Poemas -> Desilusão : 

CARTA À DESILUSÃO

 
Não te temo!
Faz tempo que deixei de te temer!
Mesmo quando me entras pela porta dentro
Como um espinho
Como uma cuspideira
E me encontras sentado à lareira do desassossego
Sem lágrimas para chorar o desatino
De uma desilusão maior que eu!

Se abri as portas ao vento… Ele fustigou-me o rosto
Com a violência de um ciclone de sofrimento feito…
Se abri as janelas ao sol… Ele queimou-me a pele
Com o ardor de um vulcão em erupção…
Sim, estou aqui, mais uma vez só, como sempre o fui
Navegando nas águas agitadas de um desespero
Que a nenhum porto me conduz…
Levanto a cabeça e não tenho mar…!?
Houvesse alguém que entendesse a minha alma?

Se quero atravessar uma ponte, partem-se as tábuas…
Se quero aninhar-me num galho de árvore, quebra-se a pernada…
Neste descaminho que tem sido o meu destino
Contento-me com a sorte de já não querer mais nada!

Às vezes, entre uma esperança e outra, encontro fôlego
Para dar mais um passo na distância e no tempo,
Então acredito que a felicidade me aguarda num jardim
Sentada num banco de orvalhos e relento…

Engano-me! Simplesmente me engano! Não há fôlego!
O que há são martírios e ilusões cansadas de o serem
Promessas de alguma coisa que jamais se concretizará…
Já lá vai o tempo em que acreditava no amor…

Faço um pacto com a solidão:
Em troca de apenas uma lágrima
Ela não me fere mais o coração!

antónio casado

 
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antóniocasado
 
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Enviado por Tópico
Gyl
Publicado: 08/01/2011 00:31  Atualizado: 08/01/2011 00:31
Usuário desde: 07/08/2009
Localidade: Brasil
Mensagens: 16075
 Re: CARTA À DESILUSÃO
Já estava saudoso dessas linhas fortes e belas que gosto tanto. Destaco essa estrofe que achei espetacular: "Se quero atravessar uma ponte, partem-se as tábuas…
Se quero aninhar-me num galho de árvore, quebra-se a pernada…
Neste descaminho que tem sido o meu destino
Contento-me com a sorte de já não querer mais nada!"

Genial, meu poeta! Parabéns e um forte abraço!


Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 08/01/2011 02:58  Atualizado: 08/01/2011 02:58
 Re: CARTA À DESILUSÃO
"Já lá vai o tempo em que acreditava no amor…"

António, querido poeta... há que acreditar no amor!

Tão belo este poetisar´que releio n vezes.

Saudades de te ler, António.

Beijos.

Maria


Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 08/01/2011 12:00  Atualizado: 08/01/2011 12:00
 Re: CARTA À DESILUSÃO
sempre escrevemos longas cartas de desilusão, já que a felicidade nos chega apenas em lapsos. belo escrever, frontal a estrofe citada pelo poeta Gyl. parabéns, poeta.

pra ti um grande 2011, e aquele abração bem Carioca, António.

zésilveira