Sonetos : 

SONETOS FEITOS EM 13/08/2010

 
1
Permita-me Senhor além de ouvir
Tua palavra feita em pleno amor
Abrindo meus ouvidos num louvor
Tentando cada frase discernir
E crendo ter assim o meu porvir
Ousando neste tom libertador
Bem mais do que somente redentor
Caminho para além do quanto eu vir.
Permita-me saber quem em Ti existe
A voz de quem supera o instante triste
Traçando novos dias que virão
E neste fato além de Te escutar
Sem tréguas, sem ter nada a duvidar
Usar além razão; do coração!
2
Verdade tão somente nos liberta
E traça um bom caminho pelo qual
A vida se transforma e sem igual
Desenho traz palavra sempre certa.
Minha alma a cada instante em paz desperta
Bem mais que um rito tosco e até banal,
Usando a transparência de um cristal
De Ti se aproximando, a dor deserta;
Somente esta certeza move o passo
Aonde o meu futuro agora eu traço
Ousando ser feliz por tanto amar.
Num ato libertário e sem perguntas
Sabendo que somente as almas juntas
Conseguem com firmeza o caminhar.
3
Palavra, o vento leva e se perdendo
Já não traduz decerto o sentimento,
E quando noutra face; a paz eu tento
Sem ser tão simplesmente algum remendo.
Assim a plenitude em Ti; desvendo
Recebo em troca além de algum alento
Capacitando em mim discernimento
E um novo amanhecer já se tecendo.
Não quero me atrelar somente ao sonho,
Resgato-me deveras se eu componho
Com atos e com gestos; liberdade.
E tanto posso além do que imagino
Enquanto em Ti me entrego e, cristalino
Conheço realmente a divindade.
4
Somente o conhecer-Te libertando
Das tantas heresias que este mundo
Trazendo a cada instante e sendo imundo
Aonde deveria manso e brando.
A cada novo dia transformando
E neste desenhar tanto profundo
Desvendo o meu caminho e em Ti me inundo
Deixando para trás meu ar infando.
Libertação é feita em pleno amor
Além de acreditar vivo o perdão
E nele reconheço a redenção
Num novo caminhar a se propor
Deixando para trás o vão desejo,
Um mundo sem igual, agora eu vejo.
5
Já não se faz a vida em vão confronto,
Apenas tão somente na verdade
E sei quando ela toca e nos invade
Deixando o coração tranqüilo e pronto.
Amar sem ter promessas, sem desconto,
É conhecer inteira a LIBERDADE
E nesta perceber a claridade
Tocando inteiro o SER em cada ponto.
Vencer sem porfiar, enquanto existo
No amor que me ensinaste; amigo Cristo
E nada além verei senão a glória.
A liça que perfaço é com engodos
E sei e reconheço em mim, pois todos
Pequena criatura sem vanglória.
6
Louvar a persistência de quem Cria
E ama cada ser da mesma forma,
E quando noutra imagem se transforma
Traçando em mansidão soberania.
Deixando para trás a alegoria
Mantendo em coerência cada norma
Aonde a mãe Natura nos informa
Do Pai que se desnuda a cada dia
No irmão e nas diversas criaturas
Aonde em equilíbrios; Asseguras
Perfeita sincronia e traz à vida
Bem mais do que decerto eu necessito,
E sei do quanto em Ti é tão bonito
O amor que não conhece uma medida.
7
O universo é menor que qualquer alma,
E nela se traduz a divindade
Ao desnudar ciência em liberdade
Verdade se conhece em cada palma.
Vencer o turbilhão, a imensa calma
Enquanto noutro lado a voz já brade,
Suavidade em Luz enquanto invade
O vórtice da insânia logo acalma.
Não vejo nas vitórias o ufanismo
Somente em coerência tento e cismo
Sabendo deste equânime caminho
Que leva à redenção; um Magno Amor
Bem mais do que promessa e até louvor
Se for feito no anseio mais mesquinho.
8
A cólera transforma o ser supremo
Na fera mais atroz e insana quando
O olhar em fúria torpe se tomando
Recende na verdade além do Demo.
E quando em ira espúria nada temo
Também sou igualmente tão nefando,
Permita-me decerto ser mais brando
Num equilíbrio sem qualquer extremo.
Assim ao perceber a divindade
No ser que insanamente e em vão não brade
Deixando para trás este ar fanático.
O Amor não é somente, pois verbal
E deve ser; portanto essencial
Jamais ledo e teórico ou temático.
9
Não vejo um heroísmo em quem porfia
Ao enfrentar irmãos, é torpe fera,
E quando outro delírio também gera
Reinando sobre a tosca hipocrisia.
É desta forma então que redimia?
Matando em nascedouro a primavera
A súcia se atocaia e vã quimera
Ainda se transcende em galhardia...
Irônicos satânicos bufões
Expondo a face espúria dos leões
Num sanguinário rumo sobre a Terra.
A mão se dessedenta assim na morte?
Hercúleo na verdade é quem conforte
E dentro em si, o Amor claro se encerra.
10
Ao despreza o irmão, também o faz
Ao próprio Criador, e não percebe.
Depois caminha em faustos pela sebe
Qual fosse um ser suave ou mais, audaz?
Somente quem lutando pela paz
A paz em conseqüência já recebe,
Do quanto se oferece é o quanto bebe
O todo que se leva é o que se traz.
Não podes e tu vês sob teus olhos
Cultivar flor e ter em troca abrolhos,
Assim como o contrário também é.
Ao respeitar inteira a mãe Natura
Reflexo deste Pai na criatura
É onde se percebe a vera fé.
11
Liberte-me Meu Pai dos meus anseios
Desejos que dominam minha mente
E fazem do meu passo este inclemente
Delírio entre medos, devaneios.
Liberte-me, portanto dos receios
E trace novo tempo iridescente
Trazendo o Amor mais pleno e se apresente
Então para os Teus passos, mansos veios.
Sabendo quanto o Amor tudo redime
Desde que seja claro e enfim sublime
Sem ter qualquer medida ou empecilho.
Ousando libertário pensamento
Sem preconceitos, medo e desalento
Assim para os Teus braços, eu palmilho.
12
Permita-me o total discernimento
Sem prejulgar ou mesmo sem pensar,
Apenas por ouvir e não tentar
Sentir esta verdade em provimento
Do quanto mais conheço e me alimento
A dúvida; estou certo, há de tomar
Maior espaço em mim e em tal lugar
Não haja tão somente o pensamento.
Ao aliar com o quanto hei de sentir
Talvez eu me aproxime da verdade,
Mas sei o quanto o amor em liberdade
Permite o bem estar e o bom porvir,
Só sei que honestidade te liberta
Quem aja desta forma mais acerta.
