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Moisés: do acampamento no deserto ao Cume do Sinai.

 
Na Linguagem Sagrada da Astrologia, existem, à semelhança de 12 Signos Zodiacais, 12 Casas Astrológicas. Os Planetas nos Signos identificam-se com a energia que nos habita. A nossa natureza interior.
As Casas Astrológicas identificam-se com o nosso mundo exterior, uma vez que, cada Casa se relaciona com uma diferente área de Vida na qual estamos imersos.
Quero, contudo, focar-me no eixo Casa III, Casa IX, que se identifica em Astrologia com os Signos Gémeos/Sagitário, com os Planetas Mercúrio/Júpiter, mente/valores Espirituais. É o eixo, tanto nas Casas como nos Signos, do Ensino Superior. Superior por ser um ensino de aprendizado Filosófico e Espiritual. É onde a mente (Mercúrio que rege Gémeos, Casa III) se converte, se entrega, ao Coração, valores mais altos que regem este imenso Universo por Deus criado (Júpiter que rege Sagitário, Casa IX). Signos opostos e complementares, Casas diferentes a integrar. É onde Mercúrio se converte a Júpiter e não Júpiter que baixa a Mercúrio. A mente deve entregar-se ao Coração e não o contrário. A história da Humanidade é feita de estruturas, seitas e Religiões onde o Coração dos Homens sempre subiu à mente, o resultado sempre foi fanatismo! Em nome do Amor e da verdade Espirituais fizeram-se e fazem-se ainda as piores atrocidades, porque no fundo, o processo interior foi invertido.
Nesta sequência, proponho que, meditemos no caminho de forma correcta, reflectindo Astrologicamente sobre uma passagem da Sagrada Escritura do Antigo Testamento. A passagem do Livro do Êxodo que relata a idolatração do Povo Hebreu ao bezerro d’ouro, quando recém liberto da escravatura no Egipto. Recordaremos as Tábuas da Lei, a Sarça-ardente e a ira de Moisés. Meditaremos na ascensão de Moisés do acampamento no deserto, onde deixará o Povo, Casa III, ao Cume do Sinai, onde Deus lhe falará, Casa IX, e vice-versa, na descida de Moisés do Monte Sinai, depois de falar com Deus, Casa IX, ao acampamento no deserto onde encontrará o povo e o bezerro, Casa III. Na trajectória desta imensa Figura Bíblica analisaremos, através do seu comportamento, a sua atitude, antes e depois da Sarça-ardente. Como se manifestou Moisés depois de falar com Deus e de possuir as Tábuas da Lei frente ao bezerro d’ouro idolatrado pelo Povo?
Recordo que uma dessas Leis ditadas e escritas pelo Punho-de-Deus era NÃO MATARÁS! Recordemos o que diz a Sagrada Escritura no Capitulo 32 do Livro do Êxodo.

“Quando o Povo viu que Moisés tardava em descer da montanha, congregou-se em torno de Arão e disse-lhe: “Faze-nos um Deus que vá à nossa frente, porque a Moisés, esse homem que nos fez subir da Terra do Egipto, não sabemos o que lhe aconteceu.” Arão respondeu: “Tirai os brincos de ouro das orelhas das vossas mulheres, de vossos filhos e filhas e trazei-mos.” Este recebeu o ouro das suas mãos, fê-lo fundir num molde e fabricou com ele uma estatua de bezerro. Então exclamaram:” Este é o teu Deus, ó Israel, o que te fez subir da terra do Egipto!” Quando Arão viu isto, edificou um altar diante da estátua e fez esta proclamação: “Amanhã será feita festa para Iahweh!” No dia seguinte, levantaram-se cedo, ofereceram holocaustos e trouxeram sacrifícios de comunhão. O Povo assentou-se para comer e para beber, depois levantou-se para se divertir.”



