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Estrada

 
Caminhamos em silêncio pela estrada deserta e não nos vemos
Olhamos o chão como quem procura algo de indefinido e inatingível
E continuamos o nosso caminho num passo lento e arrastado.

Subitamente, olho em volta. Parece-me ouvir um rumor longínquo.
Os meus olhos ávidos percorrem a estrada uma vez mais.
Avisto uma forma que me prende o olhar, sem saber porquê.
É uma forma estranha, que caminha como eu, embora de forma muito mais inconstante.
Aproximo-me. Olhamo-nos nos olhos.

Algo me diz que o caminho vai mudar.
Levanta-se o vento, a chuva começa a cair, mas continuo a olhar.
É tudo tão repentino. As palavras escorregam-nos em cascata,
Formam um rio enorme que acompanha as curvas da estrada,
Até desaparecerem ao longe no horizonte.

Eu tomo consciência da mudança da forma em ambos.
Transformo-me a cada passo que dou e a cada palavra que construo.
Aos meus olhos, a massa vai-se modelando, ganhando cor
Vou percebendo o perigo que se adivinha.

Tarde demais.
O caminho não vai voltar a ser igual,
Os passos nunca mais vão encontrar o mesmo ritmo,
A massa não voltará ao anonimato.
E eu não voltarei a ter paz.

 
Autor
Anonymus
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2017
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Enviado por Tópico
Luz&Sombra
Publicado: 09/01/2008 22:46  Atualizado: 09/01/2008 22:46
Da casa!
Usuário desde: 01/10/2007
Localidade: Cantinho à Beira Mar Plantado
Mensagens: 410
 Re: Estrada
A estrada da vida é uma estrada de sentido único, não tem volta e, durante o seu percurso, vamos sofrendo transformações, das quais, só mais tarde, tomamos consciência delas. No entanto, nem sempre é tarde demais.

Gostei muito de ler o seu poema!

Beijos.