13
O pensamento rege cada passo
Por onde te encaminhas vida afora,
Embora o sentimento; aonde ancora
Tantas vezes ocupa, inteiro o espaço.
E quando o meu caminho assim eu traço
Nas ânsias onde a fúria me devora,
A paz que com certeza vai embora
Impede o prosseguir em manso traço.
Não me deixe Senhor agir somente
Tomado pela angústia onde apresente
Qualquer entrave ou mesmo alguma dor.
Ousando em ter liberto o pensamento,
Terei, tenho a certeza, o olhar atento
Mais próximo de Ti, meu Redentor.
14
A paz é uma conquista que verás
Dentro de ti somente e nada mais,
Nas cercanias tantos vendavais
Além deste desejo mais audaz.
Perceba a sordidez que a vida traz
E os homens em seus ritos ancestrais
Deveras com os atos vis, venais
Moldando um mundo torpe e até mordaz.
Por isto ao procurares dentro da alma
Terás a sensação que ora te acalma
Podendo; desta forma, superar
Os gládios tão comuns de uma existência
Bastando; deste fato, a ter ciência
A paz irá tomar o seu lugar.
15
Ao atirares pedras, leda fúria
As mãos que as arremessam já se ferem
E assim quando deveras interferem
Agindo com torpeza e com incúria
Trazendo a quem desfere a senda inglória
Marcando com as chagas mais profundas,
E quando em tais calúnias tu te inundas
A face que demonstras: merencória.
Ao prejulgar deveras és julgado
E tens o teu caminho em tom diverso
Traçado por um ato vil, perverso,
No fundo és; tu mesmo, o apedrejado,
Portanto não se perca em aparências
Verdade é quem liberta as consciências.
16
O amor, semente clara aonde a vida
Permite-se e renova em gerações
Os dias desde o gênese. Compões
No teu caminho a história resumida.
E quando a liberdade em ti, ungida
Permite conhecer raros perdões
Em meio aos mais diversos turbilhões.
Na flor em fruto agora enternecida.
O manto consagrado é feito em luz,
Diverso do que vês preso na cruz,
Pois dele a liberdade se irradia.
Invés de tanto pânico e agonia
A morte na verdade, raro FAUSTO
Traduz o inevitável holocausto.
17
Amar sem cobrar nada nem sequer
Pensar nas recompensas passageiras,
Somente o bem de outrem; portanto queiras
Sem nada nem anseios, se o puder.
A mão que atormentando; nega um passo
A quem deseja livre caminhar
Jamais se traduzindo por amar,
Traçando um sentimento mero e escasso.
Na força deste Pai, da Mãe Natura
A vida noutra vida se refaz
E neste caminhar em plena paz
A eternidade enfim, já se assegura.
Quem ceva com cuidado desde já
Decerto melhor sorte colherá.
18
As mãos que acariciam esta fera
Domando um sentimento mais agreste,
Demonstram o motivo em que vieste
A paz na própria vida enfim se gera.
Permita-te saber que a primavera
Eternamente feita em voz celeste
Supera uma estiagem, turva peste
Enquanto a história em si se recupera.
Não foste, pois criado para ser
Além do que mereces. E por crer
Em falsas luzes nesta noite escura
É que soberbo ser a espécie humana
Aos poucos destruindo já profana
A esplêndida e perfeita Mãe Natura.
19
Também foste criado para ser
Mais uma peça nesta imensidão
O mundo novos dias mostrarão
E neles um sutil amanhecer;
Mas quando vejo a rédea se perder
E sinto em desalento aberto o chão,
Vislumbro a noite em pleno turbilhão
E a vida pouco a pouco esvaecer.
Em cada ser está o mesmo Pai
E quando esta verdade o mundo trai
No fundo preparando uma mortalha.
Orando em gestos claros, coerentes
Mais próximo deveras tu te sentes
Enquanto tanto amor ganhas e espalhas.
20
Pudesse ser além de um sonhador.
Mas quando a vida traz em atitude
O quanto na verdade se transmude
Ao aceitar as tramas de um Amor.
E sendo este poder libertador,
Quem ama com certeza não se ilude,
Pouco importando até se o fato mude
O ser amado e trace nova cor.
Ao espalhar o pólen em pleno ar,
A flor ensina assim o que é o amar,
Reproduzindo ao léu esta esperança,
Mal importando quem receba a luz
Somente neste encanto se produz
O passo que decerto além avança.
21
A vida quando feita em tanto não
Deixando muito além qualquer promessa
No fundo a cada passo se endereça
Sem mesmo qualquer rumo ou direção,
Os dias são diversos e verão
Além do quanto à dita se endereça
Traçando com angústia onde tropeça
O rústico desenho; imperfeição.
Servindo para tal o meu caminho
Que é feito em tom atroz, tosco e mesquinho
E nele sou talvez um mero traste.
Porém sou o resumo de quem és
Iguais ao perceber mesmo viés
Traduzo o que decerto em vão negaste.
22
Enquanto este silêncio tanto fale
Traduzo no vazio o pensamento
E quando se percebe ou mesmo tento
Viver o quanto resta e me avassale,
Minha alma noutro instante não se cale
Deixando para trás o sentimento,
A voz ao percorrer já solta ao vento
Ultrapassando monte, cerro e vale
Expressa o meu delírio em liberdade,
Na justa providência aonde brade
O coração suave e guerrilheiro.
Ousando propagar um canto em viço
Bem mais do quanto quero ou mais cobiço
Cevando com carinho algum canteiro.
23
Não deixe que se entranhe outro ninguém
Nesta alma muitas vezes incompleta,
A fonte aonde a vida se repleta
Deveras quase nada mais contém.
Olhando para os lados, sigo aquém
Do quanto eu desejava. Noutra meta
A vida se perfaz, face concreta
Do encanto aonde sou mero refém.
Espalho o sentimento e sei que um dia
Quem sabe noutro encanto florescia
A sorte de tentar e prosseguir
Vencendo os meus anseios e vontades,
Ainda que deveras tu te enfades,
Galgar outra ilusão inda por vir.
24
O pranto se transforma em alegria
Nas sendas de um amor correspondido,
Mas quando noutro enfado diz olvido
Tormenta tão somente se veria.
E o fato de viver tal ironia
Gerada pela insânia, ao ser cumprido
Prenunciando o fim, toma o sentido
Do todo que pudesse nalgum dia.
Ausenta-se esperança quando tento
Vencer com calmaria este tormento
Bebido numa angústia incontrolável.
Mas quando se aproxima além o brilho
Dos sonhos onde em paz tento e palmilho
O mundo vai além do imaginável.
25
Disforme criatura; eu sigo alheio
Ao quanto poderia ser diverso
E tento outro destino e mesmo verso
Enquanto me liberto em devaneio.
O olhar ensimesmado não receio
Tampouco sei do mundo mais perverso
E quando sigo aquém, encaro imerso
Na angústia mais atroz, buscando um veio.
