Poemas : 

Transubstanciação

 
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Nada de novo
no ovo do meu neo-nascimento.
Já fui tantos,
eu, dez, dez milhões,
nenhum igual.
Eu pego a lotação na avenida
e finjo que sou chileno,
peço informações numa língua inventada.
Eu vou viajar.
Naquela festa eu fui um biólogo,
apaixonado por pinguins.
Outro dia, Rafael,
um asperger, ou amante de aspargos.
Eu comi gariroba
sonhando com palmitos gigantes.
Eu roubei meu pai.
Eu acordei de súbito
e acordei a prima,
porque eu sabia que Deus inexistira.
O homem das cavernas
e o fogo
ensinaram-me o atestado ateísta.
Eu enrolei a língua
com labaredas
para falar com anjos.
Eu fui atingido
por um pau de macarrão.
Eu fui atropelado por uma bicicleta
e depois uma charrete.
Eu apanhei de um anônimo
numa multidão.
Eu gerei amor.
Eu gerei ódio.
Eu degenerei o puro
e lavei o ímpio.
Eu batizei várias pombas
na água do rio Jordão.
Ninguém sabe de onde eu venho.
Ninguém sabe de onde eu sou.
Eu morei num puteiro.
Eu conversei com pássaros
e árvores.
Eu pensei em fazer a diferença
e somei.
Também subtraí.
Amor.
Eu custei dinheiro a vários,
fiquei devendo afeto.
Lágrimas e suores.
Líquidos.
Eu dissolvo-me nessas letras
para condensar-me em ti,
leitor,
um de mins.
Invado seu corpo todo,
pela letra
e as relações das letras.
Agora estou em ti.
Não definitivo.

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Autor
thiagodebarros
 
Texto
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