Poemas : 

Variações em Mi menor

 

Enovelo as palavras num fiar constante
em pura lã virgem das sílabas
que fio numa roca colada no externo
num lavor constante que ora me apazigua,
ora me faz ranger os dentes
sem nunca situar a bílis
que me aguça o engenho
deste eterno porfiar.

Se um dia é lã,
no outro é juta numa trama
de teia simples que expiro pelos nasais
que me entorpece o céu-da-boca
e me enrola o palato.
Os ajuntadores do meu tear
já não obedecem ao compasso da lançadeira
que lança agora a trama à sorte,
sem se entrelaçar na teia
que teci para mim.

E do mais puro fio
faço um xaile tosco
sem as bolandas no bordo,
tão só um fio que no entrelaço
impede que se desfaça
o que mais parece um trapo.
 
Autor
jaber
Autor
 
Texto
Data
Leituras
864
Favoritos
0
Licença
Esta obra está protegida pela licença Creative Commons
1 pontos
1
0
0
Os comentários são de propriedade de seus respectivos autores. Não somos responsáveis pelo seu conteúdo.

Enviado por Tópico
RoqueSilveira
Publicado: 27/04/2010 19:23  Atualizado: 27/04/2010 19:23
Membro de honra
Usuário desde: 31/03/2008
Localidade: Braga
Mensagens: 8106
 Re: Variações em Mi menor
costuma pensar-se do poeta que aquilo que escreve é muitas vezes o que vive, e eu acredito que pelo menos viva na escrita. quanto ao texto, se assim fosse faria da vida do poeta um novelo emaranhado e triste como um trapo. talvez tenha ele uma língua de trapo e alternadamente um trapo na língua que o cala...daí as variações...e o desalento.