Etereamente a vida traça em nãos
Os dias variáveis e malsãos
Espúrio caricato, morro aquém
Do quanto quis ou mesmo prometia,
E a senda aonde o sonho em agonia
Derradeiro comparsa, ainda vem...
26
Dilacerando a face desditosa
De quem se fez alheio aos temporais
E neste desenhar sem ter jamais
Vencer esta torrente caprichosa.
O olhar entorpecido ora antegoza
Os dias derradeiros, funerais
E vejo nestes tantos magistrais
Anseios numa vida majestosa.
Aprendo a me encarar e vendo à frente
Somente um ser espúrio e um vão descrente
Não tendo outro cenário senão isto,
Aos poucos me entregando sem mais luta,
A morte redimindo e não reluta,
Traduz por que deveras inda existo.
27
Das navalhas penetrantes
Cortes tantos noite afora,
Incerteza que apavora
Traz bem mais do que vi antes
Os meus passos; adiantes
Rumo ao fim aonde ancora
A certeza e nela aflora
Esperanças fascinantes.
A mortalha ora se empresta,
Numa vida; se indigesta
Solução. Decerto eu vejo.
Muito aquém do velho fato
Onde em nada me retrato,
Meu derradeiro desejo...
28
Abortando os vis amores
Onde um dia quis o brilho
Bem diverso de onde eu trilho
Lado oposto ao que tu fores,
Na verdade sem albores
Os meus ritos no empecilho
Costumeiro ao andarilho
Coletando dissabores.
Resto aquém do quanto pude
Na mortalha a magnitude
Libertária companhia.
E o cenário putrefato
Onde o sonho enfim resgato
Tudo enfim, quanto eu queria.
29
Por saber que não me queres
E também ou mesmo assim
Vou chegado ao ledo fim
Meu banquete sem talheres
E se tanto inda quiseres
Outro errático estopim
Eclodindo dentro em mim
Onde ainda, tosca, imperes.
Renegar um passo quando
O meu sonho se escoando
Nos esgotos de minha alma,
Nada vejo além do vago
E se nele ora me alago,
Nem assim a dor se acalma…
30
Destes trapos que carrego
Dentro da alma; veja bem
O passado nos contém
E alimenta só teu ego.
Mares turvos, pois navego
E percebo o teu desdém
A colheita não mais vem
E o meu rumo sempre é cego.
Vasculhando esta gaveta
Nela o nada me arremeta
E traçando outro momento
Procurara alguma messe
Onde a vida já me esquece;
Solidão tomando assento...
31
Noutro tempo se eu pudesse
Num caminho mais diverso
Quando além do sonho eu verso
Encontrando esta benesse
O meu rumo estabelece
Dentro em mim novo universo
E se tanto sigo imerso
O cenário me entorpece.
Régios dias, noites claras
E deveras me escancaras
A alegria em cada olhar.
Depois disso eu me alimento
Do suave pensamento
Aprendendo em paz, a amar.
32
Se não fosse a solidão
Outro tanto poderia
Transformar o dia a dia
E trazer a redenção,
Mas os sonhos moldarão
Um sorriso em utopia
Na seara mais sombria
Vejo enfim algum clarão.
Siga em frente e nada tema
Quem rompendo a velha algema
Sem dilemas abre o peito,
Neste encanto onde me entranho,
Todo passo um novo ganho
Bebo a paz quando me deito.
33
Sendo a vida mesmo ingrata
A quem tanto em paz se dera
Outro olhar tramando a espera
E esta face me retrata
A certeza se insensata
Já não deixa a primavera
Reflorir aonde gera
A esperança que resgata
Restaurando um passo quando
O meu tempo desnudando
Novo olhar sobre o futuro,
Caminheiro sem destino
Quando além me determino,
Sei decerto o que eu procuro.
34
Já não posso me calar
Nem tampouco isto seria
Um momento em rebeldia,
Tão somente a desnudar
Farsa antiga a se mostrar
Onde fiz minha utopia
O cenário não traria
Sendo incerto o meu lugar.
Aprazíveis paisagens
Entre tantas abordagens
São decerto as mais audazes.
Tendo em mim esta incerteza
Bebo aquém do quanto é tesa
A minha alma em várias fases.
35
No cinzel do pensamento
Ao urdir novo cenário
Mesmo sendo temporário
O meu rumo eu reinvento
E se bebo o sentimento
De um caminho necessário,
Outro tanto temerário
Solto alhures pelo vento.
Revelando a minha sina
Onde o nada determina
O bem pouco que virá,
Sei da fúria em desabrigo
E se tanto inda prossigo
O futuro é desde já.
36
Nas vertentes deste rio
Outro tanto pude ver
E se posso renascer
Onde quero já desfio
Venço o medo deste estio
E talvez amanhecer
Nos cenários de um prazer
Muito além do desvario.
Resultando deste fato
O caminho onde resgato
A beleza de seguir
Rumo ao farto Paraíso
E num passo mais preciso
Embrenhando no por vir.
37
Tanta luz já poderia
Ter em mim após a luta
Onde a sorte mais astuta
Na verdade rege o dia.
Morta a minha fantasia
Esta estrada é sempre bruta
E o meu passo não reluta
Procurando uma alegria.
Muito embora eu saiba bem
Quando messe já não vem
Deixa o sonho para trás.
Desvendar cada segredo
Onde inteiro eu me concedo,
Sendo até bem mais audaz.
38
O reverso da medalha
Traz a imagem do que fora
Alma tanto sonhadora
Onde o nada já se espalha
Neste fio da navalha
A palavra redentora
Noutro rumo; promissora
Na verdade dita a falha
E seguir sem ter parada
Mesmo quando é dura a estrada
Perseguindo um velho sonho.
Muito embora seja fato
O caminho eu não resgato,
Mas um novo; enfim, componho.
39
Presumindo o fim da história
Esperando alguma chance
Onde o passo não avance
Nem sequer trague a vitória
Reviver farta memória
E num derradeiro lance
Outra tez, novo nuance
Mesma face merencória.
Sendo a vida desta forma
Cada passo ora deforma
O que um dia quis além.
Faca tendo enfim dois gumes
Para além teimas e rumes
No final, nada contém.
40
Sortilégios eu conheço
E sei bem da farsa quando
Outro tempo se entornando
Não revela o meu tropeço;
E deveras sei, mereço
Este olhar duro e nefando,
Mas pudesse ser mais brando;
Vem virando-me do avesso.
Aprender com as lições
E deveras tu me expões
Com a faca no pescoço,
O meu mundo desarvora
Desde quando eu sei agora,
Recomeça este alvoroço.