Esta passagem da Sagrada Escritura mostra-nos o conflito interior que habita os homens desde toda a eternidade. Por um lado os que acreditam porque precisam de um milagre, no caso, a fuga à escravidão no Egipto, e o acreditar vindo das vísceras, o caso de Moisés que se entregou em totalidade desde o primeiro momento em que concebeu o seu destino de Líder Espiritual. O confronto entre o quotidiano banal do acampamento e a virtude Espiritual do monte. O eixo Casa III/Casa IX de um Mapa Astrológico.
Em Astrologia a Casa III é a Casa do quotidiano, espaço onde Mercúrio reina por ser uma Casa ligada à Energia de Gémeos. Esta Casa é a área de todos os nós-psíquicos que Mercúrio “enreda”. Casa de Ar dual, sem unidade onde os encontros são ainda pura ilusão! É o património de Mercúrio especialista na divisão e na aridez de sentimentos. Espaço onde as mentes se estimulam impulsionadas por uma malha mental sombria, céptica, arrogante e negativa que rege a vida de cada um e leva a desencontros emocionais. O que torna a Casa III a torre de Babel de todas as conversas inúteis onde as pessoas falam, comentam, julgam, criticam. “Reduzem” os outros para melhor se afirmarem. No fundo, era este o acampamento às “portas-do-Sinai”, era assim o Povo de Israel quando tudo começou! A Casa III é uma Casa de Ar, de pura e simples comunicação, a Água, os sentimentos, começam na Casa IV com o Signo de Câncer. A sensibilidade, a receptividade à Vida e aos outros nasce com a Lua na Casa IV. O Povo de Israel vivia ainda na Casa III. Eles não eram uma família, eram um “ajuntamento” de pessoas que se comunicavam entre si em busca de uma dada liberdade! Daí a frieza, o cepticismo, a incredulidade, a impaciência … não quiseram esperar Moisés! Não acreditavam porque não viam fisicamente o Deus que os conduzia. O acampamento do Povo de Israel no Deserto identifica-se com a Casa III de todos os Temas Natais, espaço quotidiano onde paira a dificuldade em estabelecer ligações com Deus porque o não vemos. É lá onde ocorre o ver p’ra crer de São Tomé. Espaço onde erguemos altares a muitos Deuses que nada tem de divino, espaço onde habitam todos os ídolos.
A fama, o dinheiro e o poder sãos os “bezerros d’Ouro” do nosso tempo, ídolos que devemos fundir, destruir, exorcizar nas nossas vidas, a fim, de dar lugar ao verdadeiro Deus que nos habita, a consciência das nossas Almas. O quotidiano de cada um não passa d’um palco onde todas as conversas e todos os actos inúteis acontecem, velados por conflitos pessoais escondidos, conflitos subjacentes a essas mesmas conversas e a esses mesmos actos. Conflitos psíquicos e emocionais por resolver. Espaço onde reina a imaturidade amorosa refugiada por uma “armadura mental” dita sensível e disponível, no fundo, distorcida, esquizoide, poluída por críticas e julgamentos redutores que obscurecem a Essência da verdade velada na Alma de cada um. É assim a política que se faz nos nossos países, são assim os políticos imaturos que temos e que dão primazia ao “bezerro d’ouro” que possuem, o poder que tem, e esquecem-se que a Essência de estarem onde estão é a Alma dos Povos que deveriam governar com “Salomónica” justiça, verdade justa e integridade Espiritual. São assim os meios de comunicação social que temos, são assim as gestões das empresas que possuímos. Afinal, do acampamento no deserto aos tempos de hoje pouco ou nada mudou. A perversão é a mesma, no entanto, hoje, encapsulada numa forma dita mais sofisticada. É o pó do ouro do bezerro fundido que ainda hoje é respirado pela Humanidade e que faz da Humanidade um acampamento e não uma família. A Humanidade ainda distante do cume do Sinai! É este o comunicar velado na Casa III de qualquer Tema de Nascimento numa primeira fase de Vida, foi este o comunicar do Povo de Israel no acampamento do deserto. É este o comunicar de todas as sociedades dos nossos dias. Banalidades em cima de banalidades! É este o “ar” que por lá se respira! Ar onde os corações não vibram em sintonia porque não se reveem uns nos outros. Ar onde ninguém espelha o melhor de ninguém porque ninguém conhece o melhor de si. Por tudo isto e muito mais, o povo não podia ascender ao monte Sinai. Lá, era terreno Sagrado, espaço onde habitava, num fogo que ardia na Sarça sem a consumir a intima presença de Deus, o fogo Sagrado da Casa oposta à Casa III, do Signo oposto ao Signo de Gémeos, o fogo da Energia de Sagitário, o Fogo que Júpiter sempre expande e traz consigo! A verdade da Essência do Universo em si contida. Verdade a que Moisés foi chamado, por ser escolhido por Deus a ascender do vale do acampamento ao cume do Sinai. Lugar onde só descalço podia caminhar … lugar onde Deus lhe falou, onde Deus lhe passou a Lei, as tábuas com os Dez Mandamentos escritos pelo seu próprio punho. Leis que Moisés deveria levar ao povo quando descesse ao acampamento. Leis que fariam do povo acampado futuros peregrinos “descalços” do Sinai. As Leis como motor de ascenção da Casa III à Casa XI, o salto consciente de Gémeos para Sagitário. Da mente para o Coração! No fundo, a Casa IX é a Casa das grandes Religiões, das grandes Filosofias, das grandes Tradições. É a casa onde se encontra o Sentido da Vida, onde a verdade do Universo se nos revela.
É onde a Lei se encontra “resguardada” como se de uma arca-da-aliança se tratasse. Espaço que só é penetrável pela Energia de um coração descalço, um coração que já comanda a mente, que, dócil, já se entrega a uma verdade mais alta, oculta, transcendente. Só assim se pode entrar na Casa IX dos nossos Temas. Casa onde se vê a Deus, onde o fogo da sarça se nos surge revelador, intuitivo, profundo. A casa IX identifica-se com o topo do monte Sinai, o cume da montanha! Mas algo de profano acontece no acampamento enquanto Moisés recebe as tábuas da Lei. O povo faz um ídolo de ouro ao qual passa a atribuir a Divindade que o conduz.

