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Poema para os homens futuros

 
Tags:  natureza    memória  
 
A grama era verde,
O céu era azul
E quanto mais ao sul
As flores rebentavam,
Todos nós nos rejubilávamos
Porque ainda havia flores nos canteiros.

Havia relvas, matas, florestas,
Montanhas verdes
E imensidões cerúleas
Que todos os dias
Rasgavam-se ante os olhos
Para nosso prazer e visão.

As abelhas zuniam nas colméias
E fecundavam azaléias e bromélias,
Levando por toda a parte
A cor, o olor e o estio
De verões e primaveras,
De prados e campos
Onde ziniam as cigarras.

Havia a grama e o céu
E como era verde!
E como era azul!
Sobre lírios e girassóis
Perfeitos e exatos
Para nosso deleite e agrado.
Odoríficos, exalavam as fragrâncias
Mais intensas e desejadas
Que nos faziam amar
Mesmo diante da morte e do nada.

Os rios corriam com a força dos primeiros anos,
Abrindo cânions e vales,
Formando deltas e bacias,
Pântanos e lagos
Onde se ergueram
Cidades, fortalezas e palácios.

Os glaciares eram muito brancos e nítidos
Como o são os mares de gelo de Europa,
Lar de ursos e focas
E onde são mais brilhantes as boreais,
O luzido das polares
Sob intensos ventos austrais.

Grossas massas de gelo
Expandiam-se e recuavam
Deixando na rocha sulcos profundos,
Testemunho das eras,
Geleiras e rasgos
A esculpir penhascos e geografias.

Havia um tempo
Antes da dúvida e do medo,
Antes do chão calcinado de indústrias,
Do degelo e das fontes que secaram;

Havia um tempo
Em que o ouro só pertencia às estrelas
E as matilhas uivavam e ganiam
Para lua como nunca se vira antes
Enquanto Lucy contemplava o céu
Repleto de diamantes;

Em que enormes lagartos e feras
Deram origem aos pássaros
E peixes e insetos marinhos,
A anfíbios e sapos,
A besouros e térmitas.

Havia um tempo
Em que a inocência não era mais
Do que eras e eras
Que ficaram para trás
Junto com deuses da terra e do ar
E com um mundo ígneo,
Natural e físico.

 
Autor
Felipe Mendonça
 
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Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 12/04/2015 11:16  Atualizado: 12/04/2015 11:16
 Re: Poema para os homens futuros
talvez esta memória nossa, seja um futuro possível, não para nós homens contemporaneos e civilizados mas de visão limitada, mas para outros homens, num outro presente, um presente mais arejado, com menos barreiras, com menos sistemas, onde os novos homens estejam menos cheios de si e dispostos a abraçar outros homens e o mundo, com a mesma obstinação que os homens de hoje abraçam o seu futuro vazio...abraços