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Rufar dos tambores

 

De onde o sol se esconde, lá longe,
Chega o som do rufar dos tambores
Em chamamento das ilusões entorpecidas,
É um som de lamento lânguido e de dor,
Talvez chorem, pela mulher de pele negra,
Que partiu um dia, perdida na negra noite,
Caminhando descalça pelo árido chão vermelho
Gretado, pela dureza da seca vida,
Carregando, colado nas costas, o seu menino,
Sequioso do leite que se ausentara
Do peito ressequido de sua mãe!
Cambaleante ia em busca do oásis
Onde encontrasse as migalhas
Para mitigarem a fome
Que lhes comprimia os estômagos,
Dilatados, pela carência de alimento!

Chorava, sem forças aquela criança,
Empoleirada e espremida nas costas da mãe,
Cujo rosto era sulcado pela punição imerecida
Que a vida lhe concedia!
Apesar da sua ainda curta idade,
Dos olhos daquela pobre mulher
Caiam em cascatas
Grossas e afiadas lágrimas de desespero!

E o som dos tambores ia-se abafando
Imbuídos de tristeza,
Porque aquela bela mulher
De tês curtida e negra, não voltava,
Perdera-se na estrada da infelicidade,
Tivera a desdita de nascer num país,
Onde os dias eram desiguais,
Para seres humanos iguais.

José Carlos Moutinho

 
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zemoutinho
 
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