Prosas Poéticas : 

O nascimento do prazer [trecho] (Clarice Lispector)

 
Open in new window

O prazer nascendo dói tanto no peito que se prefere sentir a habituada dor ao insólito prazer.

A alegria verdadeira não tem explicação possível, não tem a possibilidade de ser compreendida – e se parece com o início de uma perdição irrecuperável.

Esse fundir-se total é insuportavelmente bom – como se a morte fosse o nosso bem maior e final, só que não é a morte, é a vida incomensurável que chega a se parecer com a grandeza da morte.

Deve-se deixar inundar pela alegria aos poucos – pois é a vida nascendo. E quem não tiver força, que antes cubra cada nervo com uma película protetora, com uma película de morte para poder tolerar a vida.

Essa película pode consistir em qualquer ato formal protetor, em qualquer silêncio ou em várias palavras sem sentido. Pois o prazer não é de se brincar com ele. Ele é nós.

Clarice Lispector, In: A descoberta do mundo, Crônicas, p. 159.

Imagem: Vale dos Dez Picos, Lago Moraine, Canadá.
 
Autor
AjAraujo
Autor
 
Texto
Data
Leituras
965
Favoritos
0
Licença
Esta obra está protegida pela licença Creative Commons
3 pontos
1
1
0
Os comentários são de propriedade de seus respectivos autores. Não somos responsáveis pelo seu conteúdo.

Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 09/03/2015 10:47  Atualizado: 09/03/2015 10:47
 Re: O nascimento do prazer [trecho] (Clarice Lispector)
O prazer da vida, pela vida , ela é constituida pelo nosso sorriso, algo planta em nosso ser, onde a felicidade é estar bem conosco mesmo, fazdo dos momentos as mai marvilhosas das alegrias