Sonetos : 

MEUS SONETOS VOLUME 030

 
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1


Ao seguir calmamente pelas sendas
Auríferas do amor, singelo lírio...
Em teu alvor encontro velhas lendas,
Teu perfume inebria num delírio...

Procuro me esconder, profanas fendas,
Dos siderais fantasmas, meu martírio.
Quem dera, destra vida desse prendas,
No brilho das estrelas, meu colírio...

Ó lírio companheiro das desditas,
Afaste dos caminhos, vãos quebrantos.
As minhas mãos em prece, tão aflitas,

Esperam teus pendores alvos, santos...
As linhas do destino, foram ditas
Vivendo teus simbólicos encantos...


2


Ao segurar a mão que me destrata
Atando duas partes desconexas
Por mais que se pareçam tão complexas
As horas vêm a força que maltrata.

Se côncavas ou mesmo se convexas
O quanto não somamos se retrata,
Não sei se ainda agüenta esta bravata
Ou deixo o que inda resta em mãos anexas

Avesso ao que comprei: gato por lebre
Não tendo nem mansão, busco o casebre
Que embebe de ilusão um torpe sonho.

Servindo com lascívia ao servidor,
Seguro em mansidão meu destrator,
Gargalho sobre o resto, sou medonho...


3


Ao sentir a presença de quem amo
O coração palpita e quase pára.
Com voz quase engasgada quando chamo
Pessoa tão querida e mesmo rara.

Por vezes no silêncio já reclamo
Se tua mão me deixa e não me ampara.
Teu nome logo ao vento; vou, exclamo
Tu és a maravilha que eu sonhara...

Por isso ao sentir o manso vento
Tocando minha face com carinho
Percebo, com feliz pressentimento,

Que não ficarei jamais sozinho
Pois tenho essa alegria e me contento
De ter o teu amor, abrigo e ninho...

4


Ao sentir a presença deste olhar
Tão meigo e carinhoso sobre mim
Sinto toda a delícia de te amar.
É bom demais viver e estar assim

Refém desta alegria a me tocar.
Depois de tanto tempo sei, enfim
Que a sorte benfazeja a se mostrar
Depois de tão distante disse sim.

Amar é se encontrar em plena festa
Embora muitas vezes, a saudade
Um gosto de amargura, leve; empresta.

O teu sorriso acalma e me motiva
À luta que é difícil, na verdade.
Mantendo uma esperança sempre viva!


5


Ao sentir os teus passos, minha amiga,
Percebo quanto a vida foi ingrata...
Nas noites em que a lágrima me abriga
Mergulho nosso amor numa cascata...

Percebo que não queres mais voltar...
Mas nada me impediu de te querer,
A noite sem te ter, perde luar,
Não posso mais, assim, sobreviver...

Quem dera, tu voltasses para casa.
As rosas estão morrendo sem cuidado.
A dor da solidão tanto me abrasa,
Eu preciso te ter, aqui do lado!

Mas volta minha amada, nossas flores,
Morrendo no jardim, dos meus amores...


6

Ao sentir tua boca sobre a minha
Na sede que matamos, todo dia.
Meu corpo no teu corpo já se aninha,
Dueto tão completo em sintonia...

Dançamos tantas noites sem descanso,
Rolando nossos corpos tão suados...
Depois das nossas danças, mudo; manso,
Namoro estes teus olhos já fechados...

Eu quero ter eterna sensação
De terna e de total felicidade.
Saber que te encontrei; tanta emoção,
Vivendo nosso amor, sinceridade...

Eu quero poder sempre me iludir,
Amor, em tantas vidas, repetir...


7


Ao sentir tua presença junto a mim,
Num vento que me traz tanto arrepio,
Desnudo-te e mergulho até o fim,
Num mar maravilhoso, festa e cio.

Rolamos em lençóis, renda e cetim,
Teu corpo, conhecê-lo é um desafio,
Em linhas delicadas eu desfio
Os traços que te fazem linda assim.

Assento meus desejos em teus gozos,
Recebo com audácia teus caminhos.
E entrego-me sem tréguas aos carinhos

Que fazes, sem limites prazerosos,
E o brilho que roubamos de uma lua
Emana em tua pele, sacra e nua...


8

Ao sentires um sonho
Ainda te tocando
No quanto fora brando
O tempo onde componho
Singrando este medonho
Caminho o desenhando
Na sorte desde quando
O passo além proponho.
Resulto do passado
Inútil quando brado
Vestindo a hipocrisia
Assim a sorte dita
O quanto da infinita
Ausência se faria.



9

Ao sentires um mundo
Diverso do que trazes
Ainda em novas fazes
A paz onde aprofundo
O sonho e sei me inundo
Da sorte em tais audazes
Momentos onde em frases
Mordazes; sigo imundo.
Aclamo esta ventura
E nada se procura
Senão tal mesmo engodo,
Depois da tempestade
O quanto se degrade
Transforma a dita em lodo.


10

Ao sentires um vento bem macio
Chegando devagar, roçando o rosto,
Lambendo tuas pernas, bem vadio,
De desejo e carinho assim composto,

Um vento que incendeie o quente estio.
Deixando o teu querer bem mais exposto,
Molhando devagar, doce rocio,
Provando em tua boca, todo o gosto.

Ao sentires o vento te tocar,
Audaz já levantando a tua saia.
Sorvendo de teu corpo, devagar,

Verás que enfim cheguei, minha morena.
Sorriso no teu rosto não te traia,
Que a vida em mil prazeres nos acena...


11


Ao sol incandescente recomeça
O dia feito em glória e tempestade.
Sabendo recolher peça por peça
Eu vejo em nosso caso, a liberdade.

Não temo mais sorrisos nem sarcasmos,
A manta que nos cobre é feita em luz,
Tocado pelos sonhos dos orgasmos
O sol em nosso quarto reproduz

Serenos vendavais do gozo pleno,
Bonanças que são feitas dos suores,
Delicadeza em cada bom veneno
Demonstram fortes brilhos bem maiores.

Saber reconhecer que a mansa paz,
No riso mais feliz, decerto traz...


12


Ao soltares a voz em canto belo,
Encantando quem sempre desejou
Meu amor tão imenso te revelo,
O teu canto macio me encantou...

Eu só quero perder-me nos teus braços
Encontrando afinal, o que sonhara,
Esquecendo meus passos, meus cansaços
Na procura por jóia viva e rara.

Eu te quero espelhando meu jardim,
Eu te quero vencendo meus temores.
Eu te quero escondida dentro em mim,
Renovando o perfume destas flores...

E te quero por certo, uma rainha,
Uma deusa sublime, inteira, minha...


13



Ao som da melodia delicada,
Delírios entre flores e canteiros.
Na voz encantadora de uma Fada,
Prazeres são comuns, são corriqueiros.

Ouvir, do coração, a melodia
Que espalha pelos Céus a claridade.
Vivendo a verdadeira poesia,
Alados pensamentos: liberdade.

