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Amantes clandestinos

 
A noite estava calma, estrelada e a Lua iluminava o chão e o frio que se fazia sentir. Queria andar depressa, encurtar a distância mas a vontade não prevalecia perante as forças. É que o desejo era tanto que lhe consumia todas as calorias. Enquanto corria ao seu encontro, o corpo transpirava um só sentimento: - Ansiedade! Numa tentativa, um pouco parva, um pouco ingénua, deixou-se levar pela embriaguez do momento. Queria imortalizar qualquer coisa que lhe servisse de elo de ligação entre a realidade e o sonho. Talvez o vício se deixasse consumir... talvez a memória mártir do caminho fosse o beliscão para poder crer! -Sim! -Verdade! -É um encontro! E a adrenalina subia... e as pernas tremiam... e no peito aquele aperto tolo... -E se não vai?! -Se não aparece?! -Se não responde ao apelo?!... se o caminho fosse em vão... se... se...
As luzes dos carros, o ladrar dos cães, as pessoas que passavam, tudo!... era tudo insignificante. Ia ao encontro do ser que teve a capacidade de despertar em si aquele sentimento! Fogoso! Confuso! Urgente! Não sabia sequer, se realmente se encontrariam, muito menos quando surgiria uma nova oportunidade. E todas essas incertezas faziam daquele coração uma bomba. Uma pequena grande bomba andante!
Fumou um cigarro, fumou dois... e, trinta minutos volvidos, chegava ao local combinado! -Estou a chegar! -Posso?! - Estás aí?! Antes de ter tempo de esperar pela resposta avistou ao longe um vulto negro. Uma sombra impaciente, cabisbaixa, ansiosa, em passos largos para lá e para cá. A coragem falhou por momentos. O chão abriu debaixo dos pés! O céu desabou! Mal se olharam. Falaram até se esgotarem todas as perguntas... até o beijo não se conter mais. E quando veio o beijo foi o fim do mundo, o princípio do prazer, a união da alma e do corpo! Mataram saudades! Finalmente! Conseguiram! Sôfregos e surpresos! E depois do amor veio o silêncio...e depois do silêncio, o adeus! Apartaram-se tal e qual como se uniram: ansiosos! Inseguros e incrédulos! Nenhum dos dois sabe se voltará a ver o outro. Escondidos do mundo, apenas a Lua fora testemunha do seu amor. Porque naquela noite foram amantes, naquela noite e em todas as noites que se reviverem. Podem nunca mais se encontrar na vida mas serão para todo o sempre amantes solitários... Amantes clandestinos!

 
Autor
Carmen Palmeiro
 
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Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 02/03/2008 12:10  Atualizado: 02/03/2008 12:10
 Re: Amantes clandestinos
Conto de bom recorte literário. parabéns.
henrique pedro