41
Precedem meu caminho, as tempestades
Degenerando o rumo aonde um dia
Tentara sem qualquer hipocrisia,
Porém a cada ausência mais me enfades
E sei quando se mostrem mesmas grades
E nelas muito pouco eu poderia
Viver aquém do sonho, uma utopia
Gerada pelo medo e falsidades.
Mergulho no meu âmago e pereço
Enquanto sei o quanto em adereço
Esqueço qualquer rumo e sigo alheio
Ao manto putrefato e sem destino,
E quando mesmo olhar; já determino
Vagando sem saber em devaneio.
42
Já não me resta mais uma esperança
O tempo se escasseia e vejo apenas
As velhas duras faces; concatenas
E a morte a cada ausência mais avança.
Não pude controlar, e da lembrança
Jogado pelos cantos, não serenas
Uma alma quando a vês logo apequenas
Os rumos onde tanto aquém se lança;
Eu sei dos sortilégios mais atrozes
Também destes cenários onde as fozes
Trazendo discordância a cada olhar.
Pudesse ter apenas a certeza
De ter sob controle a correnteza,
Mas nada, tão somente irei buscar.
43
Entorpecido vejo este cenário
E nele me entranhara. Imprecisão.
Traçando desde o início o vago não
No qual e pelo qual desnecessário.
Resumo a minha vida neste vário
Desenho em total medo e sei que é vão
O risco de sonhar, mas mostrarão
Os dias outro enfado imaginário
Delírios; os conheço até de cor
E sei do quanto é fútil meu suor
Jogado pelas tramas sem segredos.
Apodrecendo em vida tão somente
No quanto ainda posso e se apresente
Os dias com certeza serão ledos...
44
Já não suporto mais o olhar sombrio
E dele me esquivando a cada instante,
Mas sei também do quanto é degradante
E o nada a cada verso mais desfio,
A imensa correnteza deste rio
Produz o quanto em vaga se garante
O olhar sem ter sequer a mais constante
Vontade de vencer tal desafio.
Esqueço de mim mesmo e sigo ao fim
Resumos destes erros vida afora,
Espelho na verdade me apavora
E espero não demore a morte e enfim
Eu possa descansar e ver a paz
Agora tão distante e tão mordaz.
45
Ensimesmado quase sem um norte
E sei que no passado quis bem pouco
E agora o quanto resta deste louco
Desenho onde nada mais comporte,
Restauro o meu delírio em leda sorte,
E a cada imprecisão eu me treslouco,
Também não quero o riso nem tampouco
Quem possa num momento e me conforte.
Erguendo o meu olhar sem horizontes,
Apenas os desníveis tu me apontes
E deixes que eu prossiga sem temor.
O quanto resta em mim e nada mais
Que os dias entre fúrias, funerais
Preparo tão somente o meu sol-pôr.
46
Inúteis versos tento quando busco
Vencer os meus terríveis temporais
E sei dos dias meros, terminais
E neles com ternura já me ofusco,
O mundo sempre vário em lusco fusco
Derrama a cada vez diversos sais
E bebo destes últimos venais
Um sórdido bufão, mero e velhusco.
Ultriz a vida trama a morte e traz
Ali a sensação da imensa paz
Que um dia procurara inutilmente.
Quem sabe após o fim, o recomeço
Em outro caminhar já sem tropeço
Ao mesmo isto enfim ainda alente.
47
Jazigos perfilados no meu sonho,
E bebo esta tragédia a cada instante
Tramando o meu delírio em inconstante
Desenho onde sou pasmo e medonho.
Apenas cada vez me decomponho
E sei do quanto espero doravante
Morrendo sem sentir o deslumbrante
Momento aonde eu tento e não me ponho.
Satânica figura em tez atroz,
A vida se desmembra e busca a foz
Aonde se apascente este demônio.
Quem sabe ali em face mais brumosa
A cena tantas vezes pedregosa
Aplaque o meu temível pandemônio.
48
Esgoto a cada instante esta esperança
Escombro do que fora um ser humano,
E nesta escória atroz quando me dano,
À fúria do vazio a alma se lança,
Aonde quis talvez a temperança
Puindo em incertezas cada plano,
O mundo desdenhoso e quase insano,
Porquanto penetrasse em mim tal lança
Vencido pela angústia do não ser,
Tateio e busco além qualquer prazer
E infaustamente a vida me sonega.
Quem sabe na mortalha em doce entrega
Eu posso pelo menos conhecer
O mar onde tranqüilo se navega...
49
Cerzindo cada passo com a dor
Numa constante face desmedida,
Marcando a ferro e fogo a podre vida
Tentando noutro rumo já me pôr.
Vencido sem saber sequer da cor
Da sorte onde esperança entorpecida
Vestira a face escusa e carcomida
De um manto feito em tétrico pavor.
Escárnio tão somente; eu mal prossigo
E vejo a cada passo o desabrigo
Gerando novamente outro veneno
E quando vejo a face neste espelho
Nas cãs já tão profusas me aconselho
E ali também deveras me apequeno.
50
Arrasto os meus grilhões e no final
Apenas o vazio ainda eu vejo
No olhar imerso em dor, horror e pejo
A morte se desenha triunfal.
Buscasse coerente qualquer nau,
Quem sabe pelo menos num lampejo...
Mas quando renegando este azulejo
Mergulho no meu antro funeral
No tumular caminho, o meu esquife
Enquanto cada sonho se espatife
Gerando o pesadelo de um viver
Imerso no negrume da existência
O olha impiedoso em inclemência
Expõe em podridão, farto prazer...
51
Os restos que laceras do meu eu
Traduzem a mortalha que me deste
Num tétrico caminho mais agreste
O quanto havia em mim já se perdeu,
Meu canto noutro instante em apogeu
Tocando o mais audaz, quase celeste
Desejo e quando à sorte não se empreste
Expressa o quanto espúrio ora teceu.
Não posso mais sequer ouvir teu nome,
A vida pouco a pouco se consome
E traça em tempestades, descaminho.
Do quanto imaginara; nada resta
Senão esta figura assaz funesta
Num ermo tão vulgar quanto mesquinho.
52
Disforme face exposta em podridão,
Não tendo mais sequer uma alegria
Aonde imaginara novo dia,
De tantos velhos, vã repetição.
Os sonhos com certeza não verão
Nem mesmo o quanto esta alma fantasia,
E morto em plena vida, não teria
Além da própria senda, a redenção.
Escassos dias restam a quem tanto
Mergulha num imenso desencanto
E sorve todo o charco, lodo e lama.
A carcomida face decomposta,
Encontra no vazio uma resposta
E apenas o final, em paz, já trama.
53
Penetram dentro da alma as vis adagas
Dilacerando o resto que inda existe
De um ermo caminheiro amargo e triste
Expondo a cada dia as fundas chagas.
E embora algum alento; ainda tragas
A inexistência assoma e aqui persiste
Aponta o meu destino torpe em riste
E as horas que inda restam, toscas, vagas...
