Cresci na Cidade de Luz,
Num cantinho bem escuro.
Minha cabeça , como uma avestruz,
Enterro no alcatrão; o calmo procuro.
Cresci longe da cidade turística.
Cresci do outro lado do postal.
De romântica só mesmo a mística
Porque de verdade a capital é brutal.
Cresci num bairro de má fama
Com charros e carros a arder.
O jornalista nos difama.
Lugar nenhum na sociedade nos querem ceder.
Crescer entre drogas e prostitutas
Leva-nos a crescer mais depressa.
Mães não têm substitutas
Mas a rua ensina-nos a viver a pressa.
Ontem, os nossos pais construíram prédio
Atrás de prédio por salários de miséria.
Hoje os filhos soltam o ódio e o tédio
E o governo concluiu que a ameaça era séria
Mas talvez seja demasiado tarde.
Prenderam as pessoas por parvas
E hoje, se tudo a minha volta arde
É porque recusamos rastejar como larvas.
Não nos querem deixar subir na vida
E nós não queremos ficar pregados ao chão.
A doença cresce e a revolta é ferida
Mas o que viram é apenas comichão.
Quem não é de cá, a nada tem direito
Seja permanente, seja passageiro.
Pregam os Direitos do Homem a torto e a direito
Mas de um lado há o cidadão, do outro o estrangeiro.
Não sou muçulmano, sou cristão
Mas respeito a sua crença e suas ciências.
O meu vizinho não era um terrorista, era um irmão.
Custa ouvir que o Islão é a sida das consciências.
Dizem que somos criminosos por natureza
Mas não podem acusar quem nada tem
De querer mais e melhor sem ser por avareza
E sem ter inveja daqueles que tudo têm.
Da polícia não espero protecção.
Chegam a bater e a abater miúdos e graúdos.
Só sabem fazer repressão.
Sarkozi, neste verso, eu te saúdo.