Crónicas : 

Quem está ferido por flecha poderá ler os epitáfios

 


Quem está ferido por uma flecha nos pés do monte Palomar jamais terá a mesma voz tal como quando balançava numa rede junto ao alpendre da casa senhoril. Mais ainda, que mesmo estando rodeado por cumes altaneiros, a hora da morte chegará também para esses. Ai, gritando palavras de ordem, como espíritos na noite pairando sobre a cabeça de operários enfurecidos com o corte das horas extra, como uma jovem triste e sonhadora, olhará aquela luz distante, decerto com o corpo coberto com uma burca azul.
Tão doce assim, pode levantar-se e começar a suspirar antes que morra vendo desejos animados no aparelho de televisão. Vai acabar ficando com os lábios azuis, tantos bafejos foram os remanescentes daquele primeiro concurso de patinação no gelo. Tudo tão assustador quanto andar numa duna vestido de gaze cirúrgica. Pode ser ela perfurada durante o discurso de boas vindas à tristeza. Tão perturbador quanto a reprovação da saudade, gelada e frígida cumprindo a maldição através do fosso. E poderá passear calmamente em qualquer cemitério, entre murtas e ciprestes, lendo todos os epitáfios que desejar.

 
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FilamposKanoziro
 
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