Amor, quanto maior, mais frágil é,
Na tenra sensação de ser feliz,
Alçando o Paraíso. Força e fé,
Deixando a minha tarde menos gris

E enquanto a deusa bela, ao longe canta,
Minha alma, hipnotizada, se agiganta...


14


Ao som da melodia um coração dispara
Vivendo uma loucura, amar-te todo dia.
A gente não tem cura, e o tempo que não pára
Promete uma ternura imersa em alegria;

A sensação dileta – amor é jóia rara-
É mais do que sonhara, e tudo o que eu queria,
Mostrando enfim querida, o que eu mais procurara
Um sonho de viver a vida em harmonia...

Na festa, no banquete, a fome não sacia
Eu sempre desejei teu néctar e ambrosia,
Por isso venha logo, o tempo não descansa

Eu quero mergulhar em tal felicidade
Que o tempo já me deu; e a vida agora alcança
Pois sei que agora eu tenho um amor de verdade...


15


Ao suplantarmos, juntos, contratempo,
Nessa amizade poderemos crer
Suplantaremos com certeza o tempo
Demonstrará o quanto é bom viver.

O coração que se demonstra assim
Aberto a tantas emoções nos traz
Força sublime que permite a mim
Reconhecer a plenitude audaz

Que vencerá sem demonstrar temor
Os temporais aos quais eu enfrentei
Jogado contra as pedras hoje eu sei

Luz soberana em que viceja a flor
Após enfim vencer a tempestade,
Amigo, eu sei que é dura uma saudade


16


Ao suplantar diverso contratempo
Chegando à fortaleza que me alente,
Por mais que no caminho, tanto vente,
A vida se transforma a cada tempo.

Nos cânticos, nos pórticos, promessas
Do dia em que se possa trafegar
Além do turbulento e imenso mar,
Seguindo este querer que assim confessas.

Não tendo mais medida, não me importo,
Se acaso eu ancorar em outro porto,
Terei de teu olhar, fonte e farol,

Quem tem o manso amor por faroleiro,
Permite mesmo ao cego timoneiro
A guia que ilumina este arrebol.



17


Ao tanger belas cordas de uma lira,
Em sons maravilhosos, pois amenos,
Ao lapidar um sonho, já delira,
Com dias delicados e serenos.
Os olhos desta lua; nunca tira,
Dulcíssimos, sonoros, raros trenos...

Encontra em manso amor, a liberdade
De estar além do céu, saber do mar,
Rompendo uma alvorada na ansiedade
De ter e ser o sonho que buscar
Na ebúrnea madrugada, a claridade,
Às trevas dentro da alma, iluminar

No céu, mulher qual deusa, raios plenos,
Brilhando no infinito, a bela Vênus...



18


Ao te despir, querida, uma loucura
Invade meu desejo e faz audaz
Este roçar que veio com ternura
Ferocidade intensa já se faz.

Insano mas decerto com brandura
Esta vontade fica mais voraz
A tua silhueta, me tortura
Somente o teu prazer me satisfaz...

Tocando tua pele com tesão.
Adoço minha boca no teu mel,
Amor que se desnuda em tentação

Galopa toda noite rumo ao céu.
Vencido pelo fogo de um vulcão,
Repito toda noite em carrossel...



19

Ao te encontrar bebendo por aí,
Rolando pelos bares , botequins,
Desculpe, meu amor, se assim sorri.
Meios não justificam-se nos fins.

Mas não pude conter minha alegria
Ao saber que quem sempre maltratou
Perambulando em dor, em agonia,
A vida, justiceira, se vingou...

O remorso te leva ao desespero...
Bem sei que este veneno que provei
Quando em traição eu te encontrei

Nos braços de um querido companheiro,
Feriste meu amor em dura lança.
Por isso essa alegria, uma vingança...


20


Ao te encontrar serena, quis ser lúcido...
Doidivanas pensei que te enganava...
Mas por ser transparente, sou translúcido,
Sorrias, cada vez que me encontrava!

Dos porões, emergindo meus defeitos,
Percebeste num átimo: sou louco!
Não queres mais dormir meus mansos leitos...
Te grito embalde, foges, estou rouco...

A voz não me permite te chamar,
Não posso teus desejos transformar
Em simples valentia nem conquista.

Amor, te imploro, nunca mais insista,
Prazeres não nasceram para ti.
Transtornos são, pois, tudo que vivi!
Marcos Loures


21



Ao te encontrar, amor;
O tanto quanto eu quis
Gerando outro infeliz
Caminho a se compor
Na ausência de pudor
Na vida por um triz
O todo não mais diz
Do vago redentor.
Esbarro nos enganos
E sei dos soberanos
Cenários do passado,
Inutilmente eu tento
Vencer o imenso vento
E assim o nada invado.



22


Ao te encontrar, amor; eu descobri
Que a vida pode ter felicidade.
Não sabes mas bem antes, tudo aqui
Trazia um triste gosto de saudade

De um tempo que passou, mal percebi,
Deixando em seu lugar, ansiedade.
Agora que encontrei amor em ti
Eu volto a ser feliz, isso é verdade...

Estrela que vagava sem ter rumo,
Cometa sem paragem nem remanso;
Mas desde que em teus lábios me perfumo

Abri meu coração e esqueço o medo,
Os píncaros da sorte, amor alcanço
Do cofre do esplendor deste o segredo...

23


Ao te sentir sonhando junto a mim,
Sorrisos escapando de soslaio
Tu tens todo o perfume do jasmim,
Delicadeza de uma flor de maio...
Teu nome tão sublime digo enfim
Em toda prece e quase que me traio

Na santidade imensa deste amor,
No templo e nesse altar que é divinal,
Beijando mansamente este esplendor,
Teu corpo aqui sereno, sem igual.
Depois de tanto tempo de torpor
Acordo no teu sonho magistral.

E vejo a noite inteira se passando,
Tua beleza rara, eu adorando...


24

Ao te ver caminhando tão fogosa
Percebo por que foste sempre minha
Ao sentir teu perfume, bela rosa,
Pergunto por que vais assim sozinha?

A boca te ofereço carinhosa,
Do teu corpo, o desejo se avizinha.
Tanto tempo esperei, moça formosa,
Não sei por que esse amor nunca me vinha.

Não posso conceber: eu não resisto!
Amar sem ter teus olhos? Um absurdo!
Por isso e tão somente, assim insisto.

Viver sem ter amor? Não mais prevejo.
Amor assim demais, me deixou surdo,
Somente ouvindo a voz de quem desejo...


25

Ao te ver fatigada, no caminho,
Entendi por que sempre foste minha...
Quem num dia partiu, triste e sozinho,
Agora te encontrou triste e sozinha...

Teu caminho buscando meu carinho,
Meu caminho no teu sempre se aninha
Quem pensava poder ser passarinho,
Ao viveiro retorna e já se alinha...

