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Eduardo Montepuez
http://montepuez.blogs.sapo.pt/

O meu último livro:

"O Espírito Tuga" - LUA DE MARFIM (2011)


O roupeiro fugiu entre os polegares de Jarbas. Levará consigo as histórias prisioneiras. Jarbas o homem pequeno de barbas aparava a relva para nela se deitar. De costas. Daria, assim, as costas ao suposto manifesto, outrora de micróbios e outros selvagens parasitas. Mas conseguia ver o azul do céu. E o azul, lentamente, substituíra o amarelo. A relva a flor. Jarbas era um parasita camuflado. O roupeiro uma biblioteca itinerante. E os polegares, uma baliza vestida de ética onde os camaleões deambulavam, as borboletas beijavam as palavras e o capataz, homem de mil vontades, afugentava os pardais. Também, aqui, os silêncios plantados na terra eram feitos de tretas. As mesmas tretas que iludiam os pedintes daquela sociedade chamada ermo. As vontades eram solitárias. Os passos tristes. E as dedadas no acrílico que faziam a cerca, transparente, eram gritos de desespero no silêncio da possibilidade. Mas eram muito mais, outras realidades, que o tempo solidificava. Jarbas era rei e senhor dos silêncios dos outros. Sentia as torturas como orgasmos. Ria com as mentiras e acreditava nos sons da chuva, quando dizia que esta era um violino que tocava só para ele. E no silêncio interrompido pela chuva, em gargalhas direccionadas ao céu, de costas na relva, apontava para a sua boca, com o mesmo polegar, e repetia: um dia serei o maestro!

 
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EMontepuez
 
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