Escória tão somente e nada mais,
Aguardo a redenção nos funerais
Brumosa vida em paz se encontraria.
Na noite nevoenta, o fim precoce
Quem sabe finalmente ali me aposse
Do que me sonegara o claro dia.
54
Aborto os meus caminhos rumo ao tanto
E sei quando se perde o nexo e o rumo,
Reflexo dos erros que ora assumo
E neste desenhar eu me quebranto.
Mergulho neste esgoto e ali garanto
A pútrida verdade, e sei do sumo
Aonde a cada dia me consumo
A morte me abraçando; escuso manto...
Vestindo o meu olhar em trevas vejo
Bem mais do que o delírio num sobejo
Caminho aonde tudo em paz termina,
A morte redimindo meus engodos,
Voltando a me entranhar nestes vis lodos
Ao menos de outra vida, serei mina.
55
O quanto não me queres, sei-o bem.
E até pudesse em vão ter outro olhar,
Mas quando me percebo a relutar
Apenas o vazio me provém.
E quantas noites vagas sempre vêm
E nelas não se tendo outro lugar
Aonde pelo menos ancorar,
A marca se desenha em tal desdém.
Afasto-me da vida e bebo a morte,
Assim quem sabe enfim eu me conforte
Depois de tantos anos, solidão...
Marcando a cada instante a cicatriz
Expondo o que esta vida já me diz
Alerta para os outros que a verão.
56
Nos trapos, meus farrapos dentro da alma
A virulência toma cada passo,
E quando noutro tanto eu me desfaço
Somente a morte após tudo traz calma.
Vestígios de esperança? Mais nenhum,
O herético caminho se tecendo
Deixando-se antever tosco remendo
Jogado nas sarjetas. Sou mais um...
E sinto se esgarçando a todo instante
O quanto imaginara redimisse
E vendo a cada passo esta mesmice
Apenas o vazio me agigante.
Retaliações da vida em farto gozo,
Gerando este caminho tenebroso.
57
Naufrago a cada instante, ledo barco
Jogado entre as procelas sem timão,
As horas mais atrozes tomarão
O quanto já se mostra agora parco,
E quando nalgum sonho vão embarco
Apenas no vazio a direção
Gerada pelas tramas deste não
E a morte com prazer imenso abarco.
Esgoto minhas forças; nada tenho
Senão este temor duro e ferrenho
Da vida e tão somente, nada mais.
A glória redentora se aproxima
Brumoso, mas suave sinto o clima
Propício para os ritos funerais...
58
Entregue aos vermes, carne apodrecida
Bendita esta hora enfim chegando agora
Enquanto a própria vida me devora
O que fazer senão a despedida?
A leda caminhada em dor urdida,
O risco de viver já me apavora,
E sinto a poesia que se aflora
Da vida renovada noutra vida.
Escória, mero escombro, mas no fim,
Redimo em holocausto o quanto rude
Desenho desta trama, mais que pude
Vicejo após a morte num jardim,
E assim ao me mostrar em serventia,
Quem sabe a alma afinal se salvaria?
59
Só peço que me deixe agora em paz,
Já não comporta em mim a fantasia
Sequer esta ilusão me tomaria
No quanto nada mais me satisfaz.
Por vezes me imagino mais tenaz,
Mas logo vejo ser a hipocrisia
Do instinto aonde em luta tentaria
Vencer o que a verdade enfim me traz.
Apresentando a face espúria e vaga
Uma esperança espúria agora alaga
Esta alma em cicatrizes tatuada.
E mesmo que após isto não exista
Sequer de outro caminho, a menor pista,
É bem melhor até não haver nada...
60
Ao menos pude em vida acreditar
Num ato mais tranqüilo feito em glória,
Carrego algum resquício na memória
De um templo onde um dia quis amar.
Embora tão longínquo tal lugar,
Ali não fui apenas mera escória
A vida se mostrando merencória
Aos poucos destruíra o vago altar.
Restando esta lembrança em preto e branco
E agora no final, sendo mais franco
Esta única paisagem valeu tanto
Mantendo mesmo frágil, leda chama
No instante aonde o fim decerto trama,
Algum momento em paz; assim garanto...
61
Amor entre senzalas, facas riscos
Olhando de soslaio ainda creio
No quanto além do mero devaneio
Embora eu sinta os passos mais ariscos.
A vida se tramando em vãos confiscos
Esbarra noutro rumo, perde o veio
E quando me percebo além e alheio
Exposto às tempestades e chuviscos.
Esgarço esta esperança e pouco resta
A face mais atroz, mesmo indigesta
Ditame de uma vida em dor e mágoa.
E quando qualquer luz; percebo aonde
Apenas solidão inda responde
Meu sonho no vazio enfim deságua...
62
Arcando com as quedas costumeiras
Já não consigo mais viver em paz
E quando a noite chega apenas traz
Imensidão em torpes cordilheiras
E as quedas podem ser as derradeiras
De quem se fez outrora mais audaz,
E agora ao fim da vida se desfaz
Em ânsias doloridas, carpideiras.
Nefasto olhar encontra este horizonte
Aonde em nevoenta tarde eu vejo
Anoitecendo em morte o meu desejo
Sem ter uma esperança que me aponte
Senão este vazio dentro em mim
Traçando em mansidão, pois o meu fim...
63
Os rios nas vazantes de um estio
Traduzem os meus dias fielmente
E quando o fim decerto se apresente
Olhando para trás nada recrio,
Vestindo a mesma face em tom sombrio,
Apenas trago o enredo onde lamente
O canto quando fora impertinente
E o fato de sonhar em desvario.
Sedento de esperança. Que tolice!
É como se o passado permitisse
A luz aonde a treva reina eterna.
O amor que poderia ser talvez
No quanto a vida outrora se desfez,
Jamais seria enfim uma lanterna.
64
Olhando levemente para trás
Eu sigo estas pegadas e percebo
O quanto deste sonho foi placebo
Enquanto o meu vazio a vida traz.
Esgoto o pensamento noutro audaz
E morro; aonde estendo e não concebo
O canto em sordidez enquanto embebo
Minha alma desta incúria contumaz.
Meu barco se estraçalha sobre as rocas
E quando alguma luz tu me provocas
A fátua fantasia se esvaíra
Jogado feito um trapo nalgum canto,
A paz que na mortalha enfim garanto,
Ao menos permitindo leve pira.
65
Loucuras entre tanta hipocrisia
Cenários divergentes, mas talvez
Eu possa mergulhar aonde vês
Apenas esta face mais sombria,
Das trevas e do nada, a fantasia
Perdida em ar atroz e sordidez
Enquanto o meu caminho se desfez
Somente esta lembrança eu levaria.
O risco se aproxima de seu fim,
E o quanto inda persiste vivo em mim
Aguarda finalmente algum alento.