Somos fiéis metades desse todo,
Complementos complexos mas perfeitos.
Convivemos completos, mesmo lodo;

A comida que como te sacia,
Minhas mãos adormecem nos teus peitos
A vida sem metade é tão vazia...



26



Ao te ver solitária pelas ruas
Das ruínas desta alma que foi minha,
Uma imagem distante se avizinha
E embora tão tristonha, já flutuas.

Saber destes anseios que cultuas,
É como se encontrasse rara vinha,
E mesmo que persistes; vã, sozinha
Tu trazes em teu rosto sóis e luas.

É tanta claridade que entontece,
E faço num louvor a ti a prece
Que possa redimir teu descaminho

Quem sabe, no futuro esta ave possa
Perceber a emoção que pensei nossa
E venha descobrir, em mim, seu ninho...


27


Ao te ver na distante e tão risonha serra,
O meu olhar te procura, em sonhos derradeiros.
Amargor da saudade em volta dos ribeiros.
Na trilha desta serra a marca d’uma guerra.
A noite sem ter sonho é triste, e me desterra...
Esperas, qual princesa, os bravos cavaleiros.
Eu só posso te dar, amores verdadeiros.
O teu belo castelo, está em outra terra.

A natureza rara, em alegrias, canta.
O pássaro que voa a quem escuta, encanta.
Só Deus nunca me escuta, embalde minha prece...
A nuvem, escondida, aguarda; trará chuva.
A mão que me tortura esmera-se na luva.
A tarde vem caindo, a noite me envelhece...


28

Ao te ver na distante
Seara aonde um dia
O todo se adiante
E trague a fantasia
E nisto um galopante
Caminho em ironia
Vagando a cada instante
Além do que podia
Resumo o verso em sonho
E tento enquanto o ponho
Seguir em calma luz,
Mas quanto mais audaz
A noite se desfaz
E o nada se produz.


29

Ao te ver na brumosa
Manhã mais solitária
A vida temerária
Ainda se antegoza
Do risco em majestosa
E dura sorte vária,
E mesmo solidária
Paisagem pavorosa.
Resumo do passado
Enquanto além eu brado
Vencido pelo ocaso
O rumo se traduz
Além da farta luz
E nisto em vão me atraso.


30

Ao te ver, me enredaste em cordoalha...
Nem tento distinguir os teus enredos.
Os cortes que me deste, de navalha,
Aos poucos, se reduzem aos meus medos...

As linhas que compõe velha toalha,
Se perdem cansaço dos meus dedos.
Nas ondas onde morro, vento espalha
As águas que enfrentaram meus segredos...

Perdido, não pretendo nem temor.
Rotulo minha máscara um tumor,
As párias madrugadas foram frias...

Me roubas, disfarçada em poesias,
O que me resta então de valentia.
Perdi, nas cordoalhas, fantasias...


31


Ao te ver, anjo, voas liberdade;
Sonho com asas, céus poder chegar,
Buscando assim, em toda claridade,
Os teus braços, teus mansos olhos, ar...

Quisera poder anjo, na verdade
Voar te ter bem perto, meu luar...
A vida cruel, pura dor, maldade,
Asas não me deu, como vou negar!?

Mas num sonho dourado, asas de cera...
Flutuar, conhecer estratosfera,
Partir para o jamais nunca alcançado...

Alcançando assim, glória, pobre pícaro.
E, depois, num mergulho des’perado,
Nos teus braços morrer, como fosse Ícaro!


32

Ao tempo em que tristeza se excedia
Vibrando enquanto tanto que eu sonhava,
Certeza de que nada se passava
No peito que exalava rebeldia.

Vencidas as inglórias naturezas
De medos e vazias engrenagens
Tocando nas feridas, incertezas,
Me levam por insanas, más, aragens...

Amor que se tocaia nas vinganças
Espreita meus enganos e torturas
Matando o que me resta de esperanças
Causando tanta dor, noites escuras...

Mas sinto que não posso resistir,
Somente o que me resta então, sorrir...


33


Ao ter a primazia da presença
Daquela que se fez enamorada,
Vencer em alegria, a madrugada
Prevendo amanhecer em luz intensa.

Nos sonhos de um amor, a minha crença
Expressa a fantasia em paz bordada,
Minha alma libertária segue, alada
Buscando em teus carinhos, recompensa.

Perambulei durante a vida inteira
Em bares e sarjetas, vãos carinhos.
Quais pássaros que buscam os seus ninhos,

Ilusões procurando a companheira
Que nunca vinha. Ronda outrora agreste,
Atocaiando a estrela em que vieste...


34


Ao ter a solidão por companheira
Não pude vislumbrar outro futuro
Senão este caminho amargo, escuro
A senda dolorosa e derradeira.

A fantasia; agônica bandeira
Tornando o meu destino mais impuro,
Por vezes outras sendas eu procuro
E nada,além da dor tão costumeira.

Vassalo desta estúpida ilusão,
Vergastas sobre as contas, lanhos tantos.
Vencido pelos tantos desencantos

A vida sonegando a floração
Não tenho mais as flores do jardim,
A seca vai matando tudo em mim...


35


Ao ter esta visão maravilhosa
Da deusa que chegou em redenção
Batendo bem mais forte o coração
A vida se demonstra fabulosa.

E canto nosso amor em verso e prosa
Depois de tanto tempo em solidão
Aos poucos pressentindo inundação,
Os erros do passado, amor já glosa.

Escancarando o peito, sinto vir
O gosto generoso de um porvir
Aonde possa ter algum descanso.

De toda esta batalha que eu vivi,
O amor que sei que existe dentro em ti
Já trouxe a placidez deste remanso...


36




Ao ter este vulcão perto de mim,
Deliciosamente me perdi.
Chegando num momento junto a ti,
Promessa de um prazer quase sem fim.

Num sensual delírio quero assim
Tocando devagar aqui e ali,
Na imensa ebulição em que verti
O fogo mais audaz; por isso eu vim

Falar desta volúpia insaciável
Do Amor insuperável, quase incrível,
Tua nudez; perfeito combustível

Teu corpo delicado, irretocável.
Vagar entre os teus vales e montanhas
Num jogo em que te ganho e que me ganhas...



37


Ao ter já percebido que amizade
Supera qualquer trauma em nossa vida,
Vivendo enfim total felicidade,
Eu vejo uma tristeza em despedida,

Meus versos já supondo a claridade
Esbarram-se nas curvas de saída,
Saúdam desse amor prosperidade,
Cultivam esperança decidida.

Eu quero por sentindo no meu canto
Que ufana uma vitória sem temores.
Amiga não permita o desencanto

Que cala nossa voz, trama seqüelas.
Misturam-se nos céus milhões de cores,
Nas telas em que o canto bom revelas...


38


Ao ter no doce início da manhã
O vento delicado do teu riso
Vivendo esta ternura em louco afã
Encontro nos teus braços, paraíso.

