É oiro a lua quando não há sol.
Oiro… Apenas oiro… Nada mais!
A justiça retrata-se no caracol
No vasto leque de todos os animais.
É também toupeira agoirenta
Escondida na terra e da verdade
Corvo que a cantar o mal apascenta
Nos pastos negros da fria crueldade.
Existe para apenas em si pensar
Que lucro vai obter dos condenados
É tida como santa, posta num altar
Iluminada por velas apagadas.
Pernoitam as aves na clausura
Do poder soberano da injustiça
Que é justa na sua forma mais pura
Que hoje é estátua da preguiça.
Avaras sentenças por vezes comovem
Ignaras leis feitas por encomenda:
Do corrupto tacho todos se consolam –
Poder que a outro poder contenta!
António Casado
Revisto para o Luso Poemas
22 Janeiro 1982