DESTEMPERANÇA

Obrigado, João Marino.

A ideia de a felicidade ser vendida em doses está muito presente no mundo contemporâneo, sobretudo depois de muitos médicos e bioquímicos passarem a defender "curas" a processos mentais causadores de sentimentos dos inadequação que quase todos experienciamos...

Não digo que estejam errados de todo e mesmo concordo que em alguns casos o balanço bioquímico do organismo se faz necessário para minimizar sofrimento. Todavia, o comportamento humano não devia ser nivelado em padrões fora dos quais o indivíduo é fatalmente condenado à autodestruição ou à exclusão. Deveríamos também, enquanto coletividade, aprendermos a ser mais tolerantes com a diversidade do comportamento humano, ao invés de afirmar que "o ser humano é pura química", logo, necessitando de álcool e drogas -- lícitas ou não -- para não entrar em colapso.

É isto.

Abraços, RicardoC.

De facto, Lucineide -- apesar de venderem pílulas e bebidas de todos os gêneros -- a felicidade não se alcança por remédio. O que se alcança bioquimicamente é o anestesiamento do organismo para que a vida não doa. Há uma música excepcional do Pink Floyd -- Comfortably Numb -- cujo refrão-conclusão diz isso explicitamente:

"There is no pain, you are receding
A distant ship’s smoke on the horizon
You are only coming through in waves
Your lips move but I can’t hear what you’re saying
When I was a child I had a fever
My hands felt just like two balloons
Now I’ve got that feeling once again
I can’t explain, you would not understand
This is not how I am
I have become comfortably numb"

Anestesiados -- isto é, sem sentir dor nem qualquer outra coisa -- cria-se uma cortina de insensibilidade que têm dado a sensação de conforto que, vez ou outra, tem sido confundida com felicidade mediante paraísos artificiais.

É isto.

Abraços, RicardoC.