Tingindo esses meus sonhos com as cores
Que roubo da manhã ensolarada
Tramando em teu colo mil amores
E Saiba deste quanto que és amada.

Eu sinto tua fala tão macia
Entrando no meu peito sonhador,
Acordando e com isso, ganho o dia,
Envolto nas entranhas deste amor.

Amor que me entregaste é solução
Que teima e fortalece o coração!


39


Ao ter o teu calor junto de mim
Refaço a minha vida sem temores,
O céu vai renovando suas cores
A lua no teu lábio carmesim

Prateia a nossa cama e traz no fim
O brilho deslumbrante em seus fulgores,
Contigo, meu amor, por onde fores
Mil flores no canteiro, em meu jardim...

Amar, como mereces, o bastante
Jamais conseguirei, isto eu pressinto,
Bebendo de teu corpo tal absinto

E sendo a cada dia teu amante.
De tudo o que vivemos, não duvido,
Por isso este meu verso agradecido...


40


Ao ter o teu perfume junto a mim
Estendo o coração nesta varanda,
Na boca o mais suave carmesim,
Meu peito enamorado anda de banda.

O vento se espalhando traz em fim
Amor que em tanto amor já não desanda
Na dança mais sublime sinto enfim,
O gosto de dançar nossa ciranda.

Além do que quisera há tanto tempo,
Não tendo mais, na vida, um contratempo,
Não trago nem sequer algum queixume,

Na noite tão escura que enfrentara
Ao ver maravilhosa jóia, rara,
Um louco viajante encontra o lume.


41


Ao ter o teu sorriso
Querida, com prazer
Encontro em paraíso
Vontade de viver

Num beijo mais preciso
Num fogo a nos arder
Perdendo o meu juízo
Encontro o bem querer...

Um amor tão magnético
Muita vez enigmático
Não permitindo ao cético

Ficar sozinho, estático.
Desejo tão eclético
Se torna bem mais prático.


42


Ao teu lado conhece uma alegria
Quem fora prisioneiro da tristeza,
Fartando-se e brindando se faz presa
Do amor que em noite escura já nos guia.

Um verdadeiro sonho que inebria,
Em taças cristalinas põe a mesa.
Rompendo em mansidão cada defesa
Inverno rigoroso, amor estia.

Fiando na divina transparência
Um gozo feito em seda, em organdi.
O quanto em maravilha eu antevi

Tocado pela maga florescência
Que emanas, em sorrisos e convites.
Amor que não tem tréguas nem limites...


43



Ao tocar o teu corpo devagar,
Beijando cada canto e cada curva.
A vida começando a nublinar
Desaba nas delícias de uma chuva...

Eu quero passear pelos teus rios,
Andar e conhecer todas as margens.
Mergulhando loucamente nos estios,
Descendo até na foz, toda a viagem...

Entrar nos alagados, afluentes...
Descer tuas cascatas, corredeiras.
Saber destes braços envolventes
Nas ilhas delicadas, nas pedreiras...

Eu quero teu amor completamente,
Morrendo em teus desejos, uma enchente...


44



Ao tomar os teus braços minha amada
Convites de alegria e de bailado
Repleto de emoção, a noite inteira
Que faz da fantasia a companheira

Tantas vezes querida e desejada!
Nos risos e canções, no peito aberto
Nas manhas e manhãs, eu quero sempre,
Matando em mil oásis o deserto

Que fora a minha vida antes de ter
O gosto mavioso do prazer
Sorvido em tua boca, gota a gota.
A fonte do desejo não se esgota...

Amor que é belo e raro, delicado
Em mil canções te clamo, apaixonado!


45


Ao tomar os teus braços minha amada
Sentindo a vibração deste desejo,
Amor sendo sublime, em luz sobejo
Desvenda esta promessa anunciada

Alçando o Paraíso em bela estrada,
Deixando para trás orgulho e pejo,
O coração outrora tão andejo
Mergulha em claros raios, todos. Cada...

Ouvindo esta canção, solos, guitarras,
Rompendo do passado vis amarras,
Nos dedos de Lucia, esta ventura

De imagens em mosaicos, noite/estrela,
O amor que intensamente se revela,
Traduz em belos sons, tanta ternura...
46

Ao vê-la se revela o mais velado
Sonho em que me transponho, nave insana.
Farturas de ternuras, cada cardo
Deixado nos caminhos, não me engana.

Vislumbro precipício onde me enfado
E fujo em alva lua, uma cigana
Que vaga pelo espaço iluminado
E morre nos meus braços, soberana.

Prevejo o que não quis ver os meus olhos,
Agudos pedregulhos, meu antolhos,
Impedem a clareza necessária.

Qual fossem mil corcéis, estrelas vagam
Imersas entre nuvens que as apagam.
Noite em látego açoite, temerária...


47


Ao vê-la, percebera que sonhara
Em vão por muito tempo. Percebia
Que o quê julguei tratar-se jóia rara,
A bem de uma verdade nem sabia.

Olhar ermo, distante, concebera
Uma mulher mais bela que teria
Se não pudesse ser somente fera
Aquela que morrera, raie o dia.

Erguendo-se, dos sonhos, tal fantasma,
Reclamam as quimeras ressurrectas,
Eflúvio desvairado, um ectoplasma

Invade meus presságios otimistas.
As mãos que não mais lavo, estão infectas
Subterfúgios do amor, minimalistas...



48


Ao vento se entregando uma saudade,
É parte do que fui sem recompensa.
Vagando em noite fria, a dor compensa
O tempo em que vivi felicidade.

Quem se pudesse em liberdade
Alçar um pensamento que convença
O coração insano da força imensa
Que uma esperança traz na realidade...

Amiga, me perdoe o verso triste,
Eu necessito sempre do teu colo,
A planta vai secando em duro solo.

Apenas a amizade inda resiste
E nela eu me apegando posso crer
Que um dia inda haverá o amanhecer...


49


Ao velho, pleno encanto, o retorno final
De quem bebeu o sonho em goles generosos.
Por mais que talvez tenha um gesto triunfal
Os ritos de um amor não são maravilhosos.

Na escada do passado, um trôpego degrau,
A queda anunciada em passos caprichosos
Prepara o coração, e sendo bom ou mal
Quem sabe não teria olhares prazerosos

Daquela que motiva o sonho mais feliz.
Num canto qualquer, guardo em minha mente
A imagem mais sublime expressando o que eu quis

Embora disso tudo, apenas o que sente
O velho trovador em busca da alegria
É o tempo de sonhar vivido em poesia...


50


Ao vento estas palavras se perdendo,
Acerco-me dos sonhos mais audazes,
Esqueço os meus curingas, penso em ases,
Prazer jamais passou de um vago adendo.

A história novamente revivendo,
Os quadros destroçados, simples fases,
Acumulando os riscos que me trazes,
Distante do que cri, envelhecendo.

Discórdias se tornando um estribilho,
Lembranças contumazes; vejo e trilho.
Resquícios do vazio que criamos.