E sito meu desejo neste ocaso,
Andando pelas ruas ao acaso,
Da minha insanidade eu me alimento.
66
As mãos procuram mãos e nada sinto,
Os vãos caminhos traçam meu futuro,
E neste desenhar tão inseguro
O quanto de esperança eu vejo extinto.
Arisco sonhador onde me tinto
Nas tramas mais venais, mas não perduro
Agora já cansado eu me enclausuro
E sobrevivo apenas por instinto.
Um verme caminhando sobre o nada
A imagem tão somente destroçada
Impede qualquer luz onde não há
Sequer alguma chama, e deste pouco
Desenho o delirar espúrio louco
Traçando o que jamais encontrará...
67
O quanto deste fel adentra o senso
E bebo e me sacio neste amaro
Caminho aonde tanto desamparo
Traduz toda a verdade e me compenso.
A cada novo dia mais convenço
E nisto o meu desejo eu escancaro
Sabendo quanto amor se fez tão raro
Deixando este vazio, agora imenso...
Respaldos; nunca os tive, e sei tão bem
Sevícia a cada instante sempre vem
E desnudando esta alma em dor e tédio,
Apenas meu cansaço traduzindo
O quanto imaginara ser infindo
E a morte se transforma em bom remédio...
68
Há quanto que procuro e nada vindo
Somente o mesmo passo rumo ao caos,
Procuro e até tentando outros degraus
Qualquer momento em paz será bem-vindo.
Mas sei deste tormento quase infindo
E nele as esperanças ledas naus
Encontram em variáveis tons e graus
Apenas o não ser que ora deslindo.
Acossa-me a vontade de lutar,
Mas sei que independente do lugar
A queda inevitável se faria,
E neste delirar, encontro apenas
Os olhos onde tanto me envenenas
Matando qualquer sonho ou fantasia...
69
Adentro rios, fozes, oceanos
E morro a cada instante sem um cais,
Aonde desejara muito mais
Somente conhecera perdas, danos...
E os riscos aumentando desenganos
Refaço o meu caminho e sei, jamais
Eu poderia crer nestes cristais
Jogados entre engodos desumanos.
Profana realidade toma a cena,
Enquanto uma esperança me condena
O risco de sonhar me atordoando,
Irônico demônio eu trago em mim,
E bebo deste infausto e de onde vim
Já trago o meu olhar, perdido, infando...
70
Olhando para baixo estes penhascos
Traduzem um abrigo ao suicida,
A sorte já selada e percebida
No quanto caminhar traduz mais ascos,
Os dias meramente vis fiascos
Enquanto a própria luz ora trucida
A senda noutra face resumida
Moldando alma pequena em frágeis frascos.
Escassos sonhos ditam o meu passo
E quando noutro enredo eu me desfaço
Apenas mergulhando neste enfado,
O risco de viver; não mais suporto
E a cada novo instante eu me reporto
Ao velho e ledo canto. Desolado...
71
Deserto magistral adentrando ora
E nele não vislumbro mais oásis
A vida se permite nestas fases
E quando a seca chega e se demora,
O sonho sem proveito se apavora
E neste desenhar também desfazes
Em fúrias tão venais e contumazes
Enquanto a própria vida me devora.
Esbarro nos meus erros e desvendo
O quanto de minha alma neste horrendo
Desenho se mostrara inteira e nua
Nas teias entre os ermos, mera súcia
A morte com terror, ardor e astúcia
Aos poucos se enredando enfim atua...
72
Há quanto sepultara esta criança
Que um dia imaginara renascida,
A sorte noutra face sendo urdida
À fúria do vazio ora me lança.
Não resta nem sequer uma lembrança
Memória se desnuda e apodrecida
Traçando a mesma imagem carcomida
Enquanto ao cadafalso o passo avança;
Já nada mais resiste neste peito
E quando solitário em vão eu deito
Mergulho neste lodo, charqueada.
A face se desnuda e nela vejo
Apenas o degrade de um desejo
Que ao fim não me traria mesmo nada...
73
Olor adocicado em podridão
Adentrando as narinas da esperança
E quando no vazio a vida trança
Os passos onde os dias morrerão,
Talvez se anunciando a solução
Seria alguma forma de vingança
Gerando dentro em mim esta mudança
Na face mais sutil: putrefação.
Cadáveres já trago vida afora
E apenas esta angústia ainda ancora
O barco neste espúrio cais nefasto.
E quando me percebo, torpe estorvo
Entrego-me à rapina deste corvo
E aos poucos desta vida enfim me afasto.
74
Preparo o funeral como previsse
O fim da dura etapa necessária
E nesta insensatez que é temporária
Apenas entranhara tal mesmice.
O quanto do vazio se predisse
Na imagem desta torpe procelária
Já não vislumbro além a luminária
Meu verso se resume em tal tolice.
Apodrecido em vida e tão somente
Entregue ao tenebroso mar que sente
Rondando em treva e bruma cada dia.
Enquanto a morte tece a rara teia
Minha alma, sem sentido devaneia
E a solução final, já não se adia.
75
Emanam-se diversos ares onde
O fétido caminho se prepara,
Amaldiçôo então leda seara
E nela o meu delírio em vão se esconde.
Apenas o vazio inda responde
À voz que o peito amargo ora escancara
E quanto mais com tédio a vida arara
O solo com certeza o corresponde.
Sem pontes, horizontes, fontes. Nada...
Imagem percebida é desolada
E o fato de existir não alimenta
Somente este vazio se anuncia
E a cada ausência bebo esta agonia
Na face mais atroz, turva e sangrenta.
76
As lágrimas redimem? Ledo engano.
A vida não permite alguma paz
A quem deseja mais do que é capaz
E sente já puindo cada pano.
E quando pouco a pouco enfim me dano
O olhar que poderia mais audaz,
Agora tão somente gera o antraz
E o passo para além se faz profano.
Acreditar no quanto ainda pude
Vencer o meu caminho atroz e rude,
Tolice tão somente e nada mais.
Depois da derrocada em ar sombrio
Apenas o meu mundo ora desfio
Ditames tão comuns quanto boçais.
77
Fantasmas de esperanças torpes, mortas
Adentram cada parte desta casa,
Enquanto a morte vem e já se atrasa
Aos riscos mais mordazes tu me exortas.
Não posso resumir em frágeis portas
O quanto do vazio em mim abrasa
E o passo noutro enredo se defasa
Enquanto qualquer sorte em paz abortas.
Agônico fantoche ora se esvai
E o passo a todo instante teima e trai
Gerando tão somente outro tropeço.
E sei que errôneo caos em vida apenas,
No quanto tu me enredas e envenenas
Trazendo o que em verdade eu sei, mereço.
78
Presença anunciada de quem tanto
Pudera acreditar ser mais que o vago
Martírio aonde o mundo inteiro eu trago
E a cada novo instante mais me espanto.
