Poemas : 

da noite em que o amor se eternizou

 
rasguei os teus nomes na areia
com ejaculação sanguínea
dos grãos

as cicatrizes das formas marulhadas
eram rosto do bramido
agrilhoado

verti temporizadores de inversão
e
a maresia que encolhia
no fetal
implodia-se com vagas de negrume

lacrimejaram lunares no tórrido
congelado desértico
correntes do inaudível
com dispêndio dos ausentes
e
escorreram-se de salinas
da viagem que sana
o purificado
vazio

fiz-me inerte com esquecidos
colapsada memória
no espúmeo
que se reflecte

perdi-te as formas
no irreversível
mas
do cadáver de eterno retorno
não se decompõe

arrastei-te ao cume
da fenda do abismo
e
laminei os estrelados
marquei-te as seivas
nos rochedos

porque pingavam ao celeste
inverti o espelho inverso
da ampulheta do amor

arranquei olhos
com ferros que enferrujam

furei tímpanos
com unhas lascadas de carne

empalei narinas
com almofadas de derrames orgásticos

crivei lábios
com cordas que suspendem astros

decepei membros
com brisas dos amantes de amanhã

e no tumular sem flores
me enterrei contigo

© Bruno Miguel Resende
 
Autor
Bruno Miguel Resende
 
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Enviado por Tópico
Conceição Bernardino
Publicado: 30/10/2009 08:48  Atualizado: 30/10/2009 08:48
Usuário desde: 22/08/2009
Localidade: Porto
Mensagens: 3357
 Re: da noite em que o amor se eternizou
desta forma não há como não eternizar o amor, um pouco violento.

beijo
MG


Enviado por Tópico
Caopoeta
Publicado: 30/10/2009 12:09  Atualizado: 30/10/2009 12:09
Colaborador
Usuário desde: 12/07/2007
Localidade:
Mensagens: 1988
 Re: da noite em que o amor se eternizou
..várias sao as formas de fazer amor,
poucas, sao as sensaçoes tao bem descritas...
este, é eterno sim.


abraço BMR.


Enviado por Tópico
RoqueSilveira
Publicado: 30/10/2009 12:43  Atualizado: 30/10/2009 12:43
Membro de honra
Usuário desde: 31/03/2008
Localidade: Braga
Mensagens: 8095
 Re: da noite em que o amor se eternizou
Olá Bruno.
Inspirei neste teu excelente poema e saiu este.

Eterno

Gravei na pele o teu nome.
Cloreto de sal escorrido
na cicatriz crucificada
da tua ausência.
Compus uma teia nos pés.
Pelo caminho
correntes negruras
implodiam em vagas
de puro vazio
agrilhoado.
Em queda bruta
perdi-me na procura
de ti.
No colapso da forma
da memória
negociei a decomposição
do não sermos.
Já inerte
vi a simetria de mim
petrificada
no espelho do tempo.
Num resquício de vida
ofereci os meus lábios
ao vento.
Encontra-me tu.
Meu eterno amor.


Enviado por Tópico
HorrorisCausa
Publicado: 30/10/2009 12:52  Atualizado: 30/10/2009 12:55
Administrador
Usuário desde: 15/02/2007
Localidade: Porto
Mensagens: 3560
 Re: da noite em que o amor se eternizou
o amor por si só é algo violento. contam-se as investidas insanes sem o mecanismo remoto e sem controlo.

"pectus est quod disertos facit"
é o amor que faz os eloquentes

beijo