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MARCAS DO TEMPO
Neila Costa
Na tela da vida
Sou a pintura que um artista,
Em preto e branco,
Ousou retratar,
Despindo os véus da noite
Que me encobriam
E deixando à mostra os meus pernoites,
Os traços que o tempo sulcou
No meu rosto...
Sem, entretanto, marcar a minha alma...
Embora eu traga no coração,
Os vestígios da dolorosa ferida,
Vincada no meu peito
Pelas dores, pelas perdas
E pelos dissabores da vida...
O colorido vibrante dos meus dias
Vai se esmaecendo,
Como as cores que se desbotam
Nas fotografias emolduradas
E penduradas nas paredes...
Hoje retrato, nas palavras dos meus versos,
A época adormecida dos meus dias,
As curvas da minha existência,
Que vão perdendo a leveza,
Assim como as minhas rugas
Que chegam e modificam,
Suavemente, o meu olhar,
O meu sorriso e o meu semblante...
Entretanto, renasço
Com as minhas lembranças,
Com os ecos dos meus pensamentos
Com o amor de quem amo
E de quem me ama...
E rejuvenesço
As marcas do tempo
A cada poesia que escrevo.
Sou o Ontem vestida no Hoje
que no Agora em que transponho
sentimentos em algo real do instante,
transcrevo o que sou ou quem fui
fora de hora.
Sou o Eu Vestida nas Horas,
que escorre pelos Minutos
e Segundos que se vão afora.
Neila Cos...