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O grande caderno azul - LXVI

 
LXVI

Nada de novo no front, apenas trabalho e contando com a ajuda do Senhor. As barras torcidas, assovio aquela musica de um dos filmes de Chaplin. Mozaniel passa do outro lado carregando uma escada.Ontem a noite depois da compra do pão voltei com setenta centavos e mandei colocar cachaça e ai começou tudo outra vez em parceria com seu Jailton Pé-de-pato montamos nossa tenda na calçada em frente ao banco dos moto-taxistas, enquanto a moçada guardava as frutas do sacolão do Berette. Acordei um pouco ruim, mas dar para trabalhar e sonhar um pouco.Os casais felizes e eu na minha amarga solidão,penso em Dona Van, em Madame Rameuax - fui um idiota,aliás continuou sendo.
As grades na reta final,penso em dar um ferro na dona delas. Ferra-la ao menos vinte reais. Lendo o começo deste caderno, deu-me vontade de digita-lo. Será o nome bem sugestivo "O Grande Caderno Azul". Caminhões betoneiras passam velozmente, caçambas carregadas de barro - estudantes em bandos vindo de seus colégios. Chuvisca. Vou aonde a patroa dar um ferro.
Como era de esperar, ela não tinha. Tudo bem a vida continua, melhor assim. ferrei Seu Carlos,o borracheiro que também não tinha. O estômago com fome, lá em casa a situação naquela de sempre,o rango deve ser fraco. Agua do buraco transbordando. Oh! Deus de misericórdia, tende piedade de nós.

Meio-dia
Como era de esperar, fui expulso do meu sofazinho por ele, o 'filho' - que esta deitado nele com a maior cara de pau. Quero ver quando vai cair a ficha e eles vão sustentar esse rapaz. Agora nem posso mais assistir televisão deitado no meu sofazinho, vai eu reclamar alguma coisa, ainda estarei errado. daqui a pouco vão introduzi-lo neste quarto, mas cedo ou mas tarde isso com certeza vai ocorrer. Mas Deus é bom. cara de pau - como tem pessoas que não tem bom senso. Ele sabe que ali é o meu canto. Aos poucos vai se arvorando como uma erva daninha, tomando conta de tudo. A televisão é só dele, assiste e com anuência de minha beneplacida cunhada que é enceguerada por ele. Nunca vi alterar a voz é sempre baixa. Antenor chega todo molhado e vai perguntando:
- Seu Euzebio tá dormindo?
Na Praça do Bacurizeiro,um grupo de garis faziam a limpeza. Alan Black bêbado procurando confusão com Jamanta ou qualquer um que cismasse. Ficarei isolado no quarto onde durmo. Deitado na cama, a qual não me pertence releio com atenção a grande obra-prima do gênio russo Tolstói "Ana Karenina" - o quarto será o meu refugio, antes que 'ele' invada. Vou almoçar a barriga ronca.

Obrigado Senhor pelo almoço maravilhoso - frango assado, feijão e arroz para complementar um banana e uma laranja. Volto pra meu sofazinho.Ele esta no quarto do 'pai'.Larissinha me devolve "O Diário de NIna". Digitei as primeiras folhas deste caderno, enquanto ouvia Mozart, Vivaldi, Tchaikovsky e Bach, depois assisti uns vídeos sobre reatores nucleares. O governo anuncia a liberação de verbas para projetos que nunca sairão do papel, fundo eleitoreiro. Embromação.


 
Autor
r.n.rodrigues
 
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Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 17/05/2016 10:39  Atualizado: 17/05/2016 10:39
 Re: O grande caderno azul - LXVI
Belo almoço. Frango assado era a delícia da minha infância. Meu pai me levava a um sítio muito simples onde comíamos em mesas e bancos compridos como numa cantina comunitária. Era minha refeição preferida e acontecia de 15 em 15 dias.
A vida dá muitas voltas e meu pai começou a frequentar restaurantes refinados. Mas nunca mais senti um sabor que se comparasse ao daquele frango.

Abraço