queria que fosses meu eterno abrigo [1]
Queria que fosses terra nunca antes plantada
Que fosses da minha dor Alteza fera
Que fosses, salutífera, da minha cura a Quimera
Que fosses Fortuna nunca antes amada
Queria que fosses a lira por Orfeu destinada
Que fosses a Lei que me assenta à Terra,
Que fosses do meu sossego a eterna Guerra,
Que fosses por meu dano a Cleopatra criada
Queria que fosses astro que conserta meu Plutão
Que fosses Justiça que Aristeu condenou
Que fosses da vida a indesvendável Razão
Queria que fosses pra mim O que Atlas segurou
Que fosses a fé que ungiu Abraão
Que fosses a dor que Romeu o matou
Casa comigo...
por querer que fosses
na terra, mar e céu
meu eterno abrigo!
Não acredito em Deus... por acaso
Eu acredito em Deus, mas não acredito por acaso. Acredito porque: basta olhar para a Natureza para ver a perfeição da ligação dos organismos vivos, em que os “bons” e os “maus” ajudam-se mutuamente para um equilíbrio do ecossistema, tudo perfeito. É só olhar para um ser humano e ver uma verdadeira maquina a funcionar constantemente em torno de uma ligação entre as ações, o sistema nervoso e o cérebro. É só olhar para um ser vivo qualquer e ver que cada peça do seu corpo tem uma função e que nada num ser é por acaso ou inútil. Multiplicarmos em torno de um padrão genético (o DNA) de uma linhagem evolutiva herdada dos nossos antepassados, onde nenhum de nós é igual ao outro, nem os gémeos monozigóticos. Onde os desenhos feitos pelas papilas (impressão digital) são únicas e exclusivas de cada ser em todo o planeta. Se eu pensar que o mundo é obra do acaso, seria um pensamento catastrófico porque teria de chegar a conclusão de que o universo pode desaparecer a qualquer momento. E isto é caótico! É por tudo isso que digo que não somos nem nunca poderíamos ser uma obra do acaso. A natureza é fantástica, Somos incríveis e fantásticos porque somos filhos dela, apesar de sermos como um piano que de vez em quando desafina e precisa de reparo. Mas esse é o desafio da vida, a perfeição máxima que a vida nos dá, é esse reparo constante que faz a vida valer a pena – mas isso não tira o brilho de uma coisa fantástica que é a Natureza e que acredito ter a mão de algo superior (Deus)
No dia que me mataram, eu nasci
No dia que me mataram,
eu nasci
Num bosque sombrio ao céu aberto,
eu nasci
Em qualquer hora que fosse, não sei,
eu nasci
Virado pró luar que rasgava o Deus,
eu nasci
Do ar da moça que aroma a delírio,
eu nasci
Dos pecados ténues, da boda do vento,
eu nasci
De todas as maneiras me mataram,
e eu nasci,
Jamais morrerei sem viver, por isso,
eu nasci
O "Pecado"
A mais doce da sua fruta, Sintra me deu
A mais proibida ser não podia,
Que faz-me do sonho a proeza de um viver
Traçado em riscos de sorrisos ténues, curtos e doces
Disfarçando por entre as folhas
O açúcar inerente do pecado que me consome
O sabor atrás se esconde da bela cor
Morena é a moça que me trouxe dela
Do aroma frágil do ar da beira do Porto de Sintra
Dos sabores mais ardentes
Que viçam em lábios a cada beijo,
Ó alma minha! Ó alma minha!
O paraíso a porta se assoma…
Cabe a mim, sem deixar a alma à porta, nela entrar
Ah, que mais doce proibição!
De que água bebeste tu
Pra seres a sede que os meus lábios veneram!
De que água bebeste tu!
De que água bebeste, ó moça!
Para que alma minha vulnere a tua ausência
Soneto
Ouve só, nesses versos, clamor
Matas-me toda Vida que dás vida
Se morri, foi a vida que me foi tanta dor
Se vivi, foi a morte tanta vez sucumbida
Tantas vezes que não fostes tanto amor
Ouve só, imenso, tantas águas desse rio
Fui Mar e Céu que guardou teu dispor
Ardor que enobreceu teu beijo tão frio
Ouve as águas desse mar, exaltadas
Voam brisas que das pedras desgarradas
E posso Servo, posso Rei e Imperador,
Que faz vir, dessa alma, a voz além da dor.
