobrar.
Só as molduras caladas,
resistem ao vazio,
enquanto as noites descem.
Lá em baixo o rio,
e as ervas crescem,
onde a luz é mais forte,
e o lençol de linho embrulhou a morte.
O vento arranca as flores,
que se negam a abrir,
e para sempre as dores,
no peito a fluir.
Tudo se esconde no cinzento,
sem nenhuma forma ou beleza,
é tudo o que observo com tristeza,
e lamento.
Aproximo-me de mansinho...
Todos se foram,
há tanto tempo!
Só o rio corre…
Só ele não morre.
Vai chorando  baixinho.
natalia nuno
rosafogo
        
         
        
                
     
                                                 
    
        
            
Meu disfarce...
        
        
         
                
         
        
        
        
        
        
            Não sei por quê?...
É difícil de entender!
Pensar que a melancolia
Das noites frias e vazias
Trazem-me tristezas - alegrias. 
Minha companhia, amiga.
Experimenta do meu fel 
E, se, mantém fiel.
É ali que me revelo...
Deixando minhas quimeras...
Meus sonhos de primavera,
Aonde ouço minhas canções de amor
Desnudando-me sem pudor!
Mostrando meu sorriso multicor...
Até as lágrimas beijarem minha face!
Eis ai, o meu disfarce...
Dormindo antes que a solidão me trace. 
Por Mary Jun.
Guarulhos,
26/01/2015
Às 17h30min
        
         
        
                
     
                                                 
    
        
            
eu estou lá fora
        
        
         
                
         
        
        
        
        
        
            sinto-te perdida nesta vida
viras as costas à tua alegria
e ao amor não sentido ainda
sinto o teu corpo em lamento
uma solidão presa num gemido
no grito que me traz o vento
qual dor qual sofrimento
de um olhar já tão dolorido
de tão sagrado sentimento
recorda - amor - este momento
deste sentir a te sentir agora
num suave e breve fragmento
é hora - tenho que ir embora
eu nunca quisera ser violento
com a tristeza que em ti mora
a alegria de mim é o teu alento
abre a porta - eu estou lá fora
        
         
        
                
     
                                                 
    
        
            
Mapa de lágrimas
        
        
         
                
         
        
        
        
        
        
            Mapa feito de lágrimas
ao som do profundo ser
Ali estava no passado
O meu futuro querer
Uma chave a rodar
Um corpo a afundar-se
linguagem difícil de apagar
desenhada na minha face
Realidade pura de dor
Uma crueldade garantida
Um tempo ligado
A uma morte preconcebida
Dei agora vou querer
Algo em retorno
Chora então por mim
Onde me deixaste ao abandono.
CA
        
         
        
                
     
                                                 
    
        
            
muros do esquecimento
        
        
         
        
        
        
        
        
            Já não pousam os pássaros
nesta árvore de ramos nus
nem os sonhos têm encontro
marcado
neste pedaço de vida
aprisionado...sem luz!
Só uma solidão altiva
ameaça precipitar-se
sobre quem sonhou outrora,
e vem agora sorrateira
enfeitar-lhe o rosto
rasgar-lhe a pele
num amargo fel.
Embora seja só uma réstia
de esperança
há-de habitar-lhe sempre
a mente uma lembrança,
irá colher... uma a uma
com paixão
e se um dia ficar sem nenhuma
morrer-lhe-à o coração.
A memória será espelho partido
pássaro solitário,silencioso,
será o silêncio depois das palavras
será a ausência sobre todas as coisas
ganhas e perdidas,
sol misterioso,
que se esconde atrás das nuvens,
vestígios de vivências estremecidas.
natalia nuno
rosafogo
        
         
        
                
     
                                                 
    
        
            
Sem melodia, sem poesia... 
        
        
         
                
         
        
        
        
        
        
            Queda, muito além de mim,
Num mundo de ninguém 
No silêncio de minha alma
Um sentimento que nem eu, 
Compreendo? Entendo, 
Mas é tão claro o vazio 
Do profundo do âmago.
Silêncio..., silêncio...,
Apenas quebrado pelo 
Murmúrio do vento 
Que insistia em tocar-me, 
Todavia, outras vozes
Não permitia-me ouvi; 
Apenas o brado do coração
Latente; 
Não pude fugir de mim
Onde encontrei-me assim.
Procurando por mim. 
Num vasto vazio - pois a voz 
Da alma não me falava nada
Incomum a minha realidade
Nesse instante; só senti o pulsar
Sem melodia, sem poesia...
Mary Jun – 17/ 12/2016
        
         
        
                
     
                                                 
    
        
            
Bebia o silêncio e o frio
        
        
         
        
        
        
        
        
            Um copo já está vazio,
Ele continha a minha chuva; 
Na inspiração, o silêncio e o frio,  
E a mão que vestia a luva
Beijava o copo; 
Bebia o silêncio e o frio; 
Bebia a bebida de topo; 
Bebia o silêncio e o frio. 
Já é tarde, tão tarde; 
Para mim é sempre tarde; 
é sempre tarde; 
Sempre tarde.
E se é tarde minha paisagem 
tem palitos se quebrando
e tu que lês,vês na tua imagem.
Oh será cedo? Tão cedo? 
Que o sol ainda não raiou! 
E a lua contou um segredo 
e eu permaneci como eu sou!
Ana Carina Osório Relvas/A.C.O.R