Contos : 

VIAGEM NO TEMPO (III)

 
(Previsão para o ano 2060)


Visitada uma vez mais Paris e respigando o ambiente da época (vão lá mais de 200 anos), apontamos a nave no sentido da península Ibérica e portanto do nosso País. Como a velocidade é vertigem e há uma serie de acontecimentos que decorrem na mesma época (fins do século XVIII) depressa sobrevoamos Lisboa poisando na deserta área de Monsanto para mais garantido despiste.
Por esta ocasião governa o nosso País o rei D. José e nós, através do sistema «previus», já referenciado, apercebemo-nos de que acontecimentos de vulto vão passar-se, sobretudo na região da capital. É assim que assistimos à elevação da chamada «Passarola» no Terreiro do Paço por artes do padre Bartolomeu de Gusmão. É um acontecimento digno de ver-se. Para nós coisa absolutamente primitiva, claro. A nossa preocupação, como homens dos meados do século XXI em despistarmos a nossa aparência, sobretudo o nosso linguajar que, decorridos quase 300 anos, apresenta notórias diferenças, é grande, aconselhando-nos a sermos sóbrios no nosso falar, apesar de estarmos razoavelmente preparados.
Não tarda que na região de Lisboa ocorra uma tragédia de enormes dimensões, de que somos testemunhas, justamente o terramoto de 1755 e o consequente maremoto, que de resto prevíramos com alguma antecedência não no pormenor nem na natureza exacta do fenómeno a acontecer. Sim na sua devastação, mas aspecto em relação ao qual não tínhamos maneira de tomar quaisquer providências. A nós, lamentavelmente, restava-nos aguardar os acontecimentos.
Quem na prática governa os destinos do país deste tempo é o chamado Marquês de Pombal, homem da total confiança do rei, de aguçada inteligência e poder de iniciativa. Imediatamente após o terramoto providencia pelo restauro da sacrificada Lisboa com a abertura de novas vias, de amplas dimensões e mesmo arrojadas para a época. Para além disso toma iniciativas de vulto, algumas polémicas. Determina a abolição da escravatura na Metrópole e pelo termo da inquisição que virá a concretizar-se em definitivo alguns anos mais tarde. A morte dos Távoras por determinação real, é-lhe atribuída de um modo especial, facto que é objecto de surdos comentários.
O nosso encontro pessoal com aquele ilustre homem de Estado, por muitos tido como déspota, faz parte dos nossos planos, pelo que não perdemos tempo na medida do possível em concretizá-lo.
Como em recente conversa havida entre nós fora sugerida a tentativa de um encontro pessoal com o poeta desta época Barbosa Du Bocage sugestão que despertara uma incontida euforia na minha própria pessoa, ( remoto descendente indirecto e francamente orgulhoso daquele poeta) eu mesmo, discretamente, recordo esse propósito, que é compreendido e aceite com entusiasmo pelos meus companheiros. O problema estará em conseguir-se a anuência de ambas as figuras, ambas de vulto, mas de posição social radicalmente diversa. Não imaginamos em que conta Bocage é tido pelo Marquês, dado o seu tipo de pessoa e a natureza polémica dos seus escritos. Todos sentimos de antemão o interesse num encontro com aquelas duas figuras de nomeada da Lisboa do século XVIII. Depois de várias diligências que não foram fáceis, conseguimos aprazar esse encontro, que vem a concretizar-se no Café Nicolas…

(Continua)


 
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luciusantonius
 
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