Errático poema em voz sombria,
O quanto de emoção nos desafia
E as árvores quebrando antigos ramos...





51


Ao ver-te transportada em luz intensa,
Vigor de uma paixão iluminando
A noite que se fora, outrora densa,
Aos poucos no meu peito se amainando.

Como a dizer que a vida, enfim compensa,
Em todos os momentos, desde quando
Eu recebi da sorte a recompensa
Dos braços da mulher que estou amando...

No lusco fusco, imerso em nosso quarto,
Percebo em contraluz, em transparência,
Beleza tão sutil, amorenada,

Depois de ter amor, deitando farto,
Eu agradeço a Deus condescendência
De ter esta mulher tão desejada...



52


Ao ver-te caminhando em solidão
Na ausência dolorida, ruas vagas,
Noctâmbula visagem – tentação.
O que faria, amor, por estas plagas?

Sentindo palpitar meu coração
Por tanto que eu te quis; sensações magas
Tomado de desejo; em comoção;
Lembrando o teu carinho quando afagas

Meu rosto, meus cabelos, minha pele.
Uma vontade insana me compele
E sigo, teu caminho passo a passo.

Ao te tocar, querida, firmemente,
Percebo num sorriso, de repente
O quanto nos queremos, e te abraço...


53


Ao ver-te em plena relva desnudada,
Ao sol iluminando a natureza.
Sorrindo me convida extasiada,
A mergulhar contigo em tal beleza.

Beijando tua boca tão molhada,
A pele tão gostosa, com certeza,
Aos poucos vai ficando arrepiada,
E invado sem pensar e sem defesa.

Meus lábios vão descendo devagar
E logo ao encontrar os teus caminhos,
Em sedução me perco em teus carinhos.

O sol por testemunha, vem brilhar
E assim na tarde insana, sem juízo
Adentro com loucura, o paraíso...

54


Ao ver-me derrotado e sempre triste,
Ardendo na terrível solidão,
Olhando tão somente para o chão
Pensando que alegria não existe.

Tua palavra amiga tanto insiste
E mostra de repente, a solução,
Deixando para trás caminho vão
Mostrando o renascer que inda resiste

No peito de quem sabe, um sonhador,
Com toda a mansidão e liberdade
De poder ter enfim, felicidade,

Nos braços mais airosos de um amor
Que é feito e modelado em amizade,
Que aos poucos demonstrando o seu valor...


55


Ao ver-te caminhando pela casa
Envolta na toalha; te desejo.
No banho que tomaste, queimo em brasa
Tua nudez divina eu já prevejo..

Meus olhos estão presos, cordoalha;
Ligando esta vontade com o fato
Da maciez felpuda da toalha
Tocar essa delícia. Que maltrato

Tu fazes para um pobre coração
Que vive desejoso desta pele
Envolta com carinho. Uma ilusão
Ao mesmo tempo chama e me repele...

Depois, a noite inteira vou sonhando
Debaixo da toalha... Diga... Quando?


56


Ao ver-te caminhando em plena graça,
Rainha de meus sonhos, sedutora.
No véu de uma beleza que esvoaça,
Te quero, minha amada; vem agora.

Tesouro que buscara, não disfarça
Em brilhos redentores, sem demora,
O tempo do teu lado nunca passa,
Minha alma, te deseja e tanto adora...

Murmuro em cada verso esta esperança
De ter essa mulher sempre comigo.
Vivendo nossa vida, eterna dança,

Vibrando sem temores, esta emoção,
Do amor no qual navego e tenho abrigo,
Carinhos em feitio de oração....


57


Ao ver-te se afastando dos famintos,
Toando um verso frouxo de mentiras.
Amores propagados vão extintos,
A roupa da esperança rota em tiras.

Ao ver-te tão distante das origens,
Rasgando o Evangelho, destroçando.
Numa preservação de velhos bens,
E o novo que surgia já abortando.

Ao ver-te Igreja assim, tão insensível,
Matando pouco a pouco uma esperança.
No Cristo que expuseste o combustível
Que impede amor em paz em aliança.

Tu matas o sentido da amizade,
Negando para nós, a claridade...


58


Ao ver-te qual miragem no meu quarto,
Desnuda passeando em minha cama;
Sorriso sensual, sereno e farto
Reacendendo em mim, toda esta chama...

Esplêndida visão do paraíso,
Tua nudez convida para a dança,
No toque mais sutil e mais preciso,
A festa em nossa noite já se avança...

E passo a passo sigo a maravilha
De teu corpo, decorando cada ponto.
Aos poucos aprender esta cartilha
Que traz todo desejo a que remonto...

A boca peregrina te decora,
A noite me alucina e nos devora...

59

Ao ver-te tão bonita, moça feita,
Reparo como o tempo é tão cruel.
Às vezes a minha alma não aceita
Pensando ser criança, risca o céu

Em busca de um alento que não cabe
Em quem já ultrapassou o fim da tarde.
Um coração teimoso nunca sabe
E envolto em fantasias, lúdico, arde...

Meus dias se passando sem remédio,
Correndo, não consigo acompanhar.
Sobrando do que fui; apenas tédio,
Vontade de me ter sem me encontrar...

Ao ver-te tão bonita, me retrato
Preparo a despedida, e me maltrato...


60


Ao ver a claridade em lua cheia
Serpenteando brilhos na calçada,
Quem veio de um vazio e traz o nada,
Ao ver tanta beleza se incendeia.

Eu quero ter o verso em que se creia
Deixando a solidão ali, jogada,
Porém uma saudade disfarçada
Invade em ondas tantas, minha areia.

Matando o que não fora proveitoso,
O céu se mostra menos tenebroso,
O tempo passará em vinho e gim.

E tendo o que pretendo e sempre penso
Amor que se mostrando forte e denso
É meu princípio, trama, rumo e fim.
Marcos Loures


61


Ao ver a fantasia em minissaia
Estúpidos ignaros sonham alto,
No frio do granito e do basalto
Espera a quente areia de uma praia.

Torpe ilusão, aos poucos já desmaia
Enquanto uma tristeza vem de assalto,
Rasgando o vil tapete feito asfalto
A dor vem se enfurnando, amor que saia.

Os dedos profanados em temores,
Demonstram sempre em forma de tremores,
A vida que se fez sem conteúdo.

Nas vísceras expostas pelas ruas,
A fome malfazeja em carnes nuas
Formata a solidão depois de tudo.


62

Ao ver a lua em pratas derramada
Por sobre as folhas secas do passado,
Percebo que afinal não sobrou nada
Do tempo em que vivera amargurado.

A noite surge cálida, estrelada,
Dizendo deste sonho emoldurado
Na tela que em belezas é mostrada,
Momento tão sublime, iluminado.

Argêntea maravilha, noite plena,
A lágrima, querida agora acena
Com o que mais sonhei: transformações.

Entregue a tais encantos adormeço,
Amor ao acertar meu endereço
Explode com supremas emoções!