Por vezes me ensandeço enquanto canto
E em ânsias dolorosas já me alago,
Procuro qualquer cais, ou mero afago
E nada percebendo em vão me espanto.
Restauro vez em quando qualquer brio
E mesmo num cenário tão sombrio
Sarcástico eu sorrio, e nada faço
Em solilóquio vago pelas sendas
Diversas onde as farpas tu estendas
Tomando dentro em mim qualquer espaço.
79
Em sortilégios tantos vi a vida
Marcada a ferro e fogo, fúria e medo
E quando alguma luz; teimo e concedo
A história já de há muito está perdida.
Ultriz rapina bebe a apodrecida
Carcaça que se mostra desde cedo
E neste desenhar escasso enredo
Transcende ao que pudesse despedida.
Um Prometeu no nada acorrentado,
Destino insofismável, pois traçado
Nos ermos de uma história sem sentido.
Só peço no final, em testamento
Que ainda imerso em tétrico tormento
Eu seja em tom atroz, ora esquecido.
80
Já não comporto mais uma ilusão
Nem mesmo poderia visto que
O quanto da mortalha já se vê
Traçando sem sentido a direção,
E sei dos dias turvos e verão
Corbelha como fosse algum buquê
E neste fátuo mundo em nada crê
Quem sabe discernir sonho e razão.
Ao esgarçar meu verso em tom venal
Eu subo para a morte outro degrau
E sei quanto deveras me redime,
Um ato derradeiro em ar sutil,
Além do que decerto se previu,
Num paradoxo o vejo mais sublime.
81
Ausente dos meus sonhos na verdade,
Não vejo qualquer luz após a treva
E quando este caminho ao nada leva
Já não terei qualquer posteridade
Apenas a visão do que degrade
Aonde desde já deveras neva,
Meu corpo dessedenta então a ceva
Na decomposição; realidade.
Matéria organizada e até pensante
Mutável toma a forma degradante
E gera ou alimenta outras diversas.
No renascer eterno sob a terra,
A história com certeza não se encerra,
Somente noutras tantas sempre versas.
82
Já não me importa além do quanto tive
E neste pouco ou nada eu me resumo,
Esvaecendo em leve bruma ou fumo,
Além do quanto fora eu não contive.
O nome por um tempo sobrevive
Depois desaparece e ao fim, pois rumo
Neste zero absoluto enfim o prumo
E nada mais restando, não revive.
Esqueço qualquer messe e se aprofundo
Nos ermos solitários deste mundo,
Isso já não traria sofrimento.
Somente algum ser cativo dos anseios
Ousando vez em quando em devaneios,
Nos quais eu me sacio ou mais me alento.
83
Não posso me furtar ao dia a dia
Imerso nos meus erros costumeiros
E quando tento além dos corriqueiros
Caminhos; nada resta ou fantasia.
O pouco ou quase nada onde teria
Cevado esta esperança em pés ligeiros
Adentra por instantes derradeiros
O quanto se perdera em agonia.
Já não comporto mais uma esperança
E enquanto no vazio o sonho trança
Gerando outro vazio dentro em mim,
Redemoinho farto aonde eu sinto
O olhar outrora atento agora extinto,
Trazendo em recompensa além; o fim...
84
Fartar-me enquanto vivo de um prazer
Que possa me alentar após a queda
E o passo aonde em nada ele se enreda
Condena-se afinal a se perder.
Esboço reações e adentro o ser
Cujo caminho a vida mesmo veda
E tento reverter o que degreda
Meu sonho num etéreo esvaecer.
Quem dera se eu pudesse, mas eu vejo
Que a cada novo intento, um vago ensejo
Neste mutável ser inconseqüente,
E ao fim do descaminho onde me entrego
Apenas alimento um frágil ego
Enquanto uma saída não mais tente.
85
Tivesse qualquer nova alternativa
Pudesse ser diverso da real
Fatalidade em ar torrencial
Ainda quando um pouco sobreviva;
Arcando com cenário onde se priva
Procuro ser talvez mais racional,
E sigo a pressentir um desigual
Caminho aonde a sorte não cativa.
Esbarro nos meus erros e presumo
Ao fim de certo tempo o ledo fumo
Do qual e pelo qual sou oriundo.
E vago sem destino, leda imagem
Um barco sem caminho ou ancoragem,
Inerme ser atroz e vagabundo...
86
Jamais faria em verso que agradasse
Somente por sobeja simpatia,
O mundo não sonega a poesia
Nem esta nega ao mundo a sua face.
E assim porquanto ao nada ainda grasse
Enquanto o meu caminho se desvia
E bebo o sortilégio da agonia,
Meu ser a cada instante ora se trace.
Um verme perambula entre os engodos
E os erros; reconheço; tenho-os todos
Somente me desnudo e nada mais.
Fatídico futuro me rondando
Num ar tempestuoso e até nefando,
Dos sonhos não restaram nem sinais.
87
Não sou mero protótipo de um sonho
Nem mesmo quero aqui acalentar,
A vida é tão complexa e me inventar
É necessário quando recomponho.
Mas traduzindo em verso não me oponho
Ao quanto pude até não assentar,
Mas verso sobre o quanto hei de enfrentar
Porquanto cada passo é mais medonho.
Afasto-me deveras deste ser
Imerso nos desmandos do prazer
E tento a redenção, mas caricato
Somente em face escusa me desnude
E quando me imagino menos rude,
Demônio que ocultara; enfim resgato.
88
A turba vai sedenta em fúria e fogo
E quando se aproxima deste vão
Adentra sem pudor a escuridão
Não adianta mais pedido ou rogo,
Espúria súcia segue cada passo
Num vórtice venal e costumeiro,
O quanto se desnuda em acre cheiro
Ao mesmo tempo eu sinto e me desfaço
Entregue ao linchamento, apodrecido
Mergulho nesta insânia coletiva
Minha alma aos poucos foge e já se priva
E o resto ora não faz qualquer sentido.
Esfacelado em vida, simplesmente,
Rapina saciada enfim contente...
89
Ainda que buscasse noutros passos
Caminho para além do quanto pude
Vencida há tanto tempo a juventude
Deixando os pensamentos turvos, lassos.
Os olhos se os percebo então mais baços,
O coração aos poucos desilude
E quando me percebo em amiúde
Delírio eu volto aos velhos, tolos traços.
E esbarro numa eterna insegurança,
A vida na verdade me afiança
Do fim e tão somente. Nada mais,
Enquanto me convenço deste engodo
Chafurdo o sentimento neste lodo
Envolto pelos mesmos lamaçais.
90
Aonde quis a glória e nada vinha
Somente a mesma face em tez boçal,
O mundo num eterno ritual
Traduz uma alma torpe e mais sozinha.
