apetece-me dizer "cinco afirmações inúteis" para o sossego.

até tarde escreverei sobre mim. mais não sou que uma qualquer morte disfarçada de cordeiro pronto a ser comido pelo lobo. e todas estas coisas que me dizem, sem nexo de causalidade, guardo por me parecer que algum dia as conseguirei meter num pedaço de papel, à força de uma intenção. não sei se algum dia descobrirão onde matei as minhas duas mãos, ou onde enforquei os dois pés, ou onde esganei o coração. não sei. tenho em processo de fuga o corpo, só ele, nada mais hei-de levar comigo. e enquanto assim estiver, prestes a morrer, quero que saibam que já nada me importa, nem me interessa que digam de mim outra coisa. e se estou assim é porque assim tenho de estar. porque o corpo quando pesa para a frente, cai. apetece-me dizer "cinco afirmações inúteis" para o sossego como: abrir as pernas e parir dois corações que se amem, soldar ao céu as nuvens para impedir o sol, figurar na clavícula o peso do teu ombro, deixar crescer as mãos na frente do rosto ou morrer só porque me apetece ficar assim para sempre.