Poemas : 

no futuro do indicativo

 
Encontrarás

uns tantos, uns pouco,
alguns
que procurem o sopro em cada esquina,
cantem
a tabuada salteada.

Vários
verás

à mão de semear, ao pé da letra,
ali,
escutando esse assédio de boca
em boca,
a voz em desatino, destino.

Terás

o estio de agosto no peito,
armas como canteiro,
rugidos das feras
que urgem
em ti.

Serás
o que sempre foste,

o sorriso na escuridão,
a sombra que pede a luz,
o fio-de-prumo no fumo,
a labareda viva do lume,
o perfume que não se mede.



Sou fiel ao ardor,
amo esta espécie de verão
que de longe me vem morrer às mãos
e juro que ao fazer da palavra
morada do silêncio
não há outra razão.

Eugénio de Andrade

Saibam que agradeço todos os comentários.
Por regra, não respondo.

 
Autor
Rogério Beça
 
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Enviado por Tópico
RoqueSilveira
Publicado: 08/08/2019 08:25  Atualizado: 08/08/2019 08:25
Membro de honra
Usuário desde: 31/03/2008
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Mensagens: 8104
 Re: no futuro do indicativo
Olá, venho agradecer e retribuir o comentário no meu poema ampulheta, não tanto pelo elogio mas pelo escalpelizar do sentido e da construção. Realmente embora não pense demais na construção tento dar sentido através dela ao conteúdo.
Então analizando este teu poema começo por Di, er que gostei muito da última estrofe. As imagens são belíssimas na sua finalidade, dizer da luta da vida. Mas entendo que o homem é mesmo assim, na sua maioria vive em bolhas e não conseguem sair desse seu destino. Não sei se interpretei bem, é a minha.
Quanto às palavras usadas notei ali um gerundio que se calhar não usava. Quanto a mim gerundio indica uma acção mais prolongada no tempo, como quando alguém passa passando. Assim como a diferença entre escutar e ouvir. Embora eu não trocasse a sonoridade do escutando por ouvindo.
Pronto, aqui fica uma opinião ressaltando que gosto do que escreves, sempre muito interessante. Obrigada