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Excelência seu doutor

 
Excelência seu doutor
 
Excelência seu doutor


Em uma pequena cidade
Pra banda do interior,
Um jagunço muito temido
O povo apavorou.

Quando chegou de madrugada,
Toda cidade acordou,
Seus compassas soltando fogos,
Em muito clima de terror.

Alto, magro e cabeludo,
Dava medo só em olhar,
Mas reunia toda cidade e disse!
Era candidato e a ideia iria finalizar.

Naquele exato instante,
Que o povo tudo escutou,
Alguns as pernas tremiam
Outros os olhos arregalou.

Uns já se convenciam
Que era eleitor,
Já levantava a bandeira
E gritava: Esse é meu vereador!

O povo apavorado,
Os que são eleitores conscientes,
Preferiram tomar uma pinga,
Para dormir mais quente.

Aqueles mais exaltados,
Não queriam acreditar,
Que tinha que votar no infeliz
Que todos veio atormentar.

A campanha logo começa,
Santinho pra todo lugar,
Os mas fervorosos até
A ele queriam rezar.

Quando recebeu em casa,
A foto do Valdemar,
Dona Serena foi logo no comitê perguntar,
Esse o santo que nós iremos votar?

O homem com voz abusada
Em tom alto a intimidar,
Com muita arrogância falou,
Sim, e nem queira contrariar.

Com os braços estendido,
Falou olha ai pessoa,
O dia está chegando,
Quem não votar prepare pra viajar.

O povo em alto soluço,
Não conseguiam disfarça,
Foi quando o delegado sabendo
Mandou chamar Valdemar.

Aqui não quero confusão,
Meu nobre, excelência seu doutor,
Sei que aqui todos já sabem,
Querem votar no senhor.

Então peço que entenda,
A comoção dessa gente,
Desse povo que o tempo todo,
Só votava com dinheiro na frente.

Foi quando Valdemar entendeu,
A agitação e situação,
Confessou que não era o candidato,
Veio cumprir uma missão.

Entenda meu delegado,
Vou dizer o que aconteceu,
Apenas vim comprar votos,
Pra eleger o patrão meu.

Diga-me o porquê no santinho,
Não tem a foto do então,
Nosso povo aqui é muito pobre
Por ti começou uma devoção.

Vou explicar diferente,
Que a foto sim é do Valdemar,
Mas ele se chama Irene,
A bicha não quis se identificar.

Naquele exato momento,
Muita gargalhada se ouviu,
A mascara de Valdemar ou Irene,
Em fim por terra caiu.



Cordel do poeta Elias Barbozza


Elias da Silva Barbozza


 
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Barbozza
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Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 11/10/2014 19:16  Atualizado: 11/10/2014 19:16
 Re: Excelência seu doutor
Ah Barbozza um poema cheio de humor centrado em políticas e políticos entre verdades/mentiras...seja como for há um fim para tudo com doutor ou sem doutor.
Magnifico poeta e quis entender assim se me permite.
bj


Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 11/10/2014 20:00  Atualizado: 11/10/2014 20:00
 Re: Excelência seu doutor
Gostei Barboza. Eu também já vi uma mascára cair aqui mesmo no site.
Interessante seu cordel.


Enviado por Tópico
gil de olive
Publicado: 12/10/2014 01:27  Atualizado: 12/10/2014 01:27
Colaborador
Usuário desde: 03/11/2007
Localidade: Campos do Jordão SP BR
Mensagens: 4838
 Re: Excelência seu doutor
Muito bom esse cordel, valeu vir aqui.Belo domingo.


Enviado por Tópico
Maryjun
Publicado: 12/10/2014 02:03  Atualizado: 12/10/2014 02:03
Membro de honra
Usuário desde: 30/01/2014
Localidade: São Paulo
Mensagens: 7121
 Re: Excelência seu doutor
Olá Barbozza,

Parabéns!
Um cordel
cheio de
verdade.

Abraços,
Mary Jun


Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 12/10/2014 12:26  Atualizado: 12/10/2014 12:26
 Re: Excelência seu doutor
A mais pura verdade que se estanca nas veias dos políticos, e da politica, onde o interesse é visível.


Enviado por Tópico
Semente
Publicado: 19/12/2014 12:01  Atualizado: 19/12/2014 12:01
Membro de honra
Usuário desde: 29/08/2009
Localidade: Ribeirão Preto SP Brasil
Mensagens: 8560
 Re: Excelência seu doutor
Excelente Cordel, poeta Barbozza, a expontaneidade está presente em cada verso!
Nota-se a coesão do início ao fim, em harmonia, sem perder o foco, mesmo para os mais experientes poetas cordelistas, isso é tarefa difícil.

Nascido em Portugal, o cordel ganhou força no Brasil, em especial no Nordeste, e é por nós brasileiros muito apreciado por ser uma manifestação de criatividade, senso de humor e da capacidade crítica do povo brasileiro. Penso que do povo português, também!

Parabéns mil!

Abraços