63

Ao ver a luz que trazes e não vês
Lamento os teus rancores, minha amiga.
O amor jamais traduz insensatez,
Herética loucura desabriga.

O verdadeiro amor, por sua vez
Permite que o caminho em paz prossiga.
Distante do que pensas, mesmo crês
É sonho que pacífico nos liga.

Porém na tempestade da paixão
Encontrarás a luz da solidão,
Que nos prepara, insana para a glória

De ter o amor supremo e verdadeiro,
Que faz do ser amado, companheiro
E trama, sem rancores, a vitória...
64


Ao ver a minha amada adormecida,
Deitada sobre pétalas de flor,
Eu sonho uma ilusão tão esplendida
Formada nas gotículas do amor...

Beleza assim igual, jamais sonhara,
Talvez p’ra ser sincero se permite
Com alma em delirante jóia rara,
Em tudo me reporta a Afrodite...

Luar ao ver a deusa aveludada
Penetra na janela, sem escusa...
A boca que te queima, minha amada,
Abrindo esses botões da tua blusa,

Deixando os belos seios, ambos meus,
Propícios aos amores mais ateus...


65

Ao ver a paz reinando em nossa casa,
Eu passo a crer, deveras, num milagre,
Pesando feito cruz, amor descasa
Segue solenemente pro vinagre.

Capítulos depois, fim da novela,
E a mesma sensação de jiló, fel.
Calor dos braços teus já me congela,
Vazios suprimentos, meu farnel.

A cerração tomando este horizonte,
Na boca um gosto assim feito isopor.
Sem ter a fantasia que me aponte
Mirantes na beleza do sol-pôr.

Catástrofes, tempestas, vendavais?
Pior: tédio e marasmo, nada mais...


66

Ao ver a putaria se instalando
Nas cidades por Ele benfazejas.
Aos poucos em loucura transformando
As hordas mais fiéis antes sobejas.

Pensando em poder ter a solução
Mandou soldados belos do infinito,
Porém o povo em louca comoção,
Ao ver o batalhão raro e bonito,

Em louco desvario, eles vieram
Fazendo uma algazarra sem igual,
E dizem, na verdade que quiseram,
Mostrar aos pobres anjos sexo anal.

Por isso, depois desta putaria,
É que se institui a sodomia...


67

Ao ver a silhueta tão esguia
De quem sempre sonhei, imagem bela.
Percebo que em verdade eu já vivia
Na busca de quem deusa enfim, revela.
Relances maviosos da alegria
Onde um futuro em fausto, amor já sela.

Amor, um velho bruxo, feiticeiro;
Se faz pura magia e forte encanto.
Um sentimento nobre e verdadeiro
Emoldura beleza em breve canto.
Enfronha-se em palavras, sorrateiro,
Pegando de surpresa, um mago espanto.

Ao ver a silhueta tão esguia,
A noite mergulhando em fantasia...


68

Ao ver a sua face prateada,
Percebo imensidão de um pleno amor.
A lua se permite ser tocada
Pelo astro-rei, eterno sonhador.

A noite intensamente iluminada
Encanto que se mostra num louvor,
Embora tão distantes é amada
Irradiada; entrega-se em ardor.

A Terra testemunha cada passo
Do amor que se emoldura lá nos céus,
Deitando sobre todos belos véus

E um ato mais sublime ganha o espaço,
Cenário fabuloso e sensual
Na entrega de um eclipse, amor total...


69

Ao ver a terra ardendo no sertão
Na seca que destrói tanta esperança,
Na luz de um candeeiro ou lampião
Amor batendo forte na lembrança

Depois de tanto tempo andando em vão
O olhar da minha amada enfim me alcança
Aquece qual fogueira de São João
Trazendo ao coração uma festança.

Os olhos da morena se espalhando
Mudando a cor de toda plantação
Asa branca voltando como em bando

Deixando para trás a arribação.
O amor veio de novo verdejando
Promessa de divina floração...

70


Ao ver a tua luz, sinto atração
De um jeito que não posso me conter.
Trazendo esta divina sensação
Que logo me retém em teu poder.

Eu sinto que me invade esta emoção
Que aos poucos vai tomando todo o ser,
E me enlouquece em forma de paixão,
Sem ela como irei sobreviver?

Tu és amor maior que desejei,
E vivo o sentimento com doçura,
Depois de desencontros te encontrei,

Com toda uma certeza, sem temores.
Quero me perder nesta ternura
Que forra nossos mágicos amores.


71


Ao ver amor tão puro, claramente
Esboço um movimento de defesa
Por mais que não consiga e sempre tente
Eu quero esta nudez de sobremesa.

Carcaças que me invadem, corpo e mente,
Contrastam plenamente com pureza,
O parto em que se fez farta torpeza
Merece um novo rumo, mais contente.

Dementes caminheiros, noite afora,
Sem hora de saber ou ir embora,
Não ouvem mais delitos nem tais queixas

Preâmbulo da festa continua,
Enquanto aguardo a pele inteira e nua,
Afago com carinho estas madeixas.


72




Ao ver antigas marcas, cicatrizes,
Deixadas pelos velhos sentimentos
Percebo salutares nossas crises,
Vagando sem destino por momentos.

Ouvir cada palavra que me dizes
Entregue às variantes destes ventos
Talvez possamos ser bem mais felizes,
Mantendo estes olhares mais atentos.

Ao abraçar os mundos que roçamos,
Usando como arado estas palavras,
Garantiremos sempre belas lavras

Podando da tristeza, fartos ramos.
Livrai-nos do vazio, Ó Pai eterno,
Mesmo que amor traduza dor e inferno!


73

Ao ver em sol nascente se mostrando
Um brilho em rara luz mais dadivosa,
Percebo em tal beleza deleitosa
A sombra de uma dama se formando.

E todo este caminho iluminando
Mulher que em mocidade, tão fogosa,
Deitando num dossel, decerto goza
Em mágica e malícia se entregando.

Porém ao perceber minha chegada,
Janela escancarada já se fecha.
E a noite transcorrendo em pensamentos

Recebe da ilusão, doce lufada
Sentindo o seu cabelo em cada mecha,
Meus sonhos mais felizes, em tormentos...


74


Ao ver em transparências divinais
Os seios e mamilos da morena.
Desejo de saber e ver bem mais
Até chegar nudez, completa e plena.

Distâncias de centímetros parecem
Quilômetros da mão que te procura.
Tais formas delicadas não se esquecem,
Porém esta visão já me tortura.

Das coxas uma imagem me alucina,
E rendada, salmon, a salvaguarda
Não deixa que eu perceba a concha, a mina,
Que um dia em fantasia, enfim me aguarda.

A moça distraída, num sorriso,
Esconde e quase mostra o paraíso...


75


Ao ver essa pobre alma desnudada
Tão desmedida em forma e conteúdo
Percebo quem na vida não foi nada,
Um resto de promessa. Não me iludo

Quem sempre se sonhou forma abortada
Nos versos que pensava, tão miúdo.
Não passa na primeira peneirada
Não falta-lhe porém nenhum estudo.

