Contos : 

Não precisa ter medo da morte

 
Quando eu nasci, não entenda mal as minhas palavras, cheguei literalmente em merda e em sangue. Essas são verdades que ninguém gosta de admitir. Mas, meio que como um "recado", uma prévia do que estava me esperando, foi assim que cheguei ao mundo. Lembre-se, a realidade se comunica com símbolos eternamente compreendidos. De todas as vezes que nasci, vindo rico ou pobre, importante ou esquecido, sempre cheguei dessa mesma maneira. O processo de nascer é altamente traumático, complexo e inesquecível. Você é avisado, desde cedo, em que terreno está pisando.
Claro, precisamos de motivos para seguir em frente, e pensar diariamente na realidade dura e contundente da vida não ajuda em nada. Ninguém gosta de admitir que vivemos numa selva humana, disfarçados de civilizados. Ora, os seres humanos aqui são tão predadores, cruéis e assassínios, tanto quanto julgamos serem os animais mais selvagens. Enganamos, roubamos, traímos, invejamos, odiamos... para viver na sociedade é preciso ter artimanha, ser astuto, implacável, frio, oportunista. E não estou falando da escória da sociedade. Estou falando de pessoas comuns e que sorriem, mas que em seus empregos, relacionamentos, amizades, afazeres... comportam-se assim, camuflando ou não este comportamento. Se fosse civilizada essa humanidade, como supõe ser, as leis não seriam obrigatórias, e a sua religião não precisaria de um inferno. Mas, enfim...
Venho aqui dissertar sobre o irracional medo da morte. Você morre todo dia, e este seu corpo atual estará morto em sete anos, mesmo se você ainda continuar aqui. Olhe-se no espelho... sei que sabe está diferente agora, diferente do que foi há sete anos. Onde está aquele corpo? Você está vivo agora sobre um escombro de células mortas, e que vai descartar assim que tomar banho. Você morre quando dorme, você está morto, quando alguém chega atrás de você e toca em seu ombro e lhe diz: "Hei, estou falando com você, parece que está no mundo da lua"... então você "volta a vida".
Vocês criam palavras apenas para limitar, onde necessariamente nada existe. Morte e vida são só fases da existência. É como olhar para a esquerda ou direita com o mesmo pescoço. A diferença entre está morto e estar vivo, restringe-se no tempo maior em que passa focado em outra realidade. Sentado em sua cadeira agora você se foca em outra realidade, perceba ou não isso. Quando está distraído a sala ao redor de você desaparece, e de repente você se pega numa praia em pleno quarto. Até que de repente, algo o chama de volta à sua "realidade". Morrer é só um intervalo maior entre estar focado nesta, ou naquela. O bem e o mal também não existem. Veja, um soldado que mata na guerra, será um herói para os seus, e um vilão para os inimigos. Independente se ele tenha ou não matado, se ele tenha ou não usado a força contra o mais fraco. Agora, o mal é bom? Bem, se você acha construtivo e justificadamente evoluído abusar do mais fraco, destruir o que você não pode criar, e disseminar a desordem quando tudo existe por uma ordem, então ai é com você, e terá que lidar com as consequências mais tarde. Porque tudo o que fazes gera uma consequência. É algo natural, pois as ondas reverberam.
Conceitos engessados demais nessas duas constantes opostas pode fazer você justificar um mal pelo mal em si. Pode fazer você criar ídolos e instituições que lhe escravizarão ao invés de libertar.
Então, esqueça conceitos engessados. Esqueça opostos. A realidade é um pouco mais complexa do que isso. E ela não termina naquilo que você chama morte. Na verdade, a existência focada do outro lado da realidade física é muito mais brilhante, mais expansiva e muito mais cheia de possibilidades do que pode sonhar. Afinal, se parar um pouco que sejas para pensar, o natural é estar "morto". Veja bem porque: o universo físico que você conhece, a Terra que você diz amar, apesar de não cuidar nem um pouquinho dela, tem poucos anos frente ao universo e à sua galáxia. Ela é um bebê frente e eternidade. E onde você esteve esse tempo todo, enquanto o universo seguia a sua existência? Já parou pra pensar nisso?


j

 
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London
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