Contos : 

Os Ratos

 
Na noite daquela quinta feira, os ratos reuniram-se novamente para um banquete, aquele fora o mais especial de todos, desde que descobriram os manjares daquela residência simples, porém aconchegante, afinal o patriarca estava de fastio e abandonou grande parte do alimento colocado no prato. Reuniram-se os camundongos para degustar os restos. Eram três e encontravam-se dentro do prato abandonado pelo patriarca.
O Heitor, o Raul e o Frederico eram três ratinhos muito simpáticos e espertos. O Raul era o enfermeiro da ninhada, o Frederico o agente de tributos e o Heitor o professor.
Por muitas vezes saíam os três a vagabundearem pelos lares alheios, bagunçavam cozinhas inteiras e deixavam os lixos mais lixos, se divertiam de maneira extremada nessas constantes aventuras, além do mais aproveitavam estes momentos para colocarem em dias as conversas sobre suas peripécias do amor. Nos últimos dias, após fartarem-se abundantemente dos restos que displicentemente são largados nos pratos e inconsequentemente não são destinados ao local correto pelos humanos insensatos, o Raul e o Frederico observavam a ação cautelosa do Heitor em encher uma bolsa, feita da carapaça de uma barata, com bastante alimento e carregá-la com empenho assombroso pelas vielas negras das madrugadas, todos os dias nos últimos dez dias vêm sendo assim.
Hoje, nesse banquete dos deuses, os amigos Raul e Frederico enchem suas panças enquanto observam o Heitor cabisbaixo e tristonho. Demoraram cinquenta e seis minutos degustando do mais luxuoso lixo alimentar, enquanto o reles professor da ratada permaneceu calado e sem alimentar-se. Logo começaram as indagações "o que houve com ele"? Resmungava um. "Cadê a bolsa de carapaça de barata"? Perguntava outro, enquanto o Heitor continuava lá, inerte. De repente:
- BUAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA! - Escuta-se um grito enorme, finalmente manifesta-se o ratinho professor, caiu em prantos, chorava copiosamente, enquanto seus amigos questionavam:
- Nossa Senhora das ratinhas branquelas! O que deu nele? - indagou o enfermeiro.
- Será que a mãe morreu? - Perguntou o agente de tributos.
Enquanto isso o Heitor soluçava em prantos, finalmente ele começa a falar, bem, na verdade deixava sair algumas palavras em meio àquela gagueira que o choro impusera:
- ããããããã ela, ãããããã, me, me, me deixou, buaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa.
- Ela quem? - Perguntou o agente.
- A Shophie. - respondeu aos prantos o pobre professor.
- A Shophie! Aquela ratinha branca da casa rosa, você estava com a Shophie? - Espantou-se e indagou o enfermeiro.
Agora com o choro amenizado, o nobre ratinho professor, explicava de maneira mais compreensiva.
- Sim, estava, mas ela me deixou.
- Nossa! A Shophie é tudo de bom. - Afirmou o agente.
Ai pronto, já viu, o choro volta em longos oceanos chorados por olhos pequenos.
- Desculpas, não falei por mal. - Retratou-se o ratinho assanhado.
O choro ameniza-se mais uma vez.
- O nosso amor era tão bonito, faziam dez dias que estávamos juntos em constante lua de mel, ela me abandonou. Só queria curti com meu corpinho sarado, agora que estou gordinho, pelo fato de jantar duas vezes, pois sempre ajudava-a a degustar o que carregava na bolsa; agora ela não me quer mais, aquela ingrata. - Expressou o indignado.
Enquanto ele falava, os amigos sussurravam em espanto, não compreendiam como alguém poderia sofrer tanto pelo fim de um relacionamento de apenas dez dias.
O ratinho professor continua a soluçar em prantos e deixando suas pérolas oriundas da dor de cotovelo:
- Eu não vou aguentar, não aguentarei a falta daquela ratinha, estou desorientado. Vou fugir, vou me jogar dessa pia, quero morrer! - Expressava o exagerado.
- Calma! Calma! Olha a sua pressão, agora você está gordinho e isso é fator de risco - lembrava o enfermeiro.
E nesse lengalenga permaneceram durante muito tempo.
- A lua!
- O que tem a lua Heitor?
- Ficávamos admirando a lua, pedindo a ela que sempre iluminasse o nosso amor, ai que saudade!
- Pronto! - Expressa em profundo espanto o agente de tributos.
- Pronto o que? O Heitor ta para morrer de dor no cotovelo e você ai falando pronto. - reclama o enfermeiro.
- Descobrir a razão do fim desse romance de dez dias.
- Qual a razão Fredy? - Pergunta ansioso o ratinho apaixonado.
- Foi o teu pedido.
- Que pedido?
- Teu pedido a lua.
- O que tem ele?
- Você pediu a lua, um ser sem luz própria, para iluminar seu amor, deu nisso, deveria ter pedido ao sol, esse sim iluminaria eternamente a tua paixão, a lua deve está economizando, não gastará sua luminosidade contigo.
- Nossa! ÉÉÉ...
Escuta-se passos no corredor, os ratinhos saem loucamente derrubando sobre as panelas e, quando o barrigudo do patriarca chega à cozinha observa o pandemônio predominante nas últimas noites.
- Ainda pego esses ratos!

 
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Sóstenes10
 
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