Zangão que nunca teve uma colméia
Incoerente pensa ser um rei.
Palhaço necessita de platéia

Não sabe discernir pois arrogante,
Na vida desconhece simples lei.
Formiga derrubando um elefante...


76



Ao ver este leitão que está gordinho
Eu penso já no lucro que vai dar,
Criado com amor e com carinho,
Não pára todo dia de engordar.

Depois que o bicho está assim fofinho,
Cascalho no meu bolso vai entrar.
Fazer duzentos quilos de toucinho,
Lingüiça pra mandar já defumar.

Porém o porco grande com malogro,
Custando pra morrer dá prejuízo.
Investimento duro de fazer.

Agüentar a mulher e ter juízo,
É duro e vem trazendo desprazer.
Não morre o porco gordo do meu sogro!


77


Ao ver estéril Sara, quis Abrão
Deitar-se com Agar, deles escrava,
Que momentos após perde a noção,
E a Sara, depois disso maltratava.

A resposta não tarda mais chegar,
Um anjo traz à tona a lucidez
Pedindo que retorne então Agar,
Comunicando assim a gravidez

Javé ouvira as preces e os lamentos
Daquela fugitiva arrependida,
Cumprindo os mais divinos sacramentos
Da serva ressurgindo a santa vida

Chamando de Ismael o filho amado,
Do Pai escuta Agar, o Seu recado...


78

Ao ver minha pobre alma desnudada
Tão desmedida em forma e conteúdo
Percebo que na vida não fui nada,
Um resto de promessa. Não me iludo

A voz de quem cantara anda cansada;
perdendo no caminho quase tudo
Não passo na primeira peneirada
O canto que sonhei prossegue mudo.

Zangão que nunca teve uma colméia
Palhaço necessita de platéia
Não sabe discernir a cada instante

A dura realidade, amarga e triste,
Porém este imbecil feito farsante
Na busca pelo amor inda persiste...


79


Ao ver nascer assim, em minhas mãos,
Uma mulher fantástica, brilhante.
Dos dias de que vim, por certo vãos,
Teu nascimento em mim foi deslumbrante.

Sentindo-te crisálida tão rara
Numa metamorfose divinal,
A força deste amor que se buscara
De um jeito inexplicável, sensual.

Crescendo como a lua dentro em nós,
Fazendo do sorriso todo o lume,
Amor que veio tímido e veloz
Deitando sobre a terra tal perfume

Que fez deste jardim a primavera,
Com flores multicores em si, gera...


80


Ao ver nesta mulher a rosa plena
Que emana imensidão em cada passo,
Compassos esquecidos lua acena
E sinto-me no poço de seu braço.

Aberta a rosa inteira feminina,
Me nina em cada mina meu tesouro.
No gosto desta boca, me alucina
Menina minha sina é ter teu ouro

Marrom em tanto tom, novo matiz,
Os olhos são marrons, teus dons e brilhos,
Marrom o meu desejo e cicatriz,
Ronrona enlanguescente nos meus trilhos,

A rosa se acastanha e se bronzeia,
Na brônzea emoção de lua cheia...


81



Ao ver o desembarque da esperança
Nesta rodoviária-coração,
Recordo velhos tempos de criança
Brincando bem em frente ao meu portão.

Vencendo esses temores, percebia,
Que o tempo nunca pára ou retroage
A vida vai passando dia a dia...
E tudo vai mudando, amor e traje.

Agora que te encontro, não mais penso,
Parece que este tempo já passou.
De tudo que mais quero, mais intenso,
Amor que tão divino, dominou...

Não mais quero a tristeza que devora
Nem solidão pantera me apavora...


82

Ao ver o mar quebrando em alva areia,
As ondas vão lambendo as tuas pernas...
Morena com perfume de sereia,
As mãos tão delicadas, sempre ternas...

Calor do sol queimando me incendeia,
Não deixa que jamais; no amor invernas.
Teus seios, tuas coxas...Quanto anseia
Minha alma em sensações demais eternas...

Amar é descobrir que uma alegria
Nos eterniza em cantos e vontades.
Poder te namorar a cada dia,

Roçando teus cabelos, manso vento,
Não deixa de saber felicidades
Guardando nosso amor no pensamento


83


Ao ver o paraíso
No amor de quem se dera
Vestindo a primavera
No tom claro e preciso
O todo onde matizo
A vida e nela a esfera
Pousando noutra esfera
O sonho então eu biso.
E vago sem sentido
E quando eu me lapido
Nos ermos da esperança
O passo sem porvir
O amor a se eximir
Do corte que se avança.


84


Ao ver o paraíso numa flor

Nascida em verdes campos, primavera,

Percebo quanto Deus fez com amor,

A vida que se vai e regenera.



O mundo no infinito deste grão

Da areia; uma estrela tão gigante,

Pequena frente ao mar, sua amplidão

Percebo eternidade de um momento



Num tempo que transcorre sem parar.

Cabendo em minha mão, aberta em palma

Todo um infinito a se encontrar

Na eterna sensação de paz e calma...



Além desta ternura, grão e flor,

Carrego em minha mão, o Deus AMOR...


85


Ao ver o seu caminho contrafeito,
A dor em solidão nos abandona,
De todos os desejos és a dona,
Domando a rebeldia que em meu peito

Tornara em rumo incerto e insatisfeito
O vago que voltando sempre à tona
Enquanto a fantasia inda ressona
Incorpora a tristeza enquanto deito.

As farpas que trocamos vez em quando
Deixaram cicatrizes. Mas voltando
Os olhos para estrelas bem mais puras

Pudemos vislumbrar, com alegria
Um novo amanhecer que enfim seria
Repleto de prazeres e ternuras.


86


Ao ver o teu olhar eu percebi
O quão foi tão daninho tais abrolhos
Lavrados com descuido dentro em ti
E as névoas que recobrem os teus olhos.

Fazer da fantasia um adereço
Apenas nada mais que uma ilusão.
Virando o coração assim do avesso
Perdendo o rumo em tosca direção.

Jogar o que vivemos num esgoto,
Lixeiras espalhadas pela vida.
A dor vai latejando em cada coto
Revendo esta esperança já perdida.

São frágeis os caminhos de quem ama,
Num paradoxo feito em fogo e chama...


87

Ao ver o teu olhar
Estrela matutina
A vida devagar
Aos poucos me alucina;

Na luz que me fascina
O brilho a me tomar,
Depressa descortina
A força de um luar

Que entorna no meu peito
Vontade de seguir
O rumo mais perfeito

Que pude descobrir,
Do quanto amor é feito,
Estrela a reluzir


88

Ao ver o teu olhar, eu percebi
Que nada adiantou tantas defesas,
A vida preparando estas surpresas,
No mesmo instante estava preso a ti.