Que a Roma (amor) foge da morte
Por mais Ulisses que esse mar deu a sorte
Bretiney Rodrigues
O meu jeito de amar
O meu jeito de amar
É um vazio cheio de dor
Preenchida por ondas de belezas raras
Que me matam, a cada quebra intensa,
Num sufoco de soluços das lágrimas caídas
O meu jeito de amar
Uma flor seria, de império desmedido
Que deslocasse montanhas
No mover dos meus dedos
Que fazia chover Deuses de toda galáxia
Num hino perfeito, que tu serias refrão
O meu jeito de amar
Podia ser um sorriso destemido
Esplendoroso e divino aos olhos do mundo, este
Que mergulha num mar torpe de ilusões
Num abater de todo o mal, que tu serias heroína
O meu jeito de amar
Um paraíso seria, de aves afinadas
Que cantavam o hino dos Deuses
De um sol penetrante dentre as plantas coroadas
Pelas flores, que teriam teu cheiro.
Carta para o meu Amor
O vento que me trouxe,parou…
Deve estar avariado nas poeiras do tempo
Ou nas minhas lágrimas que caem
E arrastam para o Tejo. Ou no resto que caiu
Nas garras do Douro e ninguém viu
Amor, por aqui vou vivendo
No soluço dos meus choros,
No consolo do amor recíproco
Que faz ver sem negra dor absurda, que
Só o tempo não é pequeno
Para um amor tão grande e pleno
Amor, eu vou indo…
Não com os passos que dantes dava.
Estes estão desarranjados, sem conserto.
Já sem ti, nem sei se vou ou se fico
À espera que chegues no vento que vim,
Mas esse vento parou quando me trouxe
Então, tenho que ir até a ti, amor mais doce
Se esse vento não me levar
Vou na mesma no vento mais próximo
Talvez demore até chegar,
Talvez chegue na mais breve manhã…
Desde que vá ti ver, amor
O vento é paciente o tempo que for
Estou tão próspero e leve…
Basta que o vento me leve em breve...
Ilusão
Chegou a pronto, o salvador dos hem
Neste dia que o Sol reluz
Em pleno inverno, e entre as nuvens vem
A luz rebelde e sedenta, que seduz
A inocência radicada na pura alma.
Tão belo, o brilho do mal
Que leva ao torto caminho do carma
Por ilusão estúpida e fatal...
Implora o amor eterno, Alice perfeita,
Uma eterna princesa
O amor já não vem a cavalo, nem é feita
Com ramos de rosa de brilho acesa.
As fadas morreram, sozinha, és Alice
Sem castelo, num tudo imperfeito
Num amor furado, hipotético, que és artífice
Chora Alice, é o mundo de despeito
Chora Alice, mas lágrimas por amor é curto
Ouvi que lá, na terra dos meus,
Escondida atrás das árvores do porto
O vento leva esperança.
Perspectiva de nada, nem glória dos céus
Veta a sentença
Dos que perdem, na curva ermida.
Vês, Alice? Somos alma iludida
A fase perfeita do ciclo da vida é a fase final (a morte)
O nascimento de um Homem é quase perfeito, seria perfeito se fosse inevitável, mas não é, pelo facto de ser dependente do próprio Homem. A vivência após a nascença é indubitavelmente imperfeita, uma luta constante entre as balas sentimentais que mostra a imensa vulnerabilidade que damos à nossa alma. A única fase do ciclo da vida que o Homem comporta de forma perfeita é a sua fase final, a morte. Nisto o Homem não falha, não falhou nem nunca falhará… a morte é perfeita, por isso que digo que uma vida sem erros é uma morte, porque a morte não falha. Dizer que a morte é perfeita, alguém há-de achar que é uma coisa dita de forma profunda… e não deixa de o ser. Um pensamento sobre algo tão profundo que arranca até a alma pela raiz tem que ser profundo. Podem achar que pensar na morte é algo assustador e deprimente… e pode ser, como também pode não ser. O Homem quer ser perfeito sem saber separar a perfeição da imperfeição, sem saber que a perfeição é assustador, fria, calculista e previsível e que a imperfeição é atraente, calorosa, viva e imprevisível por isso que a vida é imperfeita e a morte é perfeita. E desta forma é, sim, assustador e deprimente pensar na morte. E, sendo assim, pode se pensar que perfeito seria se a morte não existisse. Mas pensar assim é um acto de egoísmo imensurável, de uma fatalidade psíquica gigantesca e de uma futilidade impar. E é exactamente neste ponto que a morte torna ainda mais perfeita: ela existe para que outros possam existir. E desta forma, diga-se, não é assustador e nem deprimente pensar que um dia morreremos.
Carta de uma mãe
Nos olhos da mãe dizia:
Ó filho esperança do mar,
Que te leve a sorte do azar!
E que benção seja doce desta maresia!
Olha, filho, no meu Rio, poesia!
Os versos que caem do amar
A dor que brotei para este Mundo matar
De ódio, amor e cruel fantasia
Ó filho, ó graça da minha desgraça!
Que seja o Mundo, esta sina,
O Céu que te ampara nessa vida!
Ó sangue vivo que me traça
Ó fé que o Céu me deu divina
Ó honra e dádiva merecida!