Poemas : 

Montes Cerrados

 
Espero até que sejas um só dia
nas minhas intempestivas noites
de rebeldia

Ser-te-ei raízes, folhas secas
Outono verde à abertura da janela

E tu saber-me-ás, então, arrebatado vento
laminado ao centro
na crueza aguda dos muros.

A memória é um fogo ateado nos montes cerrados,
mas o tempo passado
a gastar-se no sobrado
no ranger das tábuas, velhas o tempo todo,
são um som maduro, obstinado

onde ser-me-á suave um par de asas brancas,
ainda fechadas, sobre o Maio lilás
nos caminhos das urzes.

Rasgarão o céu as primeiras trovoadas
por desconhecer como cortar as noites pela metade

neste caminho longo, neste sentir-te agora.

Dakini



Maria Al-Mar
Enquanto Mulher


- Ilusorium
- Mira(douros)
- Modus-Informe
- Uivam os Lobos
- Mulheres de Areia

 
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Dakini
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Enviado por Tópico
Rogério Beça
Publicado: 30/07/2018 07:29  Atualizado: 13/08/2018 01:07
Usuário desde: 06/11/2007
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 Re: Montes Cerrados
"Este sentir agora" marca o poema feito de emoções violentas que se refletem em vários versos de muitas das suas estrofes.
Há inclusivé uma maldição, lançada pelo sujeito poético enquanto se amaldiçoa.
"...Ser-te-ei raízes, folhas secas
Outono verde à abertura da janela..."
Outono verde soa-me a antítese, pois misturam-se símbolos de amadurecimento com juventude, como se a natureza se tornará algo de irreconhecível para quem abrir a "janela". Ou de ser só uma troca de hemisférios do globo terrestre, onde no mesmo dia do ano pode ser primavera ("verde") e "outono".
Ser raízes e folhas secas, sustentação e sustento que termina.

A "memória" pode ser devastadora, como esse "fogo ateado nos montes cerrados" mas, como o poema diz, ensina lembrando-nos que tudo aquilo que nos marca, vai passando e fica.

Gostei Maria também pela qualidade da linguagem, pelo cuidado na edição, e por ser, na minha opinião um poema muito forte.

Bj