Poemas : 

A Linguagem Dos Anjos

 
Cai a tarde num quadro fantástico.
O sol suspenso em nuvens de espumas
Fazendo ser espelho as águas do riacho
Beijado por plantas de espantosas verduras
Que exalam eflúvios balsâmicos raros.

O horizonte em cirros de escarlates colorações
Servindo de fundo para o vôo em vértice das aves
Que num balé silencioso, levadas pelas monções,
Se vão a procura de campos floridos e suaves.

Do lado de fora uma luz intermitente perpassa uma nesga
Da cortina.
Mas ninguém sente medo nem sabe discernir o que é bem
Ou Mal.
Gotículas deslizam serelepes pela superfície de cristal.
Em merecidos repousos, se vão os viventes do dia.


Deixam as silhuetas dos montes mineiros
Os mesmos eflúvios balsâmicos que se derramam
Pelos campos cobertos de borboletas e cores;
De besouros felizes beijando as corolas das flores...

Bóia no horizonte o astro-rei
Num espetáculo fabuloso e repetido
Fazendo ser mais rubro o ocaso
E o algodão das nuvens mais prateados.

Efêveras de ouro
Curtida em couros crus
Pousam pelo poente
Onde o sol desmaia...

Essências refrigerantes
Exaladas dos pampas do sul...


É que ainda não aprendi a linguagem
Dos anjos
Nem os cantos dos antigos serafins.

Em Liliput não foi eu aquele gigante
Ou uma besta fera japonesa de filmes de terror
Não fui eu que vadiei pelo inferno de Dante
Não lancei perfumes nas festas picantes
Quando eu era um arlequim também pierrô.

Não aprendi técnicas chinesas dos mandarins.
Por isso minha forma duvidosa e incolor
Por isso meu sorriso supérfluo de marfins
Minha língua de trapos e de cetim
Esse meu canto mescla de carinho e dor.

É que sou pássaro novo a espera do farto
Alimento... Por um fazedor de poema nato...
Apenas mais um cantador.

Chega a noite e um novo espetáculo se cria
Agora dormitam alguns homens e borboletas;
No céu uma mão acende miríades de estrelas
Que em nada perde para a beleza do dia.

Num quarto fechado desliga-se um chuveiro.
A meia-luz uma semi-deusa desponta no portal
Caminha rumo à cama num desfile sensual
Fazendo um homem arrepiar o corpo inteiro.

Os cabelos molhados balanceiam e alguns pingos
Deixam cicatrizes no alvejante lençol.
Uma fêmea arrasta-te tal qual uma serpente do Saara
Mordendo fronhas e travesseiros.
Nesse instante o mundo todo para.
Para-se o mundo e o tempo.
Dois seres se perdem num jogo gostoso, entre beijos,
Libertando libidos e os mais reclusos desejos.

Sexos se amam e se violentam num vai e vem eterno.
Suores se mesclam com as essências soltas pelo ar.
Dois corpos se fartam e se matam na arte do amar
Tendo de testemunhas apenas as estrelas do Universo


Gyl Ferrys

 
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Gyl
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