Retrato nestes versos o que sinto,
Amor tomando conta do pedaço,
Destino, agora eu sei, jamais eu traço
O amor sempre nos mostra um labirinto

Aonde uma saída não se vê,
Não tendo quem a ele já resista,
Minha alma, neste encanto sabe e crê
Força do amor mesmo à primeira vista

Mudando o meu destino totalmente,
Nesta intensa emoção que a gente sente....


89

Ao ver cada momento mais feliz
E crer ser tão possivel novo sonho
Aonde um verso em paz tento e componho
Vivendo o quanto mais sonhei e quis,
Presumo o meu caminho em raro bis
E vejo este cenário enquanto enfronho
Meu tempo mais audaz, mesmo risonho
Deixando para trás a cicatriz,
E espero finalmente ver em ti
O quanto desejara e percebi
Possível e plausível, pelo menos,
Dos dias doloridos do passado
Agora percendo do teu lado
Anseios mais sutis, claros e amenos.


90


Ao ver o teu sorrir, tão enigmático,
Com jeito de malícia em face ingênua,
Virando pra te ver, quase automático,
Percebo uma vontade, forte e tênua

De gosto e de carinho, sem limites...
Num brilho sedutor, os olhos pedem,
Não querem nem procuram mais palpites.
Os meus, ao teu sorriso sempre cedem

E assim já se concedem mil desejos.
Da santa insensatez que dá prazer,
Sorrisos que parecem mais com beijos,
Pois nos adivinhamos, sem querer...

Eu sei que os outros olham, desconfiam...
Loucuras que os sorrisos já desfiam...


91



Ao ver os olhos claros da inocência,
Feridos pela imensa covardia.
Daqueles que esmagando um novo dia,
Demonstram a terrível inclemência,

Em frágeis mãos a dor da penitência
Clamando por alguma fantasia,
Enquanto a corja imunda se associa
Levando aos inocentes a demência.

Abutre que devora um embrião,
Vendendo pouco a pouco esta nação,
Roubando do infeliz quase faminto.

Quem dera se um Bom Deus em amizade
Salvasse da fatal iniqüidade,
Tornando este animal/ladrão extinto.


92


Ao ver os teus cabelos soltos, leves...
Percebo quanto é belo ter amor.
Momentos tão suaves, mansos, breves;
Deitados no teu colo, acolhedor.

Traçados dos meus passos nesta areia,
Caminhos de desejos e ternuras,
Como um anjo, percebo em ti, sereia,
Dádiva divinal, doces venturas...

Não contente; procuro-te nos sonhos...
A noite solitária não termina...
Cabelos tão macios; meus risonhos
Desejos... Minha sorte, minha sina...

De tudo que passei; nossa verdade,
Mostrando nosso amor: felicidade...


93


Ao ver os teus decotes generosos
Percebo a maciez destas romãs
Divinas. Meus olhares mais gulosos
Recebem tantos raios das manhãs

Em sol e fantasia belas rosas,
Desabrochando em brilho divinal.
Maçãs tão delicadas, perfumosas
Qual sonho que se fez tão magistral...

Ao ver teus seios belos de soslaio
Por sob a blusa aberta, estou feliz...
Na luz maravilhosa deste maio
Quem dera a vida inteira... flor de lis...

E tu ris um sorriso mais maroto,
Olhando para os olhos de um garoto...


94


Ao ver que tu seguiste
Um tempo audacioso
Aonde em dor e gozo
O sonho em vão consiste
Ainda quando é triste
Cenário pedregoso
Enquanto auspicioso
Caminho não persiste,
Vagando sem cansaço
O quanto ainda traço
Permite que se creia
Na sorte mais feliz
Dizendo o quanto eu quis
Em voz suave e alheia.


95


Ao ver que tu seguiste outro caminho
Distante do que tanto desejei,
Prefiro prosseguir assim sozinho,
Mas saiba que em verdade eu tanto amei

Alguém que me marcando com carinho
Fazendo-me sentir tal qual um rei,
Depressa abandonou o nosso ninho,
E nessa solidão eu mergulhei.

Espero que tu sejas mais feliz
Ao lado de quem vives; minha amada,
Seguindo novo rumo, nova estrada,

Carrego inda comigo a cicatriz
De um tempo em que contente imaginara
Que um grande amor, enfim, eu encontrara!



96


Ao ver que tu vieste,
Depois dos temporais
Razão de ser celeste
Em dias tão iguais
O solo mais agreste
Ainda quando esvais
Mergulha no que empreste
Apenas vendavais
Ausento da esperança
E sei quanto se cansa
Pousar em céu liberto,
E sinto no final
A vida em ritual
Aonde a luz desperto.


97

Ao ver que tu vieste, o duro frio
Transforma-se em calor, minha querida.
Inundas com amor este vazio
Deixado quando foste em despedida...

Uma alegria imensa assim recrio
Das dores que invadiram minha vida.
Do triste inverno surge um novo estio
E encontro plenamente, uma saída.

Pois saibas que te quero tanto bem,
Além do que pensavas, muito mais...
Espero que não vás, amor, jamais.

Cansei de nesta vida ser ninguém,
Comigo neste instante, amada, vem
Matar a solidão. Te amo demais!


98


Ao ver se despedindo, o nosso amor,
Rasgando feito espinho, o velho peito,
Deitando suas mágoas sobre o leito,
Meu barco segue sem navegador.

Queria tão somente te propor,
O verso que pudesse ser perfeito,
Porém, se solitário, eu já me deito,
Esqueço o meu jardim, matando a flor...

Um dia, quem me dera, fosse meu
O encanto que desfilas pelas ruas,
E quando mais distante tu flutuas

Percebo que meu mundo esmoreceu,
E salto no vazio que criaste.
Herança que aos meus sonhos, tu legaste...


99

Ao ver sobre esta mesa o corpo inerme
Daquela que se fez a predileta,
O ciclo inevitável se completa
Na fúria desdentada deste verme

Que aos poucos começando na epiderme
Devora desta forma, vil e abjeta
Até que a vã carcaça cumpra a meta
Fazendo com que uma alma já se enferme.

E trague a podridão como um troféu,
Amortalhando em trevas todo o céu,
Na súbita traição inevitável.

A boca que eu beijara em tom solene,
Sorvendo o gozo amargo que envenene
Atômico compósito mutável...


3000


Ao ver tanta beleza me empolguei,
Teu rosto irradiando, enfeitiçava,
Mal pude perceber e me entreguei
Sem nem saber que ali eu encontrava

A porta entreaberta da loucura.
Tu és assim divina e diabólica
O teu amor me fere e traz a cura
Na tua incoerência, fé católica

Que dissemina a morte via sexo,
E pensa que defende assim a vida.
Amar será um ato tão complexo?
Na mão que acaricia, a despedida...

Embora te deseje tanto, tanto...
Teu beijo tem sabor de sangue e espanto!
 
Autor
MARCOSLOURES
 
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