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Porque escreves? - 3

 
As hostes estavam em alerta e as leituras iam aumentando calmamente. Nós, no Salão Nobre do Palácio da Quinta da Piedade, trocávamos argumentos com a Dr.ª Roselinda. Umas quantas pessoas já ocupavam as cadeiras disponíveis e seguiam atentamente a tertúlia.
Alguém apontou para o grande ecrã onde todos podiam acompanhar o site on-line. Acabara de acontecer um primeiro comentário, de uma dama, claro, com o nome de Ana Kostov e dizia assim, e cito:
- “Em certa medida, segundo creio, todos tem razão... mas uns mais que outros porque há duas verdades fantásticas, a saber: este texto é demasiado grande para o pessoal pegar nele, ou seja, lê-lo. E a malta é mesmo vaidosa e por isso escreve e partilha.” - Ana Kostov
Após a leitura, em voz alta, pelo velho Jeremias gerou-se um burburinho no salão que ninguém percebeu muito bem se era uma reacção positiva ou negativa ao dito comentário.
O Jeremias aproveitou o uso da palavra para continuar, dirigindo-se a todos.
- Caros amigos, amantes da palavra como eu, é com agrado que reconheço alguém que não teme assumir o que anteriormente já tinha assumido. E isto é, a malta é mesmo vaidosa e por isso escreve e partilha, quer gostem ou não, considero ser uma matéria factual.
- Antes de debatermos essa tese devemos introduzir na conversa um outro comentário que aconteceu. – disse eu.
- Permitam-me que o leia. – assumiu a Manuela e começou a ler.
- “Tenho entrado pouco no Luso, só agora me apercebi desta história. Ora...Porque escrevo? Porque desde miúda sempre gostei de escrever, nessa altura, apenas porque gostava, e tinha brio em não dar erros ortográficos. Cresci e comecei a escrever, com outro prazer. Felicitações, temas de ocasião, nesta fase já escrevia em rima. Hoje, escrevo para libertar a alma, o pensamento, a depressão, a irritabilidade. Para recordar o ontem, imaginar o amanhã, sem que alguém me impeça de sonhar. O sonho é livre. A poesia também.
Portanto, escrevo para ser livre.” – escreveu a luso-poeta Antonieta.
Sem parar, a Manuela fez uma expressão de concórdia e partilhou:
- Direi, antes de mais, que esta intervenção é muito rica e considero que é feita com alguma profundidade. É algo que encaro com muito poético e inteligente. Penso que assumir a escrita na busca da liberdade é, por um lado, terno e por outro, conhecedor. Rico. E são estas partilhas que nos desbravam caminhos e enriquecem a alma.
- Mas quem escreve tem que ler! E porque lê? – questiona, do nada, a Dr.ª Roselinda aumentando o leque do debate.
- Calma! – alerta o velho Jeremias. Calma que a minha experiência avisa-me que existe muito boa gente que só pensa em escrever e quase nunca lê.
- Pois, pois! Por isso muita gente quando vê algum texto grande, em especial na Internet, passa para o seguinte sem o ler. – afirmou o Afonso.
- Se quiserem, mas é necessário algum trabalho de pesquisa, e até pode ser neste site, podemos encontrar muitos textos sem o mínimo de cuidado na ortografia, ou seja, cheio de erros e mesmo assim com comentários. E reforço, com comentários com uma total ausência desses factos, o que é estranho. – avançou o António.
Não havendo oportunidade para fazer no momento a análise, foi então que ficou decidido enviar mais um pequeno texto para o site. Quase num misto de partilha da conversa e na tentativa de uma maior interacção dos lusos on-line.
Não foi preciso esperar muito tempo, e isto porque a simpática e colaborante Antonieta decidiu colocar um segundo comentário:
- “É certo que de um modo geral, quando se abre algo que se pretende ler, atraído ou pelo título, ou pelo autor, ou seja porque motivo for, e se depara com um texto enorme, há logo a ideia de fechar sem ler. Mas também há títulos, há autores, há textos que nos levam a ler, pensar, reflectir, comentar, ou não, mas fica sempre algo dessa leitura.
Quem sabe, até uma ideia para uma próxima escrita, isto para quem gosta de escrever, claro.”
Ao ler este comentário, a Ana, nesse instante pediu a palavra para comentar:
- Concordo em parte com esta intervenção. Há, de facto, alguns autores em que lemos tudo o que encontramos escrito por eles, mas na mesma medida, há outros autores, em que já temos uma ideia preconcebida da sua escrita, que nunca os lemos e até podem colocar imensos textos ou escreverem algo de muito especial que nada acontece! Não vamos lá!
Mas essa é uma velha questão que ninguém a pega.
- Porque vais por esse caminho? – pergunta a Manuela

Intervalo

Esta história está a ser escrita. Está, portanto, em aberto e irá continuar, mas agora é a vez de quem lê ter a palavra… por favor, escrevam o que entenderem partilhar.

Obrigado.
Até já!


Eduardo Montepuez
http://montepuez.blogs.sapo.pt/

O meu último livro:

"O Espírito Tuga" - LUA DE MARFIM (2011)


Nota: São textos ainda não revistos por serem uma louca e imediata experiência. Grato pela compreensão e pela participação.

Eduardo
 
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Enviado por Tópico
Avozita
Publicado: 03/11/2010 22:14  Atualizado: 05/11/2010 16:57
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 Re: Porque escreves? - 3
Embora concorde com o comentário da luso-poeta
Antonieta, eu, ao ler o argumento da Manuela vejo
que tambem tem razão.
Acontece sim. Mas tanto acontece nos textos, sejam pequenos ou grandes, como nos poemas. Quem se limita ao autor procede do mesmo modo.
Este é de fulano/a, nem vale a pena ler. O que está errado. Vale sempre a pena, nem que seja apenas, tentar ler. Se agradar lê-se até ao fim, se for aquilo a que já nos habituámos, passamos à frente. Esta é a minha modesta opinião, sendo que o faço várias vezes.
Antonieta