Dor Dolorida
Fiz da dor algo tão atroz
que a transformei em algo distante,
do passado ou futuro,
mas nunca deste instante.
Eu a fiz encolhida, emparedada, feroz.
Eu a fiz doída,
eu a fiz como o grito vindo das ruas,
rompendo barreiras, engolindo o asfalto,
explodindo em becos lamacentos,
nas esquinas suadas, nos teatros,
eclodindo no chão de cimento.
Fiz com os pés molhados pela chuva fina,
no rugir da sussurrante tormenta,
com a boca enfastiada pela forte neblina.
E esta dor, eu transformei,
que ela, em mim, já não se aguenta.
Lepra negra em minha carne tão sofrida,
dor doída que preenche meus espaços,
suja-me com tua dor mais dolorida.
Venha a mim...
Embalar-me-ei nos teus braços.
Alexandre Montalvan