Poemas : 

Muda de ano outra vez

 
Há um ano que adormece
Na margem onde outro acorda

São os sabores duma época
Orientados na demorada esperança

Vêm as passas do contentamento
De um desejo pedido no íntimo

Há uma noite que enlouquece
Quando ao relógio se dá corda

Batem-se tachos e panelas com a moca
Excitando sobremaneira a vizinhança

Um ruído carismático em divertimento
Causa um rubor global óptimo

Naqueles minutos tudo acontece
Numa alegria que num repente transborda

Muitos saem à janela da sua toca
Numa atitude sem ter semelhança

Fica para o novo ano o lamento
Daquilo que o velho deixou para o próximo

Alegrem-se todos… gente nossa
Numa festa de grande empatia
Que caia chuva da bem grossa
Desde a noite até ao raiar do dia

Saltem foguetes de esperança
Em apoteose bem ensaiada
Preparem o ritual da festança
Façam a festa grande e vibrada

2010 está morrendo
Mas ainda não pereceu
2011 já vai nascendo
Onde o outro cá viveu

António MR Martins

2010.12.31


António MR Martins
Tem 12 livros editados. O último título "Juízos na noite", colecção Entre Versos, coordenada por Maria Antonieta Oliveira, In-Finita, 2019.
Membro do GPA-Grupo Poético de Aveiro
Sócio n.º 1227 da APE - Associação Portugues...

 
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António MR Martins
 
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Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 02/01/2011 18:51  Atualizado: 03/01/2011 17:48
 Re: Muda de ano outra vez
Poema a propósito da passagem de ano, do velho para o novo.
Há, e li-o em vários sítios, nesta quadra, um belo poema de Carlos Drummond de Andrade, com o título "Cortar o tempo":

"Quem teve a idéia de cortar o tempo em fatias,
a que se deu o nome de ano novo
foi um indivíduo genial.
Industrializou a esperança
fazendo-a funcionar nos limites da exaustão."

(...)

Que o Novo Ano para si e para os que gostam da poesia, não seja industrial, mas artesanal, com as respectivas oficinas poéticas num labor original.

DM

P.S.: Acabei de ler alguns poemas sobre o Ano Novo no blogue De Rerum Natura, que recomendo.