Poemas : 

Inscrição Duvidosa

 
Sinto a Alma triste, embriagada
de um balsamo tenso e sem vida,
minha vida ao tormento vai rasgada,
vai oculta, rasgada e perdida,
dia, noite e madrugada!

Há dias que me enchem, que me vivem
de solidões lacústres e ardentes,
vozes tristes que me dizem:
" não almejes ò mortal o que não sentes!"
Velhas vozes do restelo que ainda nos maldizem!

E quando a morte me trouxer esse momento,
o de dormir sem saber onde acordar,
que não haja em meu ser ressentimento,
que não haja ao pè de mim triste-chorar,
que haja apenas liberdade e esquecinento ...

Não quero ao pè de mim ninguèm fingindo
que a dor lhe assalta a Alma ou o Pensamento,
quero gente ao pè de mim cantando e sorrindo,
num puro, sagrado e eterno sentimento!
Que eu me irei ao ceu, subindo ... subindo ...

Quero-me ir em silêncio ao marmore jazigo,
sem prantos, sem dores ou lamentos,
quero ir, contigo, a meu lado, dormido
em panos d'oiro e carmezim de cantos ...
Não abandones, meu amor, este meu sonho antigo!

Que a morte me leve a sòs sem ninguèm ver,
que nada me perssiga, nem pena nem adeus,
quero deitar-me no leito e adormecer,
rasgar a vida, morrer, subir aos cèus,
sem dor, silvas ou tormentos padecer!

Pois fiz da vida uma busca e fui aborto,
procurei saber e percorrer o meu caminho,
mas fui Alma que viveu alèm do corpo,
um fado, um poema, um destino,
triste sombrio e absorto ...

Sempre quis que a morte ao vir a mim
encontrasse alguèm sabido em liberdade,
procurei, estive aqui, disse não e disse sim,
pr'a que a morte à hora da verdade,
não viesse matar um morto ... e foi assim!

Ricardo Louro
Na Praça do Geraldo
em Èvora


Ricardo Maria Louro

 
Autor
Ricky
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