Poemas : 

Tempestade

 
Tromba de um deus
Paquidérmico e cinzento
A fustigar-me
Com chuvas e ventos;

Língua plúmbea e marrom
A torcer-se em espiral
De fúria e som;

Precipício gutural
A vomitar-me
Pó, fogo e detritos;

Céu de granizo
Apedrejado –
A primavera
Traz as piores feras
De maio:

Grenha turbulenta
A assolar a terra
Com tormentas
E raios.

Oh, que anjo assoma
No céu de Oklahoma
E sopra deveras
Apocalíptica trombeta
Repleta de ira e bestas?

Nada mais resta
Do gado, do pasto
E da safra de milho.

Nada mais resta
Senão o desespero
Do clamor e do grito
Das mães à procura
De seus filhos,
O choro de medo
Dos órfãos
Sob os escombros
E a chuva.

Nada mais resta
Senão o terror
De mim mesmo,
Paisagem do avesso
Da qual tudo parece fugir...

Minha nudez e desterro
Onde antes só havia
O ouro a fulgir
À luz plena do dia,
A placidez dos alísios
A soprar nos campos de trigo.

 
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Felipe Mendonça
 
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Enviado por Tópico
Gyl
Publicado: 23/05/2013 23:01  Atualizado: 23/05/2013 23:01
Usuário desde: 07/08/2009
Localidade: Brasil
Mensagens: 16075
 Re: Tempestade
Uma tempestade de vocábulos negros, retilíneos movidos pelos ventos Alísios nos campos de trigos, enquanto o ouro fulge à plena luz do dia! Pura poesia, Brother! Um forte abraço e parabéns pela arte gratuita. VAleuuu, Felipe!