A morte
Veio na crista da noite
A galope
Deixou sobre a mesa de pinho
Um envelope negro
Como a cor dos seus olhos profundos

Sem me olhar
Coberta por um horrendo espectro
Traiçoeira como sempre
Partiu
Envolvida na noite mais medonha
Escondida da lua
Que maliciosamente me espreitava
Através das vidraças...

A tremer de medo
Cansado
Doente
Rasguei com fúria o envelope
E pelo ar
Nauseabundo
O odor da carne putrefacta
Envolveu-me
Em mistério e desencanto

Aos poucos
Vi através do fumo
Os vertiginosos dias sucederem-se
Cronometrados
Apontando um extenso caminho sem fim
Que se desenhava
No extremo de todas as solidões...

As páginas do calendário foram caindo
Como as folhas do Outono
E o frio era uma certeza

A vida também partia...

Em pleno deserto
Amargurado
Fitava a minha tumba vazia!

antóniocasado


 
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antóniocasado
 
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Enviado por Tópico
anakosby
Publicado: 29/08/2010 17:03  Atualizado: 29/08/2010 17:03
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Mensagens: 1739
 Re: a morte
Lembrou-me Cassandra, que só podia prever as desgraças.

É um poema de uma musicalidade grave, que encaixa de uma forma muito estética com o sentido.

Eu tenho um pensamento bem peculiar em relação a esta temática, acho que todos tem seu envelope, uns o rebcebem antes, outros não, creio que o grande problema é como administrar.

BEIJO, GOSTEI MUITO DE LER-TE! FAZ PENSAR!


Enviado por Tópico
Gyl
Publicado: 29/08/2010 17:59  Atualizado: 29/08/2010 17:59
Usuário desde: 07/08/2009
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Mensagens: 16075
 Re: a morte
Texto um tanto difente dos outros teus que estou habituado a ler, mas não menos belo. Esbanja talento e saber, meu caro poeta. Uma abraço do amigo Gyl!


Enviado por Tópico
Runa
Publicado: 29/08/2010 18:22  Atualizado: 29/08/2010 18:22
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Usuário desde: 24/04/2010
Localidade: Santo Antonio Cavaleiros
Mensagens: 1174
 Re: a morte
Uma antevisão sombria do ultimo dia. Belo poema.


Abraço