E prossegue a Sagrada Escritura:

“Iahweh disse a Moisés: “Vai, desce, porque o teu povo, que fizeste subir da terra do Egipto, perverteu-se. Depressa se desviou do caminho que eu lhes havia ordenado. Fizeram para si um bezerro de metal fundido, adoram-no e oferecem-lhe sacrifícios dizendo: “Este é o teu Deus, ó Israel, que te fez subir do Pais do Egipto. (…) é um povo de dura cerviz. Agora, pois, deixa-me, para que se acenda contra eles a minha ira e eu os consuma (…) Moisés, porém, suplicou a Iahweh, seu Deus (…) Disse Moisés:” Abranda Senhor o furor da tua ira e renuncia ao castigo que pretendes impor ao teu povo (…) Iahweh, então, desistiu do castigo com o qual havia ameaçado o povo.”


Será difícil conceber o rosto de espanto de Moisés, quando ainda diante da Sarça, depois de ter recebido as tábuas da lei, ouviu este difícil anúncio de traição da própria boca de Deus. Ainda que sentindo-se traído pelo seu próprio povo, Moisés tentou a todo o custo demover Deus do seu projecto de os castigar, assumindo ali mesmo a responsabilidade, no regresso ao acampamento, de repor a ordem. E Deus aceita a proposta do seu servo. Moisés pega nas tábuas de pedra, calça as sandálias, retira-se da presença de Deus e desce da Casa IX (topo do monte) à Casa III (o acampamento no deserto). Vejamos o que diz a Sagrada Escritura na sequência dos acontecimentos:

“Moisés voltou-se e desceu da montanha com as duas tábuas do testamento nas mãos, tábuas escritas nos dois lados: estavam escritas numa e noutra superfície. As tábuas eram Obra de Deus, e a escrita era Obra de Deus, gravada nas tábuas. Josué ouviu o barulho do Povo que dava gritos e disse a Moisés: “Há um grito de guerra no acampamento!” Respondeu Ele: “Não são gritos de vitória, nem gritos de derrota: o que ouço são cantos alternados.” Quando se aproximou do acampamento e viu o bezerro de ouro e as danças, Moisés acendeu-se em ira, lançou das mãos as tábuas e quebrou-as no sopé da montanha. Pegou no bezerro que haviam feito, queimou-o e triturou-o até o reduzir a pó miúdo, que espalhou na água e fez os filhos de Israel beberem. Moisés disse a Arão: “Que fez este povo para atrair sobre si um pecado tão grave?!” Arão respondeu: ”Que não se acenda a cólera do meu senhor, tu sabes quanto este povo é inclinado para o mal.
Eles disseram-me: “Faze-nos um Deus que marche à nossa frente, porque a esse Moisés, o homem que nos fez subir da terra do Egipto, não sabemos o que lhe aconteceu!” Eu disse: Quem tiver ouro tire-o. Eles deram-mo lancei-o ao fogo e saiu este bezerro.” Moisés viu que o povo estava desenfreado porque Arão os havia abandonado à vergonha no meio dos seus inimigos. Moisés ficou de pé no meio do acampamento e exclamou:” Quem for de Iahweh venha até mim!” Todos os filhos de Levi se reuniram em torno dele. E disse-lhes: “ Assim fala Iahweh, o Deus de Israel: “ cinja cada um de vós a espada, passai e tornai a passar pelo acampamento, de porta em porta, e mate, cada qual a seu irmão, seu amigo, seu parente…” Os filhos de Levi fizeram segundo a palavra de Moisés e naquele dia morreram do povo uns 3 mil homens. Moisés disse então: “Hoje recebestes a investidura para Iahweh, cada qual contra seu filho e seu irmão, para que Ele vos conceda a bênção.”



