Poemas : 

A morte dos cristais

 



Com a morte dos cristais prosperaram as diagonais,
apoiadas em cadeiras chãs, exaustas mas despertas;
pelas cidades góticas exibindo panteões medievais,
lendo alfarrábios no viés de pálpebras entreabertas.
Restaram apenas manuscritos no cilindro redondel,
batéis de álcool e sangue burilando o plano da placa,
mas excedeu decibéis no soar dos guizos da cascavel,
sequer permitindo fiel a leitura fugaz após a ressaca.

A maior, alguma esperança da reciprocidade sadia,
alterando hábitos, havia nos condutos auriculares,
o teor da mensagem inserida no envelope já ia,
selado a comunicar alguém talvez só dos pesares.
Porém, se havia alguma coisa a noticiar não sabia,
da conferência de títulos fixados no senso comum
mensagens escritas recordam Julieta e a cotovia,
cingindo de ofícios relações ilegais até o desjejum.

Do rol das refeições disponíveis saltavam aos olhos,
as representações reduzidas da superfície da Terra,
passadas por cardeais militares alertas de abrolhos
a ninguém consentido, mas um ou outro sempre erra;
pois certificada a anulação da aquisição de direitos,
nos termos rasos das leis que regem a vida da nação.
Já farta na quarta casa aparta a lagarta dos eitos,
roendo como traças casacos de marta em ebulição.

Nos azes do baralho místico se lia prodigo cardápio,
bilhetes epistolares grafados em retalhos de micarta;
na época moravam quase todos perto do esculápio,
bem conheciam rotas e hábitos dos bordeis de Jacarta.
Foi para adentrar à tenda que desenhou a fina linha,
nascida da palma da mão paralela aos pés da galinha.
Vertia falaz no bucho um frasco de elixir paregórico,
acostumado a sair sozinho para voltas exíguas no lago,
alegrias de beber observando espetáculo alegórico
- diziam ser louco dentro de redoma de ouro aziago.

Então, animado, trazendo estrela de topázio no rosto,
desde então não bebeu a raiva por precisar competir,
tanto que por final loa gloriosa escreveu em agosto,
não reconheceu talento do que era a pele do tapir,
deixando para trás atônitos e extasiados roqueiros,
de fraque, sem meias, mas acurados nos penteados.
O poeta de olhos de vidro só viveu os dias inteiros,
catando com lupa na vida terrena ricaços arruinados.

Nada batendo em contrario, mantendo sorriso epistolar,
ele mesmo mumificado em si, mesmo trilhando atalhos,
deixou a carne no chão indecomponível razão a alertar,
a maior valia dos dias ásperos nos canos dos borralhos.






 
Autor
FilamposKanoziro
 
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