Poemas : 

Caim e Abel (republicado)

 
Me espere um pouco
Que chego já.
Do que eu mais célere
Quem é no passo?

Somos todos irmãos!

Me espere um pouco;
Só eu que falto
Chegar no ponto,
Irmão do asfalto.

Somos todos irmãos!

Me espere um pouco
Que chego em riste.
Será que existe
Quem tem mais passo?

Somos todos irmãos!

Me espere um pouco,
Só eu que falto.
Será que existe
Alguém mais rápido,

(Somos todos irmãos!)

Menos incauto,
Singrando os autos,
Irmão do passo
Com mais compasso?

Somos todos irmãos!

Me espere mais;
Passante sou
Também da pressa,
Quem vai depressa

(Somos todos irmãos!)

De lanche e pasta
Sem fé, desejo,
Minguado tejo
Correndo só

(Somos todos irmãos!)

Por nós, cabrestos
No passo lesto,
Pela cidade:
Palimpsesto.

Somos todos irmãos!

Me espere um pouco;
Passante sou
Também do medo
Do denso breu.

Somos todos irmãos!

Um pouco mais
Me espere, amigo.
Deveras corro
Tão só contigo,

(Somos todos irmãos!)

Nós dois, contíguos,
Passo após passo,
Irmão sem paço,
Sem mãe, regaço.

Somos todos irmãos!

Me esperem todos:
Moídos rostos,
Puídos, rotos,
De si cansados.

Somos todos irmãos!

Me esperem mais,
Vou já chegando,
Entanto vem,
Passo ante passo

(Somos todos irmãos?)

(Me esperam todos?)
Quiçá correndo,
Quiçá sem fôlego,
Mais um de pasta.

(Somos todos irmãos?)

(Me esperam todos?)
Tomar-me vai
Lugar – nem meu,
Nem teu: de breu!

Somos mesmo irmãos?

Assim que somos
Irmãos do acaso,
Do meu atraso,
Do lesto passo.

Somos todos irmãos!

Assim que somos
Caim e Abel,
Perdidos passos,
Irmãos sem pai.

Somos todos irmãos!

Espero todos
No breu do mundo,
Mas quem me chega?
Só vejo a sombra

(Somos todos irmãos?)

De um outro irmão,
Que só vagueia,
Expropriado,
Enigmático,

(Somos todos irmãos?)

Sem passo ou rumo,
Irmão do breu,
Sem um lugar
No nosso mundo.

Somos irmãos.

 
Autor
Felipe Mendonça
 
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Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 16/04/2013 01:22  Atualizado: 16/04/2013 01:26
 Re: Caim e Abel (republicado)
Salve, amigo. Tenho sentido sua falta. Poema enigmático, rápido, correndo ao encontro de alguém que, percebe-se no final, indiferente a buscar ou ser buscado. O ritmo do texto sugere rápidas passadas, respiração arfante, questionamentos, desejo de chegar a tempo, angústia por estar sempre atrasado, e a frustração de, mesmo correndo, não alcançar, não entrar em sintonia com alguém que não está em nenhum lugar (comum) pois vagueia no seu mundo particular. Fora de sintonia. Ha pessoas (irmãos, ou qualquer outro vínculo de parentesco ou amizade) que estão fora de sintonia por estarem fisicamente distantes. Mas é, também, extremamente dolorido, estar fora de sintonia com alguém que está próximo mas seu coração, mente, alma (se houver alma) vagueiam distante, bem mais que possamos alcançá-los... senti a frustração no final do texto, onde o narrador em primeira pessoa (você?) sussurra para si, para o vazio, para a ausência: "somos irmãos."... Grande abraço, Poeta.


Enviado por Tópico
Tosco_Bardo
Publicado: 16/04/2013 13:52  Atualizado: 16/04/2013 13:52
Da casa!
Usuário desde: 16/02/2013
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Mensagens: 230
 Re: Caim e Abel (republicado)
bom dia Felipe,
li seu poema e gostei. só reparo que, no meu ponto de vista ( é claro) a relação a caim e abel do título não está bem definida. caim é a personificação da inveja fraterna e o primeiro assassino de que se tem notícia. não vejo no seu poema a inveja relacionada. também não entendo que caim e abel não tinha pai uma vez que foram gerados ( diz a Bíblia) por eva mulher de adão, o primeiro homem.
um abraço tosco do bardo