Contos : 

Sobre Montanhas e Sobre Vales

 
Há muitos anos, existiu uma terra chamada por seu povo de Agharta. Claro que, com o passar dos milênios, isso se tornou uma lenda, e fora apagada da memória humana por um período longo de tempo. Foi feito dessa forma porque o ser humano atual tende, e precisa pensar, que foi o único a habitar a Terra. Mas não apenas o único, mas o mais inteligente, capaz e engenhoso dos seres. Tudo isso é devido ao ego superdesenvolvido da humanidade atual. Mas já foi diferente, e houve uma época em que aquilo que hoje se chama de subconsciente tinha a sua supremacia em relação ao ego, e por isso, muitos conhecimentos perdidos hoje eram compartilhados, os fenômenos psíquicos eram abundantes, e os homens, realmente muito mais capazes.
Isso não foi num passado recente, de centenas ou milhares de anos. Mas num passado de milhões de anos atrás! Ah claro, é lógico que a história está errada. Muito dos conhecimentos que compartilham estão errados, e não seria diferente com a sua história. É só imaginar que a história é escrita por homens, e geralmente homens que estão no poder, então, eles poderão escrever o que bem entenderem. Imaginem, por exemplo, se os nazistas houvessem ganhado a guerra, como seria o livro de história deles? Contariam realmente tudo, ou só aquilo que os interessassem? Apagariam as partes feias? Poliriam as que os interessassem? Criariam heróis, mitos? Pois é assim o conhecimento atual, mas não naquela época. Naquela época não havia segredos, não tinha necessidade de haver. Todos pertenciam há um só povo, havia uma só porção de terra, e eles eram felizes, realizados e sábios. A tecnologia humana atual perto da de Agharta não mereceria nem ser mencionada. Havia uma mescla de técnica mecânica com o que chamam hoje de magia. Mas naquela época era ciência também, pois se temos conhecimento e entendimento, então estamos cientes e temos ciência.
Os humanos de Agharta, para protegê-los da constante queda de meteoritos daquela época, devido à explosão de vários cometas próximos a marte, e que inclusive criou o grande cinturão de asteroides além do planeta, criaram os Titãs. Os Titãs eram seres gigantescos feitos de rocha, vidro, areia e argila. Eles eram tão grandes que constantemente varriam as nuvens de seus rostos com as mãos. E eram feitos com tal arte e engenho, que a beleza de suas formas refletiam por toda a sua estrutura. Eles envergavam a mesma forma que os habitantes de Agharta, os seus homens e suas mulheres. E eram controlados pelo pensamento. Durante anos os titãs de Agartha andaram pela Terra, e dos confins mais distantes da Terra, por vezes se podia ver, um ou outro, atravessar o horizonte em sua marcha lenta pelo mundo. Vigilantes, com as faces acima das nuvens, desoladoramente enormes.
Uma discussão começou a tomar corpo, um dia. Dever-se-ia ser dado a eles uma inteligência alto-governante, ou como chamam hoje, inteligência artificial? Pois que havia uma forma de dar a eles uma cognição lógica- proporcional-funcional, mas não havia como, por exemplo, dar-lhes imaginação, abstração, sonhos, consequências e sentimentos, qualidades completas da inteligência humana. A discussão sobre lhes serem dadas as qualidades da cognição venceu o debate, e não tardou o dia em que todos os titãs estavam cônscios de si mesmos.
Há uma premissa perfeitamente lógica que afirma que o mais forte deve vencer e governar. É perfeitamente evidente a uma inteligência que só disponha de lógica pura e simples. Não há o que contestar! Faltava aos titãs o que sobrava aos humanos de Agharta: Alma.
Diante dessa visão perfeitamente lógica e matematicamente evidente, os Titãs empreenderam uma jornada de conquistas e destruição em busca de domínio.
Os seres de Agharta partiram, de nada valia uma Terra assolada por meteoros e por gigantes. Mas antes de partirem, deixaram contra-partes de si mesmos, clonadas, e com as característica intelectuais que possuíam os titãs. Pois é mais fácil vencer um inimigo se você pensar exatamente como ele. Quem sabe, um dia então poderiam retornar, quando os gigantes houvessem sido vencidos.
Passaram-se as eras. A civilização gloriosa havia sido destruída, e só restaram pó e lembrança. Os gigantes pereceram com o tempo, pois o que os mantinham “vivos” era a energia vital daquele povo maravilhoso. E a história foi sendo contada de boca em boca, até de distorcer e virar lenda.
O tempo deitou-se sobre os Titãs deitados no horizonte. Hoje, só de longe lembram as estruturas fantásticas que foram um dia. Uma ou outra montanha num vale, consegue trazer à memória o ser gigantesco que um dia foi. Uma obra humana criada para servir e proteger os homens daquela época, e que por uma peça do destino, quem sabe, recontou o destino de Agharta.
Nos vales abaixo, cresceram e se desenvolveram aqueles que os homens de Agharta criaram para combater os gigantes de pedra, fogo contra fogo. E embora os seres de Agharta tenham encontrado um lugar tão cheio de predicados quanto a sua antiga terra, eles prometeram um dia voltar, se toda aquela insensatez um dia cessasse.
Finalmente chegara o dia de sua volta. Olhem para o céu, e saberão do que estou falando.


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London
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