São três os principais momentos que pretendo evidenciar para tentar compreender melhor, à luz da Astrologia, esta passagem da Sagrada Escritura. Primeiro, a ira de Moisés que, o fez partir as tábuas da Lei escritas por Deus. Segundo, o acto de dar a beber o ouro em pó dissolvido em água ao Povo depois de fundir o ídolo. Terceiro, a ordem para matar! E tudo isto ocorreu depois de Moisés já ter tido acesso ao diálogo com Deus. Moisés não soube trazer a Casa IX à Casa III, a piedade que pediu a Deus que tivesse do povo não a teve ele quando regressou ao acampamento. Ali, diante da idolatração de Israel, Moisés agiu contra a mensagem recebida no alto do Sinai. Ter quebrado as tábuas no sopé da montanha assim que entrou no acampamento foi o primeiro grande indicio de que a Lei seria rompida! Obrigar o povo a ingerir o ouro em pó diluído na água e a ordem para matar foram as “gotas d’água”, o limite desta perversa ruptura. Uma das Leis de Deus era não matarás! Mas Moisés ordena que todo o acampamento se posicione. Que se juntem a si todos os que estivessem do lado de Deus e em seguida pegassem na espada e percorressem todo o acampamento para matar a seus irmãos que se encontrassem em adoração ao ídolo. O fanatismo espalhava-se! Moisés não entendera a mensagem de Deus! Quebrou as tábuas! Quebrou a Lei! Quem terá traído mais a Deus? O povo com a idolatria ou Moisés que partiu as tábuas ao mandar matar?! Acaso não estariam também aqueles que procuravam adorar o ídolo em busca de Deus? De forma errada, bem sei, mas procuravam! Eles queriam “ver-a-Deus”! Mais do que matar os seus corpos era preciso matar neles a ilusão de acreditar apenas no que se vê! Moisés não foi sensível a esta realidade. O seu ego, a sua personalidade era ainda muito descompensada, não soube ter compaixão! Seguiram-se 40 penosos anos no deserto como sanção depois daquele triste episódio.

A primeira grande tentativa de Israel viver o eixo Casa III/CASA IX; Casa IX/Casa III, acampamento/Sinai; Sinai/acampamento, tinha falhado! Concluo, portanto, que é difícil ascender nas nossas vidas da Casa III à Casa IX, ir de Gémeos para Sagitário, converter Mercúrio a Júpiter, no entanto, mais difícil é ainda vir depois da Casa IX para a Casa III, vir de Sagitário para Gémeos, usar o Mercúrio para expressar correctamente o Júpiter, sem fanatismos. Moisés tinha que partilhar no acampamento somente aquilo que Deus lhe tinha revelado e nunca a sua ira pessoal vinda do seu ego enraivecido pela traição do Povo. Moisés não era Deus naquelas circunstâncias mas agiu como se fosse! Confundiu a mensagem! Traiu o Sinai! Julgou o próximo! Mas como todos nós valemos muito mais aos olhos de Deus do que o nosso pior acto, porque somos dotados de uma Alma, a Vida sempre nos concede nova oportunidade. Assim fez com Israel, assim fez com Moisés, assim faz e sempre fará com cada um de nós pelos tempos sem fim para a Evolução da Humanidade. A Astrologia surge-nos neste e noutros contextos como “a Escrita-de-Deus” que nos pode trazer compreensão e Consciência. Como Linguagem Iniciática, Simbólica, Sagrada, Divina. Reveladora de uma Ordem Maior!


Em Deus
Ricardo Louro


Ricardo Maria Louro

 
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Ricky
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