O quanto imaginei que fosse minha,
Num fosso se transforma e como tal
Reflete uma alma turva e a pá de cal
Recende ao meu futuro em tez daninha.
Augúrios tão diversos; dita a sorte
E quando se percebe e já comporte
Apenas o silêncio e a calmaria
Da turbulenta noite solitária,
Ainda que pareça procelária
A morte em paz é tudo o que eu queria...
91
Já não resistiria ao sonho quando
A vida noutra face esgarça o canto
E neste desenhar mal me garanto
Morrendo no vazio e o desejando.
Esperas tão sofridas e rondando
O meu martírio a diva em desencanto
Restara muito pouco além do pranto
No olhar a cada instante desenhando.
Desdéns entre loucuras e terrores,
Seguindo cada passo e sem te opores
Vislumbro solitária noite e enfim
Esboço reações? Mas, nada tendo
Somente este final atroz e horrendo,
Aos poucos acendendo este estopim...
92
Desejo se perdera sem um nexo
Sequer e a vida ultrapassando cercas
Enquanto dos meus passos tu te percas
O meu olhar não tem qualquer reflexo.
Destino desenhado pelas Parcas
As sortes se vislumbram turbulentas
E quando qualquer luz; inda apresentas
Com meus anseios tantos já não arcas.
Esdrúxulos delírios de um poeta?
Somente retratando aqui meu eu
Que há tanto sem destino se perdeu
A morte neste instante me completa.
Angustiadamente eu me converto
No quanto pode a vida em desconcerto.
93
Há tanto o canto espera uma resposta
E ao fim já se percebe inutilmente
Ainda que outro sonho se freqüente
A morte noutra face sendo exposta
A vida a cada instante vem e aposta
Na farsa me tomando plenamente
E a queda quando o olhar mal a pressente
Prenunciando a cada nova encosta.
Qual mar bravio eu quebro nestas rocas
E mais em turbulências tu provocas
Ao vértice das dores, o apogeu.
Um náufrago sem tábua em salvação
O mundo de meu eu repetição
Ao canto ninguém mesmo, o respondeu...
94
A voz ao invadir o quarto traz
Somente amortalhada realidade
Traduz o quanto viva esta saudade
Ainda latejante e mais tenaz.
Espúrio navegante eu busco a paz,
Meu todo por sutil tranqüilidade,
Mas quanto mais o tempo em vão degrade
O sonho se transforma. É mais mordaz.
Amordaçando esta alma aonde um dia
Pudesse acreditar onde haveria
Apenas mero cais e nada além.
Aos poucos consumido pela incúria
Esta alma embrenha as sendas da penúria
Rapinas derradeiras logo vêm...
95
Dominas todo o sonho e no final
Escapa-me das mãos, leda paisagem
Esfuma-se e decerto em tal viagem
Meu passo se perdendo, sempre igual.
Ainda pude além do tão banal
Martírio, mas vazia esta bagagem
Trazia do passado uma ancoragem
Às pressas dos anseios; leda nau.
À parte do que possa ainda ter
Mergulho nas entranhas do meu ser
E bebo a contragosto este amargor.
Fatídicas imagens degradantes
E nelas tão somente ainda espantes
O que pudesse um dia, redentor...
96
Pudesse simplesmente navegar
Sem ter estas borrascas onde danas
As sortes mais sutis, cotidianas
E nada resta em paz no seu lugar.
Ausente dos meus olhos, teu olhar
E mesmo assim imagens soberanas
Desenham caricatas e profanas
Vontades de partir, de não ficar.
Esgoto-me à medida onde componho
Meu mundo deste imundo e vão cenário.
Embora saiba até ser temporário.
E quando me percebo e sou medonho,
Apenas tão somente algum esboço,
A vida preparando em paz, meu fosso.
97
Escondo dentro da alma a cicatriz
Medonha tatuada em carne viva
E quanto mais da vida o passo priva
Maior o desencontro onde me fiz.
E tanto aprendo e sei ser por um triz
A sorte noutra face mais cativa,
Esboça a realidade e já me criva
Em novos cortes fundos, cena gris.
Arcar com os enganos de quem tanto
Buscara qualquer paz, mas não garanto
Sequer um dia a mais nesta existência
Marcada pela angústia e desalento,
E quando alguma luz escassa eu tento,
Apenas vagos tons; fosforescência...
98
Recolho no caminho os espinheiros
E os guardo quais relíquias dentro da alma,
A sorte se desmancha e nada acalma
Quem sabe dos seus dias derradeiros.
E quanto mais procuro nada vejo
Somente a mesma face em farta incúria
A dita sem mais nada enfim; depure-a
Talvez ainda trace o benfazejo.
Mas sei quanto é disperso o passo quando
O mundo noutro tanto se transborda
Vivendo neste abismo sempre à borda,
A queda a cada instante desenhando.
Restaurasse os anseios juvenis,
Talvez pudesse ser algo feliz.
99
Arremessando o passo rumo ao nada
Esgoto a sorte e vejo em tez sombria
O quanto na verdade não se adia
Imagem pela vida degradada...
Resulto deste vão e nesta estrada
Apenas a mortalha caberia
A quem se fez suave em frágil dia
E agora morre aquém desta alvorada.
Não mais me cabe então qualquer sonhar,
Ao fim desta viagem, um lugar
Aonde eu possa ao menos ter a paz.
Depois de tantos anos, despedida,
A sorte traiçoeira e desmedida
Traduz o quanto a vida ora desfaz...
100
Refaço com os sonhos a aliança
E tento renovar meu canto quando
O mundo mesmo aos poucos sonegando
Meu passo claramente ainda avança.
Um ser sujeito à guerra ou temperança
Ao mesmo tempo amargo enquanto brando
Espalha-se e decerto transmudando
Jamais busca um refúgio e em paz descansa.
Mutante e variável me desnudo
Por vezes mais suave, ou tão agudo
Bebendo em discordância mel e fel,
Alento-me no verso em desabafo
Ou quando as minhas luzes eu abafo
Transcrevo-me ou renego no papel.
MARCOS LOURES FILHO
 
Autor
MARCOSLOURES
 
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Enviado por Tópico
GeMuniz
Publicado: 13/08/2010 14:08  Atualizado: 13/08/2010 14:08
Membro de honra
Usuário desde: 10/08/2010
Localidade: Brasil
Mensagens: 7283
 Re: SONETOS FEITOS EM 13/08/2010
Outra lavra de belos sonetos. Não deu para ler todos companheiro, mas vou voltando...

Abç


Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 13/08/2010 14:47  Atualizado: 13/08/2010 14:47
 Re: SONETOS FEITOS EM 13/08/2010
APLAUSOS!!!!!!!!!!!!!!!!!!


Li um por um de teus sonetos...
confesso: Refleti!!!
beijos meus!